A história é marcada por revoltas, manifestações e seus vestígios atravessam a barreira do tempo, despertando a memória e auxiliando a humanidade a entender o presente a partir do passado. O ano de 1968 foi um marco para o fortalecimento de movimentos em busca de liberdade, direitos e a concretização da paz e do fim de guerras. Estudantes parisienses faziam barricadas com carteiras de salas de aula para lutarem contra a repressão violenta da polícia. Protestavam inicialmente por reformas na educação, juntando-se com os movimentos operários mais tarde, gritando frases como “é proibido proibir”, “seja realista, queira o impossível”. Nos Estados Unidos, os hippies iam para as ruas expressar-se contra a Guerra do Vietnã, a violência e o estilo de vida americano. Em Praga, manifestações pacíficas tentavam se libertar do governo autoritário que dominava o país.
Para debater sobre esses acontecimentos, a “Mesa 1968 – Tempos-espaços de uma primavera expandida” acontece na próxima quinta-feira, 17, às 19h, no Instituto de Ciências Humanas (ICH) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O evento conta com a presença dos três professores do curso de Geografia — Leonardo Carneiro, Clarice Cassab e Elias Lopes — discutindo os temas “Continuidades e interrupções”, “Jovens, rebeldias e representações” e “1968, o ano que não terminou”, respectivamente. “Vamos debater a questão da juventude com a professora Clarice Cassab e também as reverberações até os movimentos da juventude de hoje; o professor Elias fará uma análise sobre o movimento da contracultura, e meu foco será na análise geopolítica, sobretudo tendo a Primavera de Paris e a Primavera de Praga como foco de atenção”, explica Leonardo Carneiro.
Geopolítica, movimentos estudantis e lutas sociais
Tomando como foco as primaveras de Paris e de Praga, o professor Leonardo Carneiro discute sobre a bipolarização geopolítica mundial durante o período de 1968. “Eu pretendo fazer uma análise geopolítica sobre como os movimentos sociais lidavam com as estruturas de poder da bipolaridade global e pensar como isso segue até hoje, questionando o que se perdeu no caminho, por que se perdeu e como essa política dos estados-nações segue atualmente”, destaca Carneiro. Temáticas como o fortalecimento do movimento LGBTTI, da luta feminista e do ambientalismo nesse período também serão abordadas.
Já na esfera dos movimentos estudantis, a professora Clarice Cassab aborda como foi a atuação dos jovens nos eventos de 1968. “A proposta é construir uma reflexão sobre o papel da juventude nos movimentos ocorridos em maio de 1968, visando também identificar os legados no tocante a forma como os jovens e as juventudes são representados”, esclarece Cassab. A professora destaca que, nos dias de hoje, ainda vivemos em um contexto no qual as lutas ainda são necessárias: “se pensarmos que, 50 anos depois, vivemos um período de acelerados retrocessos, me parece que maio de 68 ainda está vivo”.
Com o título “1968, o ano que nao terminou”, a fala de Elias Lopes é focada no fato de que existem muitos acontecimentos que, embora tenham começado há 50 anos atrás, ainda reverberam até hoje, principalmente no que diz respeito às lutas sociais. “Pretendo discutir que maio de 1968 foi o ápice de uma conjuntura histórica que colocou a dimensão política na ordem do dia, de maneira que várias dimensões do cotidiano, como sexualidade, racialidade, meio ambiente, entre outros, passariam, a partir de então, a ser evocadas sob o crivo da política”, adiciona.
Um dos grandes objetivos do encontro é debater sobre a herança de maio de 1968 nos dias atuais, na esfera política e social. “Algumas das manifestações mais triviais do nosso dia a dia, como o consumo, a individualidade, o comportamento, dentre outras, têm em maio de 68 um ponto de inflexão que alterou a forma como lidamos com elas, introduzindo um viés contestatório que passa a tensionar com um conformismo ainda muito presente nas relações cotidianas”, expressa Lopes.
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