A fim de intensificar o processo de parcerias internacionais, o Laboratório de Pesquisas em Alimentos da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) recebeu o professor colombiano Oscar Castro — da Corporación Universitaria Americana e do Grupo de Investigación BIOALI, da Universidad de Antioquia. A visita é fruto de um convênio firmado entre a UFJF e a Rede LACFUN CYTED .
Com pesquisas confluentes voltadas para o aproveitamento de resíduos agroindustriais, o grupo com integrantes das duas universidades está realizando, entre outras atividades, um estudo focado no desenvolvimento de métodos de utilização do soro lácteo para isolar nutrientes valiosos na semente de abacate e na polpa de curuba (o maracujá colombiano).
O processo
A produção de leite e derivados é uma das principais atividades agropecuárias do Brasil. Apenas em 2017, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estimava uma produção de quase 35 bilhões de litros de leite, gerando uma receita de R$ 45 bilhões para o país. E (como toda atividade humana) essa imensa produção gera resíduos, sendo o soro lácteo um dos mais elementares e, muitas vezes, desprestigiados.
Separado do leite durante a fabricação de queijos, quando não aproveitado, o soro pode se tornar um problema para a indústria. Se descartado de forma inadequada, é altamente poluente para rios e lençóis freáticos, consumindo o oxigênio da água (eutrofização) e dificultando o processo de tratamento. Porém, esse soro é também rico em gorduras, lactose e proteínas de altíssimo valor biológico, bem conhecidas, por exemplo, pelos praticantes de musculação.
Por meio da secagem do soro por técnicas como liofilização (secagem em baixas temperaturas) e spray drying (secagem por pulverização) — e orientados pela microscopia eletrônica –, os pesquisadores esperam empregar essas proteínas para encapsular nutrientes igualmente importantes em outros resíduos, como a semente de abacate — rica em ácidos graxos, antioxidantes e vitaminas — e a polpa de curuba, uma das frutas colombianas com maiores propriedades antioxidantes.
Além do valor nutricional, a seleção destes resíduos levou em consideração a realidade econômica das indústrias: com o crescimento da produção de abacate na Colômbia, voltada para a exportação, aumentou também o volume de sementes descartadas. O aproveitamento proposto nesta pesquisa, porém, transforma o que seria um problema logístico e ambiental em uma oportunidade.
“No Brasil, assim como na Colômbia, temos uma grande variedade de frutas e alimentos tropicais, que geram uma grande diversidade de produtos e processos. A partir deles, podemos gerar valor agregado na transformação destes resíduos em proteínas isoladas, antioxidantes, corantes, óleos essenciais. Todos estes componentes permitirão formular alimentos e obter novos produtos com alto valor agregado”, explica Castro.
Parceria internacional
A visita do professor é resultado do convênio entre a UFJF e a Rede LACFUN CYTED — que reúne institutos de pesquisa e universidades de diversos países ibero-americanos, visando divulgar novas tecnologias e intercambiar pesquisadores do campo de alimentos –, firmado ainda em 2017. Conforme o professor Fabiano Costa (Farmácia – UFJF), que representa o Brasil na rede, esta relação vem desde 2015 e já culminou na produção de outros trabalhos com colaboração internacional.
“Qualquer pesquisador que tenha interesse em realizar pesquisas nesse campo, em colaboração com estes países, pode recorrer à Rede por meio do nosso laboratório. Apesar de ser uma relação recente, nós já estivemos em vários dos países participantes (México, Espanha, Uruguai…) para os encontros anuais e uma de nossas alunas de doutorado esteve pesquisando no Chile.”
Para Castro — que, durante sua estadia, ofereceu um curso aos estudantes do Mestrado Profissional em Ciência e Tecnologia do Leite e Derivados –, a parceria entre o Brasil e a Colômbia vem somar as potencialidades específicas dos dois países. “O Brasil é forte em propriedades de microscopia eletrônica e nas propriedades farmacêuticas, cosméticas e microbiológicas destes extratos com que estamos trabalhando. Enquanto a Colômbia tem maior experiência com a caracterização destes resíduos.”
“Essa parceria permitiu ao laboratório acessar recursos expertises de outros países. Vamos enviar, por exemplo, materiais para serem analisados na Espanha e na Argentina. Assim como estes países deverão encaminhar amostras para serem estudadas aqui”, concluiu Costa.