Veículo: G1

Editoria: Notícia

Data: 01/04/2018

Link:https://g1.globo.com/mg/zona-da-mata/noticia/romper-ciclo-da-violencia-domestica-e-meta-de-atendimento-a-homens-condenados-em-juiz-de-fora.ghtml

Título: Romper ciclo da violência doméstica é meta de atendimento a homens condenados em Juiz de Fora
Projeto da UFJF reúne o Poder Judiciário, o Ministério Público (MP), a Prefeitura.

Responsabilizar e mudar o pensamento de homens condenados por violência doméstica é o foco de um atendimento específico em Juiz de Fora. O projeto de pesquisa e extensão no Centro de Psicologia Aplicada (CPA) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) é uma das ações da Rede de Enfrentamento à Violência Doméstica (Revid) na cidade.

Para saber mais sobre a iniciativa, que reúne o Poder Judiciário, o Ministério Público (MP), a Universidade e a Prefeitura de Juiz de Fora, o G1 conversou com o coordenador da iniciativa e professor do Departamento de Psicologia da UFJF, Luiz Gibier e com a promotora Nicole Frossard De Filippo, que acompanhou a iniciativa desde a implantação em 2014 até 2017.

Ambos garantiram que não se trata de “passar a mão na cabeça de agressor”, que nem todos conseguem se recuperar, mas a maioria aproveita a chance de mudar, o que gera impacto na qualidade de vida das famílias envolvidas.

A coordenadora da Casa da Mulher, Maria Luiza Moraes, avalia de forma positiva este projeto, uma vez que, se por um lado, o setor atua no acolhimento e no encaminhamento da mulher vítima de violência doméstica, este projeto age no outro lado da situação, que é trabalhar e acompanhar o homem envolvido.

Desde a criação da Casa da Mulher em Juiz de Fora, em 2013, até fevereiro de 2018, já foram mais de 11 mil atendimentos no local. Nos dois primeiros meses de 2018, já foram 350 atendimentos registrados.

Segundo levantamento da Polícia Militar (PM), em 2017, foram 18 mortes e 32 tentativas de homicídios e 1.857 agressões, superior às 1.754 em 2016.

Abordagem mais integral, disse professor

Os participantes são encaminhados ao grupo pelo Poder Judiciário e se comprometem a comparecer, no mínimo, a 10 reuniões semanais, com duração de 1h45. Só em 2017, foram quatro grupos e 48 encontros no total, todos realizados no Centro de Psicologia Aplicada da UFJF na Rua Santos Dumont, 214, no Bairro Granbery.

São abordados temas como Lei Maria da Penha, violência conjugal, como lidar com impulsos agressivos, mundo do trabalho e do não trabalho e seus desafios, drogas e bebidas, sistema penitenciário e o autoritarismo para com os reclusos, história da dominação masculina, paternidade, sexo, prazer e traição, dentre outros.

De acordo com professor Luiz Gibier, o projeto surgiu a partir da necessidade de acompanhar todos os envolvidos nos casos de violência doméstica em busca de melhores resultados.

“Inicialmente a gente trabalhava junto às mulheres e percebemos que seria necessário trabalhar com os homens. Assim, por meio de uma abordagem mais integral, poderíamos chegar à meta de melhorar a vida da família, da mulher e dos filhos. Durante reunião da Revid, apresentamos o projeto e houve o consenso com MP, Judiciário, Casa da Mulher, OAB e aprovaram a iniciativa”, contou.

De acordo com Gibier, o projeto não é para tratar agressor como “bonzinho”, mas oferecer a ele a chance de mudar o comportamento pelo qual foi responsabilizado e condenado judicialmente.

“A gente sabe que o sistema prisional pune, mas não recupera ninguém. Não estou dizendo que estes homens são bonzinhos, nem que são monstros. A violência masculina é construída socialmente a partir da ideia de que o homem pode tudo e leva à incidência dos casos. Temos que problematizar para ele entender que precisa mudar, reencontre um lugar no mundo e não volte a cometer um crime”, analisou o professor.

Nos casos acompanhados pelo projeto, Luiz Gibier destacou que a maioria entende que estes comportamentos agressivos não serão aceitos e serão punidos e que a troca de experiências com outras pessoas na mesma situação contribui para a mudança.

“O cara foi condenado e está vendo que se permanecer neste caminho terá diversos complicadores. Não é aula e nem palestra. É um grupo de conversa sobre tudo, onde tem outras pessoas que estão na mesma situação. Isso faz os homens saírem do lugar comum e gera um processo de mudança na maioria. Pela nossa estimativa, 95% saem de lá modificados”, afirmou Gibier.

