Com o objetivo de resgatar o acervo pessoal do diplomata, historiador e jornalista brasileiro Manoel de Oliveira Lima (1867-1928), doado a The Catholic University of America (CUA), e visando a obtenção de recursos para construção de uma sede e manutenção do espaço, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em parceria com a CUA, produziu um vídeo documental sobre a biblioteca resultante da doação: a Oliveira Lima Library.
Em 1916, o pernambucano doou seu acervo pessoal para CUA, localizada em Washington, Estados Unidos. A doação que originou a biblioteca, mesmo quase 100 anos depois, ainda não possui prédio próprio, impossibilitando sua total disponibilidade para uso. Atualmente, a coleção de 60 mil obras sobre o Brasil está abrigada no subsolo da Mullen Library, a biblioteca central da Instituição, distribuída em quatro salas.
A vice-reitora da CUA e responsável pelas bibliotecas, Duilia de Mello, esclarece que a escolha da UFJF foi motivada pela existência de um memorando de entendimento entre a CUA e a UFJF. “A Universidade abriu as portas para uma colaboração e aproveitamos para sugerir o projeto que estávamos trabalhando na ocasião. Sabíamos que os professores da UFJF tinham interesse, pois já conheciam a Biblioteca Oliveira Lima.”
O projeto foi executado por dois integrantes da equipe de audiovisual da Diretoria de Imagem Institucional da UFJF, Frederico Belcavello e Leandro Mockdece. No final do ano passado eles viajaram para Washington e produziram as imagens utilizadas na composição do vídeo, ficando responsáveis pelo roteiro de criação. A produção foi acompanhada e guiada pela diretora da Biblioteca Oliveira Lima, a também brasileira, Nathalia Henrich. Além disso, a CUA emprestou o equipamento utilizado, com a colaboração da diretora do Media Lab do Departamento de Mídia e Comunicação, Abby Moser.
A produção do vídeo
Belcavello relata que o roteiro de filmagem foi montado antes da viagem. “Depois de tomar conhecimento sobre o que se tratava, passamos para a ideia de afinar os objetivos da produção. Fizemos uma série de reuniões por vídeoconferência, com a Duília e a Nathalia, o que clareou qual seria nossa abordagem e a finalidade. Assim definimos quem seriam nossas fontes e quais imagens precisariam ser levantadas. Com esses dados, fizemos nosso planejamento de gravação.”
A produção do material seguiu o modelo feito na Diretoria de Imagem da Universidade. “Passamos por todas etapas de audiovisual que executamos na UFJF, a primeira sempre envolve pesquisa, estudo da demanda. Depois dessa fase percebemos que a ideia era apresentar e mostrar o tesouro brasileiro em Washington”, como explica Mockdece.
Uma sede para a biblioteca
De acordo com Nathalia, a intenção da produção do vídeo institucional foi estabelecer conteúdo audiovisual a respeito do acervo. “O objetivo foi dispor de um material de divulgação da biblioteca e ajudar na campanha de levantamento de recursos para o futuro da Oliveira Lima Library, incluindo a construção de um centro de estudos no campus.”
O prédio será adaptado para as necessidades da coleção, que possui livros singulares, além de obras de arte que precisam de cuidado com temperatura, luz, umidade. Com a construção do local o acervo de correspondências também poderá ser catalogado e organizado. Quando construído o local irá facilitar o acesso aos conteúdos e favorecer a pesquisa na área.
Segundo Duilia, além de buscar obter recursos, o vídeo também objetiva incentivar a procura pelo espaço. “Temos mostrado o vídeo em diversos eventos para motivar as pessoas a utilizar a biblioteca e levantar fundos para sua manutenção e expansão. Gostaríamos também de fazer um documentário, mas não temos ainda os fundos para isto.”
Envolver-se na iniciativa de produzir o material audiovisual é uma maneira de contribuir para a valorização da história, como ressalta Belcavello. “A biblioteca é uma forma de promover uma visão mais aprofundada do Brasil. O vídeo é uma ferramenta disso. Para a UFJF, é muito importante a participação, dada a relevância da biblioteca. Integrar a divulgação desse projeto nos coloca como uma instituição que valoriza a cultura brasileira e essas fontes de pesquisa.”
O acervo
O conjunto acumulado por Lima traz a relação entre Brasil e Portugal, desde o descobrimento, além de contar com conteúdos diversos, como destaca Nathalia. “É abrangente no número de temas que trata e na quantidade de itens que possui mas, na sua essência, é uma coleção luso-brasileira, focada no mundo de fala portuguesa. Segue a expansão de Portugal, aborda as colônias na África, mas o Brasil é o coração do acervo. A brasiliana de Lima hoje é considerada uma das mais importantes do mundo.”
Para Mockdece o vídeo é uma forma de contribuir para a expansão da obra de Oliveira Lima. “Senti que estava continuando o projeto dele, que era o que ele queria que alguém fizesse, sem nem saber quem era pessoa. É uma contribuição para o Brasil.”
O espaço é aberto à visitação, mas é necessário agendamento prévio. “É uma biblioteca de livros raros, as pessoas não têm acesso diretamente às estantes. Os pesquisadores informam quais materiais querem utilizar e, quando chegam, estão separados. No caso de pessoas que só querem conhecer o espaço, a visitação depende do perfil”, ressalta Nathalia.
Uma pequena parte do acervo já foi digitalizada e está disponível no repositório digital da Oliveira Lima Library. Podem ser acessados correspondências e diários de Flora Cavalcanti, esposa do diplomata e historiador.
Quem foi Manoel de Oliveira Lima
Manoel Oliveira Lima nasceu em Recife (PE) no dia 25 de dezembro de 1867. Filho de um comerciante português e uma brasileira, desde jovem já mostrava aptidão para a escrita. Aos 21 anos formou-se na Academia Superior de Letras, em Portugal. Nos anos de 1890 casou-se com Flora e iniciou os trabalhos de representação brasileira.
Desde a adolescência e também durante o período que atuou na diplomacia, Lima reuniu vários livros e objetos, além de ter se correspondido com cerca de 1.400 missivistas, dentre eles Machado de Assis e Gilberto Freyre. Sete anos após encerrar sua carreira como diplomata em 1913, Lima mudou-se para Washington, para onde levou sua coleção pessoal. Inicialmente, o conjunto era composto de 40 mil livros, 60 pastas com recortes de jornais, páginas de correspondência, e cerca de 600 obras de arte, entre pinturas, aquarelas, gravuras, mapas, esculturas. Hoje, o acervo conta com aproximadamente 60 mil livros.
A doação foi feita com a garantia de que o acervo fosse reunido. Havia partes em Londres, Bruxelas e Lisboa. Em 1924, foi inaugurada a Ibero-American Library. Lima trabalhou na brasiliana até morrer em 24 de março de 1928, quando foi substituído por Flora.
Outras informações estão disponíveis na página da Oliveira Lima Libray no Facebook ou Instagram.