Cerca de 70 pessoas, entre estudantes e lideranças ligadas aos conselhos de Direitos Humanos, Idosos e Assistência Social participaram, na última quinta-feira, 17, de uma oficina sobre a mobilidade urbana e as políticas de acessibilidade em Governador Valadares. A ação faz parte do projeto de extensão Observatório do Orçamento Público, coordenado pelo professor do curso de Direito da UFJF-GV Éder Marques de Azevedo. O objetivo da atividade foi capacitar os agentes sociais envolvidos com o tema.
O docente destacou a importância do evento para a conscientização de todos sobre a necessidade de espaços públicos que garantam o livre trânsito da população, independente da idade e das condições físicas. “Por ser assunto de relevante interesse social e por envolver o debate acerca da acessibilidade de maiorias e minorias sociais, qualquer categoria de pessoas é protagonista e epicentro de interesse em matéria de locomoção e planejamento da circulação urbana”, enfatizou Éder Azevedo. E completou, “uma política adequada de circulação de bens e pessoas no âmbito da cidade melhora a inclusão social de todos.”
Na opinião do professor, falta incentivo – principalmente por parte do poder público – ao uso de transporte sustentável, como bicicletas, por exemplo. Ao invés disso, segundo ele, o que se observa é o congestionamento provocado pelos automóveis, que apesar de transportarem apenas 20% da população ocupam 90% do espaço viário. Em relação a Governador Valadares, para Éder o principal problema é a “falta de fiscalização das calçadas”, que além de “estreitas e acima do nível”, muitas são “ocupadas por mesas de bares, prejudicando o trânsito” dos pedestres. Ele enfatiza que “não é o comércio que deve ser priorizado, mas as pessoas”.
Adenilza Maria Nazário conhece bem esta situação. Servidora técnica do campus avançado da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), ela faz uso de cadeira de rodas, e enfrentou muitas dificuldades de locomoção quando se mudou para Governador Valadares, no ano de 2010. “Não havia transporte coletivo adaptado para pessoas com deficiência e as vias eram piores para transitar. Eu tinha problema de mobilidade para chegar ao trabalho”, explicou. A servidora, que é bacharel em Direito, decidiu procurar o Ministério Público. Cerca de quatro meses depois de entrar com a representação, começaram as obras de alteração e construção das vias, colocação de semáforos em alguns pontos e retirada do equipamento em outros locais da cidade, tudo para garantir a acessibilidade dela e demais pessoas com mobilidade reduzida.
Adenilza vê com otimismo eventos como o da última quinta. “Acho importante porque há falta de conhecimento da legislação, sim, mas a própria pessoa com deficiência não procura o direito dela também. E sozinho você não consegue muita coisa. Então é preciso fazer seminários, discutir a questão para ela vir a público, trazer a questão para pessoas que não possuem a deficiência para que elas tenham essa visão”. E finalizou, “se você levar a política de mobilidade urbana a sério, ela vai realmente melhorar muito a vida das cidades, não só para mim com deficiência, mas para a mãe com seu carrinho de bebê, a grávida ou qualquer pessoa com redução de mobilidade.”