Segundo o coordenador do projeto, pelo público atendido em quase três anos, pode-se afirmar que a violência doméstica não tem “uma cara”.

” O condenado por agressão doméstica pode ter qualquer cara, profissão, idade e origem. No futuro, pretendemos fazer conscientizações voltadas para os jovens nas escolas, para já prevenir este comportamento desde cedo”, comentou.

Ele destacou que quebrar o ciclo da violência traz uma melhoria geral de qualidade de vida para todos os envolvidos.

“Buscamos um impacto imediato na vida destas pessoas. É um processo difícil, complexo e nas altamente gratificante. A mulher se recupera. Os filhos não vão considerar a violência ‘normal’ e fazer o mesmo quando adultos. Ao quebrar o ciclo, mostramos a todos que a vida é bonita e que a gente precisa agir para construir coisas boas e melhorá-la”, afirmou Luiz Gibier.

Promotora analisa atendimento

A promotora Nicole Frossard De Filippo, atualmente na 3ª Vara Criminal, atuou durante três anos na 2ª Vara Criminal, que recebe os processos da Lei Maria da Penha. Por isso, acompanhou a instalação e os anos iniciais do atendimento no Centro de Psicologia Aplicada.

“O perfil do condenado encaminhado para o projeto é o do réu primário, para impedir que ele volte a cometer atos de violência. Faz parte das condições a serem cumpridas, na pena estabelecida em julgamento. Ao final das sessões, eles recebem um certificado que é juntado ao processo. Realmente tem diminuído a reincidência deles na violência doméstica”, disse ao G1.

De acordo com a promotora, outros municípios que queiram implantar a iniciativa precisam ficar atentos aos detalhes importantes ao atender vítimas e agressores nos casos de violência doméstica.

“A repressão do crime na Polícia Civil, o amparo às vítimas da violência, o atendimento ao homem agressor não podem ser misturados ou algum deles esquecido. Não basta proteger a mulher e os filhos, se houverem, também tem que tentar modificar o comportamento do homem. O agressor não pode ser atendido no mesmo lugar onde as vítimas recebem assistência. Tudo faz parte de um processo muito amplo, que sabemos nem sempre dá resultado. Nem todos conseguem, mas o balanço é positivo”, afirmou a promotora.

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Veículo: Tribuna de Minas

Editoria: Cidade

Data: 01/04/2018

Link:https://tribunademinas.com.br/noticias/cidade/01-04-2018/segunda-graduacao-e-aposta-de-quem-busca-realizar-sonhos-e-projetos.html

Título: Segunda graduação é aposta de quem busca realizar sonhos e projetos
Para especialista, mudança pode ocorrer por insatisfação com mercado, desemprego e tentativa de adaptação a novas demandas

