O mês de outubro é conhecido também como o mês dedicado à conscientização dos cuidados com a saúde da mulher. A campanha “Outubro Rosa”, que teve início em 1990, na cidade de Nova York, chegou ao Brasil em 2002 com o objetivo de alertar mulheres e sociedade sobre a importância da prevenção do câncer de mama que, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), é o segundo mais prevalente entre as mulheres, representando 20% dos casos da doença por ano. Mais tarde, em 2011, a campanha abrangeu também a questão do câncer de colo de útero, terceiro mais incidente na população feminina brasileira, com 17 mil casos diagnosticados por ano.
Segundo o ginecologista e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Geraldo Sergio Farinazzo Vitral, a estimativa do INCA para as incidências do câncer de mama de 2018 para 2019 é de quase 60 mil casos e de colo de útero, 16 mil casos. De acordo com Geraldo, existem duas formas de prevenção para ambos os casos: A primária, que é impedir que a doença se forme, e a secundária, chamado também de diagnóstico precoce.
O médico conta que, no câncer de mama, a prevenção primária tem a ver com uma melhor alimentação e práticas de atividades físicas, já que foi visto que, nesses casos, ele tem uma menor incidência. Porém, é a prevenção secundária que, na mama, tem o maior peso. “No diagnóstico precoce,a finalidade é não é só aumentar a chance de cura, mas também proporcionar tratamentos menos agressivos e menos traumáticos”, alerta.
Já no câncer de colo do útero, Vitral explica a diferença: “você tem a prevenção primária sendo mais importante, já que sabemos o agente etiológico, o HPV [papiloma vírus humano]. Aqui, temos a vacina contra ele, que facilita a diminuição da ocorrência em que esse tipo de câncer se forma.” Porém, o médico alerta que a procura por essa forma de prevenção ainda é baixa: “o ideal é que toda a população fosse vacinada, já que quase 100% dos casos são causados pelo vírus.” No caso da prevenção secundária, envolve os métodos ginecológicos como papanicolau e preventivo.
Diante deste contexto, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) se destaca como uma sede importante das muitas atividades desenvolvidas que visam o combate da doença. Dentre elas, está o projeto chefiado pela professora do curso de Farmácia, Nádia Raposo, que está participando atualmente do programa InTec, iniciativa do Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia (Critt UFJF) junto à Diretoria de Inovação.
O “Metachrom Cell Marker” é uma composição fixadora para citologia em formato de “kit”, que facilita o diagnóstico precoce do câncer no colo do útero, já que conta com uma substância que marca “colorindo” as células tumorais, permitindo um rastreio mais sensível e acessível do prognóstico. “Como nós, do Núcleo de Pesquisa e Inovação em Ciência da Saúde [NUPICS] já possuímos um projeto sobre diagnóstico de câncer de mama e vimos que esta é uma situação bem dramática para a mulher, resolvemos desenvolver outro com a perspectiva do câncer no colo do útero.” diz Nádia se referindo a primeira tecnologia ligada à saúde da mulher transferida pelo Critt.
Sabendo que o câncer de colo de útero possui uma morbidade avançada, causando a morte de muitas mulheres, principalmente, as que vivem em zonas afastadas, Nádia conta que o “kit”, ainda está em fase de desenvolvimento, pretende ser uma tecnologia que chegará a grupos de pessoas atualmente desassistidas. “Apesar de já existir o exame papanicolau, existe o problema da baixa sensibilidade, já que só consegue detectar uma lesão que já está em uma fase mais avançada. Então sem o diagnóstico precoce, as doenças acabam evoluindo, principalmente em lugares longínquos do nosso país, onde o rastreio do câncer fica mais difícil pela falta de laboratórios”, comenta.
A preocupação da equipe foi de criar algo que tenha um baixo custo de investimento e de fácil execução, porque em minutos um médico pode ter um resultado preciso. Obviamente, que a tecnologia não substitui o especialista, mas serve como um facilitador para que esta paciente não “vá embora e só volte no próximo Outubro Rosa”, afirma Nádia, sobre a importância do produto na prevenção da doença, destacando o benefício que o fácil acesso dele trará para a saúde das mulheres que vivem em condições mais desfavorecidas.
Em relação ao papel da pesquisa no desenvolvimento de tecnologias que facilitem a qualidade de vida, a professora acredita que é uma responsabilidade da Universidade oferecer esse retorno a sociedade. “Através do conhecimento que é gerado na universidade e se materializa nas tecnologias que resolvem problemas, podemos melhorar a vida das pessoas que precisam”, comenta a pesquisadora que destaca essa como uma das responsabilidades do seu núcleo de pesquisa: “temos a preocupação de desenvolver coisas acessíveis, que possam gerar uma tecnologia que seja eficaz e eficiente baseada nos conhecimento científicos mais rigorosos, mas que possa ser acessível a qualquer indivíduo que precise dela”.
Sobre a importância da campanha no mês de outubro, Nádia acredita que é imprescindível que ela exista para conscientizar sobre as precauções com a saúde: “por causa do estilo de vida que temos hoje, o alerta das campanhas são primordiais para que as pessoas se conscientizem. É uma cultura que temos que ter, de uma medicina preventiva e não curativa apenas.” E continua, “como o câncer pode atingir mulheres muito novas, as prioridades da vida nessa faixa etária são outros. Então, com a campanha, esse momento de lembrança é marcado, “todo o mês de outubro eu vou ao ginecologista”. Ao menos uma vez ao ano, você tem o despertar desse cuidado específico com sua saúde.”
Para saber mais sobre o “Metachrom Cell Marker” e outros projetos participantes do programa InTec, acesse aqui.