Com a mobilidade e velocidade dos dispositivos eletrônicos atuais, nunca foi tão fácil solucionar uma dúvida. Os esforços são mínimos e logo estamos introduzidos nos mais variados assuntos, até mesmo em questões vitais, como a nossa própria saúde. Pensando neste amplo cenário de informações, a pesquisadora da UFJF, Laisa Marcorela Andreoli Santos, desenvolveu um conjunto de pesquisas que visam avaliar se a terapia por internet pode ser efetiva para o uso abusivo de álcool, atualmente uma das maiores problemáticas da saúde pública brasileira.
Em âmbito nacional, grande parte dos dependentes de álcool não chegam ao tratamento especializado, seja pela falta de oferta de tratamento em relação à demanda, por residirem em locais geograficamente desfavorecidos ou por sofrerem com o estigma de sua condição. Diante deste contexto, as intervenções por internet, dentre elas a psicoterapia, surgem como uma modalidade alternativa para casos como estes. A pesquisa avaliou tanto aqueles que procuram por serviços especializados, quanto os que buscam informações através do site Informalcool.
Caminhos da pesquisa
A série de estudos é composta por três partes elementares. A primeira delas é um ensaio clínico randomizado, com participação da população que procura por tratamento em um centro especializado, no qual foram avaliados 40 indivíduos sendo 18 incluídos nos estudos conduzidos por uma dissertação de mestrado e uma tese de doutorado, ainda em andamento. A segunda parte se desenvolveu por meio de uma nova dissertação de mestrado fundamentada em uma análise pré-pós teste, com a participação de homens e mulheres que se cadastraram em um site especializado para problemas com álcool, sendo avaliadas a viabilidade, aceitabilidade e resultados clínicos iniciais. A terceira e última etapa foi conduzida por um projeto de pós-doutorado que buscou comparar os resultados clínicos do grupo advindo do site investigado na segunda pesquisa com o grupo presencial do primeiro estudo.
A principal proposta das análise é identificar a efetividade desta modalidade de tratamento, visando contribuir tanto para melhoria do processo, quanto para as políticas públicas sobre drogas, especialmente no Brasil. Os resultados iniciais do estudo detectaram uma alta taxa de aceitabilidade dos pacientes quando lhes é oferecido o tratamento, além de uma elevada satisfação tanto do cliente quanto do terapeuta quando o atendimento online é realizado.
Alternativa em estudo
Entre a comunidade científica o tema ainda é alvo de discussões e desperta dúvidas com relação à eficácia do tratamento. Recentemente muitos países têm adotado e avaliado a realização de psicoterapias desse gênero para diversos outros transtornos psicológicos, como depressão, ansiedade, fobia social e tabagismo. No entanto, nas revisões realizadas pela equipe foram identificados poucos estudos que se propuseram a avaliar a efetividade da prática para usuários de álcool, reforçando o caráter inovador do trabalho realizado.
No Brasil, a psicoterapia online era proibida desde 2012 pelo Conselho Federal de Psicologia. Em maio deste ano, o Conselho decidiu pôr fim à proibição da prática e regulamentou a prestação de serviços psicológicos realizados por meios tecnológicos de comunicação a distância. Para a pesquisadora a decisão segue uma tendência mundial, “acredito que a proibição estava indo contra o que os outros países têm feito. No período de reuniões para discutir uma nova resolução, eu defendi que o Conselho procurasse guiar os profissionais, estabelecendo critérios éticos para sua realização. O tema precisa de mais pesquisas para se desenvolver. A busca por evidências da sua eficácia não pode parar.”