A procura por uma segunda graduação tem sido crescente em instituições de ensino de Juiz de Fora e de outras cidades. O comportamento já havia sido identificado no último Censo do IBGE, realizado em 2010, que apontava que 10,8% dos universitários do país cursavam o segundo curso superior. Oito anos depois, faculdades do município registram que esta demanda por novas carreiras em uma área bem diferente da que foi escolhida anteriormente continua aumentando. O índice mais significativo entre as instituições pesquisadas pela reportagem se dá no Centro Universitário Estácio JF, onde, este ano, 20% dos matriculados estavam em segunda graduação, enquanto, no ano passado, eram 9%. No Instituto Vianna Júnior, o índice pulou de 3% em 2015 para 8% em 2017. Já na Suprema, 4,5% dos estudantes matriculados este ano estão cursando a segunda graduação. Na UFJF, não é feito levantamento de alunos que concluíram a graduação em outras instituições. Em relação ao número de alunos já graduados que continuam estudando, em 2017, eram 98, e, em 2016, 248.
Para a pedagoga e doutora em educação Ilda Micarello, esse fenômeno não se manifesta igualmente em todas as faixas etárias. “Com os mais jovens, muitas vezes, se observa que, quando acabam de concluir uma graduação e retornam em um período de tempo curto para uma segunda graduação, isso pode ter relação com o fato de que o mercado de trabalho não tem mostrado condições de absorver todas as pessoas. Assim, permanecer na universidade é uma alternativa para não ficar naquela situação de não estar fazendo nada. No caso da universidade pública, há algumas possibilidades em que ser estudante de graduação é até melhor do que ser um profissional já formado e desempregado. Por exemplo, o envolvimento com bolsas de iniciação científica, de treinamento profissional ou de apoio estudantil”.
Já em relação aos mais experientes, a pedagoga identifica um outro perfil. “Aquele profissional que se formou há algum tempo e se encontra, de algum modo, insatisfeito com a carreira e retorna para uma nova graduação. Isso tem a ver com um fenômeno do nosso tempo, que é o fato de que, muitas vezes, você se forma para uma carreira, que rapidamente fica obsoleta. A sociedade muda tão rapidamente, que uma carreira que, em dado momento, parecia promissora, num intervalo de tempo muito curto, já se mostra obsoleta. Então a pessoa busca uma nova graduação para poder fazer a opção por uma carreira que seja, naquele momento, mais promissora. Isso advém de uma insatisfação, mas não necessariamente porque aquela primeira opção não tenha sido uma boa escolha, mas porque ela já não é mais tão viável. A pessoa busca se adequar a essa nova demanda do mercado de trabalho.”
Depois de fazer Administração, Karoline Turba voltou ao mundo acadêmico para cursar Design de Moda (Foto: Marcelo Ribeiro)
O curso de Design de Moda sempre foi a maior área de interesse da estudante Karoline Turba, 27 anos. No entanto, sua primeira graduação foi em Administração de Empresas, pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). “Ingressar no Design de Moda era o meu sonho, mas infelizmente, por questões financeiras, minha mãe não tinha condições de me ajudar.” Nessa época, os pais de Karoline se separaram, e, apesar de a mãe dela trabalhar, a então vestibulanda precisou assumir responsabilidades financeiras da casa, já que a renda era pouca, e havia mais dois irmãos pequenos para sustentar. Ela chegou a passar no vestibular da UFJF para cursar o tão desejado curso, mas por ser uma graduação que oferece aulas em período integral, precisou abrir mão por conta da situação da família. “Optei por Administração porque era um curso que eu conseguiria emprego mais rápido. Não podia abandonar minha família naquele momento.”
Karoline diz que cursar Administração não foi prazeroso, mas que as circunstâncias falaram mais alto. “Não era algo que eu me identificava muito, eu estava lá mais pela circunstância, porque precisava estudar para trabalhar. Dava desânimo sim, mas eu pensava que tinha que terminar.”
Ela diz que não se arrepende de ter se formado em Administração e acredita que conseguirá aliar as duas profissões: “Cursar Administração me trouxe certa maturidade. Hoje tenho uma visão muito diferente em relação a mercado e conseguirei explorar minha carreira melhor”.
