(Foto: Géssica Leine)

Apesar de estar inserida em um ambiente predominantemente masculino, Marta enxerga o meio acadêmico como um dos espaços mais democráticos da sociedade (Foto: Géssica Leine)


Estar no meio acadêmico é querer, incessantemente, mudar a realidade. Poucas pessoas têm a chance de propor ideias inovadoras e vê-las se transformando em realidade. A pesquisadora Marta D’Agosto é uma delas: presente na área da pesquisa há 38 anos, ela é testemunha de acontecimentos marcantes na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) desde sua formatura, em 1978. Simpatizante dos estudos sobre a zoologia, naturalmente se envolveu com o mestrado e doutorado e, ao longo dos anos, consolidou sua carreira renomada de pesquisadora na área de Parasitologia e Protozoologia parasitária animal.

Esta é a terceira notícia da série sobre mulheres a ser publicada, no portal da UFJF, como parte da discussão sobre o Dia Internacional da Mulher, em 8 de março. Para demonstrar a força da mulher na ciência em todos os campos da Universidade, quatro pesquisadoras de áreas de conhecimento distintas e com produtividades em pesquisa reconhecidas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) são protagonistas de matérias abordando os desafios de suas trajetórias.

Desafiando o senso comum

Apesar de estar inserida em um ambiente predominantemente masculino, Marta enxerga o meio acadêmico como um dos espaços mais democráticos da sociedade. Para ela, o reconhecimento é proporcional às conquistas vindas de trabalhos concluídos e apresentados. “Acho que é uma área privilegiada para atuação feminina, nossos artigos sempre serão citados pelo mérito”, ressalta. No áudio abaixo, a pesquisadora avalia o cenário acadêmico feminino da UFJF, questionando o porquê da diminuição do número de mulheres ao longo da carreira universitária.

(Foto: Arquivo Pessoal)

Para a pesquisadora, a maternidade chegou junto com o doutorado (Foto: Arquivo Pessoal)

Sobre o assunto, a pesquisadora pondera o peso de demais funções que influenciam as mulheres em escolhas. “Conheço várias pesquisadoras que adiaram a maternidade porque estavam investindo na carreira”, exemplifica. É direito de toda e qualquer mulher, assim, optar pelo o que almeja. O caso de Marta, inclusive, desmistifica a noção popular de que, para ser bem sucedida, a mulher precisaria abrir mão do seu convívio social e particular: sua maternidade chegou quando estava no doutorado, já tinha uma carreira consolidada e ainda muito a trilhar pela frente.

A pesquisadora chama a atenção para o poder do “olhar diferenciado” da mulher para a ciência. “Somos capazes de olhar em várias direções ao mesmo tempo e ter a sensibilidade de perceber as nuances em tudo o que vemos”. 

Como testemunha do crescimento científico da UFJF

Presente em muitos dos avanços da Universidade, Marta conta que, em 1987, trabalhou como Gerente de Pesquisa na equipe da gestão do pró-reitor José Carlos Barbosa, na extinta pró-reitoria de Ensino e Pesquisa (Proep). O intuito foi fomentar o desenvolvimento de projetos de iniciação científica na Universidade, provocando a disseminação de conhecimento pelo campus. “Lançamos o primeiro programa desse gênero na UFJF”, explica a pesquisadora sobre o trabalho que, hoje, já tem mais de 25 anos. Atualmente, são mais de 231 alunos de iniciação científica na Universidade.

E isso fez toda a diferença: segundo Marta, em 1987, a Universidade contava com cerca de 8% doutores em seu quadro de professores. Hoje, o número é 75%. “Quando somamos mestres e doutores, totalizamos 95% dos professores em toda a UFJF”, complementa. Para ela, isso proporciona professores diferenciados aos alunos, com a competência de ensinar sob olhar crítico aos métodos clássicos. A matemática é simples: quanto mais a Instituição adicionou à construção de passos importantes de estabelecimento de formação acadêmica, mais se tornou recheada de profissionais qualificados.

Cheia de conquistas pessoais e profissionais na bagagem, Marta diz não pensar em aposentadoria. Ao perceber todo o crescimento da Universidade, a pesquisadora afirma que só deixará o cargo quando tiver a certeza que consolidou tudo o que construiu. “Essa é uma carreira que não se encerra ao fechar a porta da sala”, aponta. Atualmente, é responsável por coordenar três linhas de pesquisa, todas com financiamento aprovado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de Minas Gerais (Fapemig) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Ambiente democrático

Considerando sua trajetória de construção profissional, a pesquisadora julga como democráticos os processos dentro da Universidade, assegurando que os “parâmetros são igualitários no mundo acadêmico”. Sobre a “dor e a delícia” de ser uma mulher inserida na ciência, Marta considera que tem “delícias, porque as conquistas foram muitas”. A pesquisadora cita a construção e incentivo da iniciação científica na Universidade e o surgimento do Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia (Critt/UFJF) como momentos marcantes da sua história acadêmica. “A Universidade se transformou em uma instituição que produz conhecimento”, atesta, orgulhosa.