“Diálogo com mulheres negras: atuação política e transformação social” foi tema de uma mesa de debates, na noite desta quinta-feira, dia 22, no Instituto de Ciências Humanas (ICH) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O evento, proposto pela professora do Departamento de História da UFJF, Fernanda do Nascimento Thomaz, integra a Semana da Consciência Negra 2018, cujas atividades prosseguem até 30 de novembro.
Confira a programação completa, organizada pela Diretoria de Ações Afirmativas, aqui.
A mesa de debates foi aberta, pela Especialista em História da África e integrante do Grupo de Artes Cênicas e Políticas ‘As Ruths’, Denise do Nascimento Santos, com a leitura de um texto sobre racismo e seus efeitos, de autoria de Giane Elisa Sales de Almeida.
Além de Denise Santos, compuseram a mesa a graduada em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e empresária, Jaciana Melquíades; a doutoranda em História pela UFJF e professora da Rede Municipal, Giovana de Carvalho Castro; e a psicóloga e especialista em Saúde Mental, Naiara Santos e Silva.
“A universidade é um espaço que nunca me acolheu, que sempre me fez sentir fora de casa e eu sempre tive certeza de que eu deveria ocupar este espaço, para ser o que realmente eu queria ser na vida. Estar na universidade me fez entender que eu poderia ser mais útil, abrindo portas para outras pessoas negras. Nós não nos vemos nos espaços corporativos e da universidade, e não conseguimos muitas vezes sonhar com esses espaços. Para nós, pessoas negras, estar na universidade é fundamental”, ressaltou Jaciana, formada na UFRJ.
A historiadora, que tornou-se empresária após a maternidade, destacou como o racismo e as suas consequências limitam as oportunidades de negros e negras desde a infância. “É fundamental que as pessoas não negras compreendam que o racismo existe. Crianças negras têm seus sonhos limitados por realidades extremamente duras. Ter um filho me fez pensar em transformar este mundo. Então eu criei uma série de brinquedos educativos. No início, para que meu filho Matias se visse no mundo. Depois, virou uma empresa, a “Era uma vez”, que luta pela representatividade das crianças negras no ato de brincar. Nossa missão é conseguir levar para as crianças a capacidade de se ver em vários espaços”.
Acolhimento e validação
Segundo a doutoranda Giovana Castro, é preciso positivar as identidades negras, para que crianças e jovens acreditem na possibilidade de ocupar quaisquer lugares na sociedade. É desse modo que, a também professora da Rede Municipal, busca estimular seus alunos e alunas a combaterem e resistirem ao racismo presente na sociedade brasileira.
“Fico muito feliz em ver os meninos, que foram meus alunos na Rede Municipal, aqui, na Universidade hoje. A gente precisa se ‘intercuidar’ de uma forma mais afetuosa. Precisamos validar mais os outros pretos que estão perto de nós. Dentro daquilo que o capitalismo nos permite, que a gente fortaleça uma pessoa preta. É fundamental criarmos redes de pessoas que estão do nosso lado. Resistir é uma questão de sobrevivência para a população negra no Brasil. Além disso, é urgente ampliarmos as redes formativas, compreendermos as formas de resistência ao racismo em outras regiões do país, e eleger homens e mulheres pretos para os cargos políticos.”
A avaliação é compartilhada pela psicóloga Naiara Santos e Silva, que relatou como o acolhimento de outras mulheres negras a ajudou a superar as marcas do racismo. “Como foi que eu cheguei até aqui? Estudei em escolas particulares com crianças brancas e, por muito tempo, naturalizei o meu próprio silenciamento. Desde criança sempre me senti deslocada no ambiente escolar. A escola é o lugar que mais odiava na minha vida. Depois que me graduei, minha história foi preenchida de outras formas positivas, encontrei outras mulheres negras que começaram a me acolher e pude perceber que o problema não era comigo.”
Naiara sugere o investimento e a valorização das ‘microações’ como estratégia de resistência ao racismo. “Como psicóloga, conversando aqui com vocês ou, no meu bairro, dialogando com outras mulheres negras também combatemos o racismo. Às vezes ficamos na ânsia de salvar o mundo todo e não conseguimos. Valorizem as ‘microações’, cuidem uns dos outros, porque isso é muito importante. Resistir é muito difícil, a valorização das nossas ações é que faz isso ser um pouco mais leve.”
A professora do Departamento de História da UFJF e proponente da mesa de debates, Fernanda do Nascimento Thomaz, enfatizou que atividades de combate ao racismo não podem ficar restritas ao mês de novembro, tampouco ao ambiente universitário.
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