Após se estabilizar profissionalmente e contando com o apoio moral e financeiro do marido, que, na época como namorado, acompanhou a sua decisão em prol da família, ela ingressou, há dois anos, no curso de Design de Moda.
Conhecimentos de áreas distintas
Graduada em Medicina Veterinária pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e atual estudante de Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Raphaela Mansur, 28, conta que sempre quis lidar com a área da saúde e por isso escolheu Veterinária, mas a rotina e a falta de valorização da profissão a frustraram. “Quando eu percebi que não iria atuar como veterinária, comecei a tentar outras oportunidades. Alguns amigos de faculdade, que tinham passado em programas de trainee para sair da área, sugeriram que eu trabalhasse em alguma empresa. Nessa época eu ainda estava muito perdida em relação ao que eu ia fazer, então comecei a fazer uma pós-graduação em Administração”, conta Raphaela, que, durante a pós, descobriu um talento para as ciências exatas. Foi então que, após algumas conversas com professores da UFJF, ela decidiu que cursaria Engenharia Elétrica. O plano de Raphaela é aliar as áreas de formação, criando tecnologias em prol da saúde dos animais. “Eu acredito que meu trabalho só é válido se melhorar a vida de alguém. Quando você melhora a saúde e a qualidade de vida de um animal, você imediatamente melhora a vida de todos ao redor do paciente, então nada melhor do que atuar na área da saúde usando as habilidades e facilidades que eu tinha que eram na área de exatas.”
Vontade de empreender abre novas possibilidades de carreira
Os graduados em Direito pela UFJF, Thiago Massena, 33, e Fernando Junqueira Marques, 33, viram suas carreiras se transformarem totalmente devido ao espírito empreendedor. Thiago, formado em 2008, passou um ano em São Paulo após a formatura e retornou para Juiz de Fora para estudar para concurso, o que não era exatamente o que ele pretendia. Em 2012, abriu um escritório de advocacia junto com Fernando, que havia concluído o curso em 2010, e um terceiro sócio, Luís.
Cerca de um ano e meio depois, os três sócios, movidos pelo desafio e pela oportunidade de ter uma renda maior, resolveram deixar a advocacia em segundo plano e explorar um nicho de mercado antes nem cogitado. “Eu pensava em me especializar em um segmento de clientes, e, diante disso, começamos a discutir o que seria mais interessante para se especializar. O pai do Luís é do setor elétrico brasileiro e apresentou para a gente o nosso outro sócio, que é engenheiro elétrico. Ele tinha ideias e também a vontade de empreender, e vimos ali a oportunidade de realizar a vontade que estávamos amadurecendo”, conta Fernando. Assim nasceu a Arion, empresa voltada para otimização energética.
Otimização
Conforme a empresa crescia, a necessidade de mão de obra aumentava, então Thiago teve que deixar o trabalho no escritório de advocacia para coordenar a área financeira da empresa, parte que, até então, era desconhecida para ele. “Como a minha formação não era voltada para a área, eu resolvi fazer Ciências Contábeis.” Apesar da decisão, Thiago diz que só cursa esta graduação por necessidade, já que não é uma forma de realização pessoal. “Foi uma maneira de me alfabetizar em uma área que eu precisava saber e opinar. A faculdade me traz desempenho profissional, a parte de satisfação vem com o empreendedorismo.”
Mercado pode não pagar ‘o quanto você vale’
A pedagoga Ilda Micarello avalia que o mercado pode não dar o retorno esperado para uma pessoa que possui mais de uma graduação. “Estamos em um período de recessão da economia, não só no Brasil, o que significa que a qualificação, embora possa ser um diferencial, só vai sê-lo, realmente, nos casos de carreiras de grande especialização, quando você tem uma formação que é um diferencial na sua área. São, em geral, formações que pegam um nicho de mercado pouco explorado ou que trazem uma experiência inovadora, pois aí você tem uma moeda de troca forte. Um conhecimento do qual a sua empresa, a sua organização realmente necessita e por isso ela vai te pagar mais por isso. Caso contrário, não faz diferença você ter uma, duas, três graduações, até porque não existem tantos bons postos de trabalho assim. Às vezes, a empresa até reconhece seu valor, mas não há condições de pagar aquilo que você vale.”

