Por que as dietas falham? Foi em busca de respostas a questões como esta que estudantes, professores e profissionais ligados à área da nutrição participaram, na última segunda-feira, 8, de um evento promovido pelo Departamento de Nutrição do campus da Universidade Federal de Juiz de Fora em Governador Valadares (UFJF-GV). Por meio de atividades que incluíram palestra e minicurso, ambos ministrados pela docente da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) Fernanda Rodrigues de Oliveira Penaforte, o público conheceu mais sobre uma nova forma de abordagem da relação entre corpo e comida: a chamada nutrição comportamental.
Penaforte explicou que “a escolha do que comer é algo complexo, determinado por diversos fatores”, sendo a saúde apenas um deles, não o único. Segundo ela, uma dieta para obter êxito precisa levar em consideração as questões biológicas, psicossociais, culturais, antropológicas e econômicas relacionadas aos alimentos. A nutrição comportamental busca justamente esse conhecimento maior do indivíduo por parte do nutricionista, a fim de que o plano alimentar seja elaborado de acordo com a realidade de quem busca acompanhamento.
Não é só saúde
A docente criticou a visão que relaciona a alimentação apenas à funções de promoção da saúde e de busca do “corpo ideal”. Para ela, é preciso uma reflexão dos profissionais da nutrição sobre essas questões, uma vez que o aumento do interesse por alimentação saudável não tem representado a diminuição da obesidade e do excesso de peso entre a população.
“Existe um paradoxo. O excesso de peso e a obesidade seguem aumentando entre a população brasileira, assim como os transtornos alimentares, a compulsão, o comer disfuncional e a insatisfação corporal. Por outro lado, estudos indicam que o consumo regular de frutas e hortaliças cresce enquanto diminui o de refrigerante ou suco artificial. Além disso, percebemos o crescimento do setor de alimentação saudável de programas e revistas sobre alimentação saudável e o aumento na procura por nutricionistas”, afirmou Penaforte.
A professora também destacou que a “medicalização da comida” deve ser evitada, uma vez que considerar os alimentos como se fossem remédios tira o prazer de se alimentar.
A forma como o tema foi abordado agradou à docente do Departamento de Nutrição da UFJF-GV e uma das organizadoras do evento, Nízia Araújo Vieira Almeida. “Este novo olhar trazido pela professora Fernanda é importante para que possamos quebrar paradigmas que muitas vezes engessam algumas questões.” E complementou destacando que “existe a necessidade de o nutricionista trabalhar uma escuta mais qualificada com o cliente, entender mais os fatores que interferem nesse processo de alimentação e não só o alimento”.
Na opinião do chefe do Departamento de Nutrição do campus GV, Leandro de Morais Cardoso, a atividade preenche uma lacuna existente nos cursos e também uma demanda do mercado de trabalho. É que, segundo ele, embora a Nutrição tenha uma formação humanística, com disciplinas ligadas às áreas de cultura, sociologia, psicologia e ética, o curso, de uma forma geral, “prega muito essa questão da dieta da restrição, sem considerar o contexto do indivíduo”. Cardoso ressaltou ainda a necessidade de atualização constante, por se tratar a Nutrição, segundo ele, de “um curso muito dinâmico”.
E os resultados do evento já podem ser percebidos nos futuros nutricionistas do campus. É o caso de Isabela Figueiredo e Souza, 25. “Eu acho que a temática deu uma abordagem completamente diferente, muito mais humanizada, que a gente às vezes não tem muito contato, não conhece muito bem. Com certeza, vai mudar minha forma de abordagem com pacientes futuramente porque abriu um leque de possibilidades que eu não sabia que existia”, declarou a discente, que elogiou a iniciativa da Coordenação da Nutrição.