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Veículo: Tribuna de Minas

Editoria: Colunas

Data: 01/04/2018

Link: https://tribunademinas.com.br/colunas/cesar-romero/01-04-2018/papo-de-domingo.html

Título: Papo de Domingo: Uma vida intensa entre a educação e a política

Papo de domingo
Maria Luiza de Oliveira Moraes
Uma vida intensa entre a educação e a política
Suas origens são humildes. Filha de Alice e Júlio Martins, ela nasceu na Fazenda do Ribeirão, em Bicas, para iniciar, em Juiz de Fora uma vida pública marcada por intenso e bem sucedido trabalho na educação e na política. Primeiro, formou-se em Farmácia e Bioquímica na UFJF com pós-graduação em Análises Clínicas na UFRJ. Mas a vocação para o magistério levou Maria Luiza a cursar também Pedagogia, na UFJF e Psicologia, no CES. Por 26 anos foi professora do curso de Farmácia e Bioquímica da UFJF e do Instituto Granbery, além de fundadora e professora do curso de Psicologia da Faculdade de Cataguases. Fora da sala de aula, Maria Luiza foi bioquímica do antigo DAE, hoje Cesama, vereadora, secretária de Educação e de Governo, além de superintendente da Amac.
CR- Como vereadora quais foram as maiores dificuldades no exercício do legislador?
– Fui Vereadora de 1983 a 1996, um mandato de 6 anos e dois mandatos de 4 anos. Neste tempo, a Câmara era muito modesta, de tal forma que os vereadores não tinham gabinete individual e atendiam no salão de entrada do prédio, com mesas colocadas umas ao lados das outras. Tudo muito simples, sem verbas de gabinete e outras vantagens que existem
atualmente para favorecer o cumprimento do mandato. As dificuldades eram as mesmas de hoje, o vereador era visto como executor de obras e não como legislador e fiscal do executivo. Muitas cobranças, especialmente no primeiro mandato, quando o eleitor espera que o vereador, no qual votou, vai resolver todos os seus problemas, pessoais e da sua comunidade. As reeleições são mais difíceis.
– Vera Faria e Helena Bittencourt foram as únicas mulheres, antes de você, e Raquel Scarlatelli que ocuparam uma cadeira na Câmara. Por que ainda hoje a participação feminina é pequena no parlamento?
– Acredito que esta pouca presença da mulher no Legislativo e nos cargos públicos de maneira geral, ocorre devido ao machismo que impera no mundo e onde a mulher através de muita luta tem conseguido avançar, mas ainda está longe de atingir a sonhada igualdade.
– Na sua visão, o que aconteceu para que o exercício da política ficasse, nos dias de hoje, tão desacreditado?
– Acho que devido aos escândalos nos quais os políticos estão envolvidos: corrupção, recebimento de propina e desvio de dinheiro público, manchetes que ocupam nossos meios de comunicação todos os dias. Está muito difícil acreditar nos políticos, com raras e honrosas exceções… Hoje, até o Judiciário está desacreditado, especialmente os tribunais superiores, desvirtuando totalmente o papel que lhes cabe, ou seja, a de guardiões da Constituição e de imparcialidade nos julgamentos.
– Hoje, na coordenação da Casa da Mulher, como vê a importância (na prática) da Lei Maria da Penha?
– É um divisor de águas no que se refere ao rigor na punição dos agressores das mulheres, vítimas da violência doméstica. A Casa da Mulher foi criada pelo prefeito Bruno Siqueira, em 2013, exatamente 30 anos depois que a Maria da Penha sofreu a agressão que lhe deixou paraplégica. A Casa da Mulher atende exclusivamente as vítimas da violência doméstica. É um trabalho altamente gratificante. Nestes quase cinco anos, já foram atendidas, aproximadamente, 12 mil mulheres.
– Como é o quadro de violência contra a mulher? Quantas denúncias ou procura de apoio por mês?
– O quadro caracteriza-se pelos cinco tipos de violência preconizados pela Lei Maria da Penha – psicológica, moral, física, sexual e patrimonial. Mensalmente temos uma procura média de 200 a 250 casos. Acredito que a vigência da lei encorajou as mulheres a denunciarem situações suportadas em silêncio por anos a fio, pois o machismo e a impunidade causavam medo e faziam com que as mulheres sofressem caladas todos os tipos de violência no âmbito familiar.
– Você foi também secretária municipal de Educação no período áureo de implantação das escolas de educação infantil (Emeis). Foi uma boa experiência?
– Esta foi uma das fases mais importantes e felizes da minha vida pública. Como secretária na administração do prefeito Mello Reis, construímos várias escolas, sendo quatro de ensino fundamental e treze de educação infantil. Foi criado na nossa gestão o Departamento de Esportes, implantando aulas de educação física nas escolas, até então inexistentes. Foi construído, em 1982, o Centro de Apoio ao Esporte Amador – Cesporte, para abrigar as Ligas Esportivas e hospedar equipes das modalidades de esportes, especialmente de voleibol, que vinham à cidade disputar partidas de campeonatos mineiro e nacional.
Ping Pong
Viagem inesquecível: Turquia e Grécia, com Capadócia, Desviches Rodopiantes, Casa de Nossa Senhora, Ilhas Gregas
Um escritor: Augusto Cury
Uma escritora: Cecília Meireles
Melhor livro: “O Vendedor de Sonhos”
Um grande político: Francisco Antonio de Mello Reis
Ator: Clark Gable
Atriz: Elizabeth Taylor
O filme: “Em algum lugar do passado”
Grife: Ray Ban
Prato preferido: Bacalhoada
Sobremesa: Goiabada com queijo Minas
Candidato a presidente: Ainda não tenho. Está difícil escolher no cenário atual.
Opção de lazer: Viajar
Time do coração: Vasco da Gama e Tupi
O que mais irrita: A corrupção no Brasil e a partidarização do STF.
Um momento mágico: O recebimento do título de cidadã honorária de Juiz de Fora, apresentado pelo vereador João Carlos Campos.
Uma frase: “O saber a gente aprende com os mestres e com os livros. A sabedoria se aprende com a vida e com os humildes”, de Cora Coralina.

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Veículo: Tribuna de Minas

Editoria: Política

Data: 01/04/2018

Link: https://tribunademinas.com.br/noticias/politica/01-04-2018/mulher-na-politica-ainda-e-desafio.html

Título: Mulher na política ainda é desafio
Com baixa representatividade nos cargos do Executivo e Legislativo, mulheres enfrentam barreiras dentro dos próprios partidos

Nas eleições de 2016 em Juiz de Fora, apenas duas das 19 cadeiras da Câmara Municipal foram ocupadas por mulheres. Apesar de 54% do eleitorado do município ser composto por eleitoras, as 131 candidatas ao Legislativo Municipal receberam apenas 16,1% do total de votos. A média é pouco melhor quando se trata do Executivo: 24% dos eleitores votaram em três candidatas que concorreram à Prefeitura – os outros quatro eram homens. Ainda assim, a cidade continua sem nunca ter eleito uma prefeita. Os dados são do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e apontam uma realidade que ainda atinge as três esferas do Governo no Brasil: a sub-representação feminina na política brasileira.
Ranking elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado no ano passado, revelou que o Brasil ocupa o 154º lugar em representação feminina nos parlamentos mundiais, com 55 das 513 cadeiras da Câmara dos Deputados ocupadas por mulheres, o que equivale a apenas cerca de 10% do total. No Senado, dos 81 senadores em exercício atualmente, 13 são mulheres (16%). O resultado deixa o Brasil na retaguarda em termos de representação feminina nos parlamentos, atrás de países como Afeganistão e Arábia Saudita.
Os dados não refletem o perfil do eleitorado. Dados do TSE revelam que, de um universo de 1.703.673 mineiros filiados a partidos políticos, 697.614 são mulheres, o que equivale a 40,9% do total. O índice pode parecer alto, mas a proporção de candidatas a cargos públicos é destoante. Em Minas Gerais, nas eleições de 2016, 2.199 homens se candidataram a prefeito, enquanto apenas 216 mulheres tentaram o mesmo cargo, o que equivale a 9%. Para os cargos de vereador, em que vale a Lei de Cotas, 49.140 mineiros se candidataram (67%) contra 24.199 mineiras (33%).
São números que colocam em xeque medidas adotadas para garantir a representação feminina na política, como a Lei de Cotas, que obriga os partidos a preencherem, no mínimo, 30% das candidaturas de cada coligação com candidatos de um dos gêneros. A medida, no entanto, não garante a eleição mínima de candidatas, já que não reserva parte dos assentos. A consequência é o subaproveitamento de mulheres que poderiam estar engajadas, mas candidatam-se apenas para cumprir a lei, por pressão dos partidos. Prova disso são as candidaturas fictícias, quando a votação que uma candidata recebe é ínfima em comparação com a quantidade de votos necessárias para que ela seja eleita.
Para Laiz Perrut, os partidos ainda veem os homens com mais chance de vitória/ Margarida Salomão defende melhor distribuição de recursos de campanha/ Para Marta Mendes, pouco é feito para levar as mulheres para a esfera pública
Causas de baixa representação feminina são multifatoriais
A questão esbarra em outros problemas. As mulheres são 52,2% da população do Brasil, conforme o TSE, mas não elegem mulheres. Nas eleições de 2016, de 5.477 prefeitos eleitos em todo o país, apenas 639 eram mulheres, índice que representa 12% do total de chefes do Executivo eleitos. Em um momento de polarização política, em que muito se discute os problemas e pouco se fala em como solucioná-los, a falta de mulheres na política institucional reflete fatores culturais retrógrados, que minam o papel da mulher enquanto agente modificador na sociedade. A avaliação é da cientista política e professora do Departamento de Ciências Sociais da UFJF, Marta Mendes.
Para a professora, pouco é feito para levá-las para a esfera pública e muitos são os fatores que contribuem para que elas ainda mantenham distância do segmento. Por isso, as inúmeras falácias que envolvem o tema, como a de que “mulher não serve para política” ou de a de que elas “não gostam de política”, devem ser desconstruídas imediatamente. Só assim haverá, de fato, representação feminina equivalente ao papel que a mulher ocupa na sociedade, defende.
Marta Mendes acredita que as causas para a sub-representação feminina na política institucional são multifatoriais e envolvem questões culturais, políticas, sociais, econômicas, institucionais e estruturais. “Apesar de a mulher estar cada vez mais presente em todos os segmentos e de muitas serem chefes de família, ainda vemos uma sub-representação absurda nas três esferas de Governo do Brasil. Elas estão presentes no mercado de trabalho, nas universidades e são a maioria da população. Já temos conquistado bastante, mas não vemos avanços correspondentes em outras áreas. É preciso começar a construir uma ideia de competência feminina para tarefas de governo.”
Conforme Marta, a dimensão cultural envolve a associação do homem com a política e a ideia de que a mulher não serve para a esfera pública. “O elemento cultural de que política não é coisa para mulher é muito forte. Existe uma noção de que ela não estaria apta para este meio e de que não reúne as competências e habilidades necessárias. Mas também há razões de ordem institucional que precisam ser consideradas. Nosso sistema eleitoral não favorece a representação das mulheres, porque se vota em um candidato por meio da lista aberta e acaba-se induzindo uma certa personalização. Investe-se muito mais em reputação pessoal do que em reputação partidária. Além disso, a luta no interior dos partidos é muito acirrada, e as mulheres não recebem o apoio que deveriam. Não se investe em programas de formação política e de recrutamento de mulheres, e os partidos fazem o mínimo que a lei obriga.”
A longo prazo, as consequências são a falta de representação e de engajamento feminino nas instâncias onde as mudanças deveriam, de fato, ocorrer. “Construir a ideia da competência feminina para o governo leva tempo. Isso depende do maior envolvimento das mulheres na política e de uma crítica ao status quo. Como é que as mulheres podem estar tão ausentes? Quais são as consequências disso do ponto de vista dos temas que interessam às mulheres e as afetam mais particularmente? Se elas não estão presentes nos espaços onde as decisões são tomadas e suas lutas podem ser colocadas na agenda, a tendência é que as mulheres continuem invisibilizadas, recebendo menor atenção dos agentes públicos, e que tudo se mantenha como está.”
Lei de Cotas é insuficiente
O sistema eleitoral vem sofrendo uma série de modificações desde a criação do Código Eleitoral de 1932, legislação que instituiu a Justiça Eleitoral e passou a regulamentar as eleições brasileiras. Foi o Código de 1932 que reconheceu a mulher como eleitora, quase 50 anos após a eleição do primeiro presidente do Brasil, o Marechal Deodoro da Fonseca, por meio de votos indiretos. Porém, a carga histórica é só um dos fatores que culminam na ideia de que mulher e política não combinam.
Apesar de a inserção da mulher no sistema eleitoral ter ocorrido tardiamente, o Brasil foi pioneiro no voto feminino, em comparação com outros países, mas isso não garantiu que as mulheres tivessem plena participação política. Uma das principais problemáticas tem a ver com o parágrafo terceiro do artigo 10 da Lei 9.504/1997, ou Lei das Eleições. O trecho, denominado como Lei de Cotas, define que “do número de vagas resultante das regras previstas neste artigo, cada partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas de cada sexo” nas eleições proporcionais para cargos legislativos, ou seja: vereadoras ou vereadores, deputadas ou deputados estaduais e federais.
A redação da lei não explicita que o mínimo de 30% deve ser de candidaturas do sexo feminino, segundo o cientista político e professor da UFJF Paulo Roberto Figueira Leal, mas a lei foi feita para contemplar as mulheres, já que a maioria dos candidatos a todos os cargos políticos é homem, historicamente. Porém, a lei não é suficiente para cumprir o que propõe. “É melhor que haja essa lei do que não haver nada nesse sentido, mas ela é claramente insuficiente. Tanto que isso não se refletiu em 30% das mulheres ocupando cargos legislativos no Brasil. Os partidos cumprem essa cota chamando mulheres que, na prática, não querem ser candidatas, e que vão apenas constar nas coligações.”
Candidaturas fictícias
A falha da legislação e a falta de incentivo resultam nas candidaturas fictícias, prática comum entre partidos e coligações. Com isso, as candidaturas são registradas, mas as candidatas e os partidos não trabalham para terem votação expressiva. Segundo levantamento da Tribuna, com base em dados do TSE, dos 47 candidatos a vereador que tiveram 50 votos ou menos na última eleição em Juiz de Fora, 32 eram mulheres. Destas, três não receberam nenhum voto, o que significa que nem as próprias candidatas votaram em si mesmas.
Para o cientista político, esses são exemplos óbvios de candidaturas fictícias. “Alguém que quer se eleger vereador tem que buscar centenas ou milhares de votos e, se não busca, é uma clara indicação de que aquele nome só está compondo lista.”
Em visita a Juiz de Fora, a ministra aposentada do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Eliana Calmon, foi enfática ao dizer que há muito a ser feito, mas advertiu que as mulheres precisam reagir e deixar de ser fantoches dos dirigentes partidários. E deu números. No pleito de 2014, cerca de 18 mil mulheres não obtiveram um só voto embora fossem candidatas.
30% das verbas de campanha para elas
Conforme a deputada federal Margarida Salomão (PT), a melhor distribuição dos recursos pode ser uma mudança importante para modificar a problemática da sub-representação feminina. “As candidaturas fictícias têm sido uma realidade em todas as eleições que temos disputado. Uma mudança relevante é a proposta de que 30% dos fundos de campanha sejam gastos com candidaturas femininas. Assim começamos a ter uma correspondência prática da Lei de Cotas. Quando isso não acontece, a legislação acaba sendo uma prática meramente burocrática, que tem que ser cumprida como uma exigência legal, mas não como uma condição de expressão das políticas.”
Para a cientista política Marta Mendes, a má distribuição dos recursos partidários afeta diretamente o desempenho das mulheres. “Dinheiro é um fator decisivo, então a distribuição de recursos dentro do partido também é um problema. Mesmo com as mudanças recentes, os partidos têm bastante liberdade para definir como vão distribuir internamente os recursos do fundo partidário. Como existe uma tendência desfavorável às mulheres, se não houver nada que obrigue os partidos a alocarem recursos a favor delas, a tendência é que elas continuem sem conseguir reunir condições necessárias para competir em condições mínimas de igualdade”, pontua.
Tanto Marta Mendes como o cientista político Paulo Roberto consideram que uma solução viável seria a introdução de um sistema eleitoral de lista fechada, como já acontece na Argentina. Os partidos apresentam listas com os candidatos ao parlamento, com alternância de gênero, e os eleitores votam nos partidos. Assim, necessariamente, a metade ou quase metade dos eleitos será mulher. “O sistema adotado na Argentina é o preferido pelos movimentos de mulheres no Brasil, porque são listas fechadas com colocação das mulheres em posições competitivas. É importante ressaltar que só a lista fechada não interessa às mulheres, porque os líderes têm liberdade para organizar a ordenação dos nomes, e a tendência é que elas fiquem no final. Esse esquema só interessa quando há alternância de gêneros, e assim se garante condições muito melhores para a representação das mulheres”, explica Marta.
Paulo Roberto aponta ainda a falta de estrutura oferecida pelos partidos. “Há um caldo cultural profundamente machista na sociedade brasileira. Poucos são os partidos políticos que têm programas de incentivo para a inclusão feminina, com ações práticas para atender suas demandas, como garantia de creche para elas deixarem os filhos enquanto participam de atividades políticas. A jornada dupla de trabalho impõe especificidades de horários que as estruturas dos partidos não consideram”, enumera o especialista.
Falta incentivo e apoio partidário
Para a vereadora Sheila Oliveira (PTC), a falta de incentivo financeiro e partidário compromete as candidaturas femininas. “O incentivo financeiro precisa ser revisto para que haja uma repartição igualitária dos recursos. Sabemos que a candidatura tem gastos sociais e financeiros, e, muitas vezes, não somos contempladas com esse incentivo justamente por causa do preconceito, da ideia de que a mulher não tem voz, de que ela não vai se dedicar ou de que não tem interesse em fazer uma campanha para contribuir com o partido. Em contrapartida, sabemos que a renda per capita das mulheres é inferior à renda dos homens, um complicador no caso de bancar uma candidatura própria, principalmente porque sua renda incorpora o patrimônio familiar, o que pode gerar falta de apoio do próprio companheiro ou marido.”
Para Laiz Perrut, suplente de vereador pelo PT e integrante do coletivo feminino Maria Maria e da Marcha Mundial das Mulheres, a mentalidade de que o homem é mais forte ainda é recorrente em todos os partidos, independentemente da vertente política. “Ser mulher e tentar se candidatar é muito problemático em vários sentidos. No âmbito institucional, em todos os partidos, sejam de direita ou de esquerda, os homens são vistos com mais chance de ganhar e recebem mais auxílio. As pessoas não levam as mulheres muito a sério. Como candidata a vereadora, por ser muito jovem, por ser mulher e por levar as pautas da juventude, muitas vezes fui questionada se teria capacidade de assumir se eu ganhasse a eleição”, conta.
Sem direito à voz em palanques e comícios
As mulheres saem em desvantagem em outros quesitos, conforme a vereadora Ana Rossignoli (MDB). Um exemplo é a censura da participação delas em espaços como palanques eleitorais e outras formas de divulgação das campanhas, que deveriam ser igualitárias. “Muitas das vezes, em comícios e reuniões públicas, é podado à mulher até mesmo o direito à voz. Para elas, sobram os últimos segundos, para que elas falem pouco. A mulher tem sido utilizada na política para carregar as pedras e eleger o homem, entrando com os votos na coligação para eleger o sexo masculino”, lamenta a vereadora.
Um comportamento supostamente feminino também é uma das cobranças esperadas pela sociedade, conforme a visão machista sobre os deveres e obrigações da mulher. “A percepção que eu tenho, é que, por ser mulher, as coisas são mais difíceis. O preconceito em relação às mulheres ainda é muito latente, então temos que tomar um cuidado muito maior com nosso comportamento e posturas. Somos muito mais pré-julgadas e cobradas do que os homens”, afirma a vereadora Sheila Oliveira.
Para ela, a cobrança exacerbada pelo comportamento feminino acaba sendo um fator desestimulante para as mulheres que desejam entrar na política. “Por sermos mulheres, precisamos primeiro dar conta do que a sociedade rotula como nossas obrigações, como cuidar da casa, da família, dos filhos, entre outras coisas. Só somos bem vistas se, de fato, conseguimos dar conta de tudo. Isso é um fator cultural que acaba desencorajando as mulheres a entrarem para a vida pública, porque não é fácil suportar todos esses questionamentos.”
Mulher não vota em mulher?
Será que mulher não vota em mulher? Segundo a cientista política Marta Mendes, essa é uma questão complexa de identidade e representação. Primeiro, é preciso observar que as mulheres não são só mulheres: elas são profissionais, chefes de família, participam de certo grupo racial, social, religioso, entre outros. Essas separações fazem com que as identificações que as eleitoras sentem com as candidatas sejam diferentes. Mas, para ela, se a ideia é mobilizar as eleitoras para votarem em mulheres, a partir desse elemento principal, o foco deve ser naquilo que a experiência de ser mulher tem de singular.
“Se queremos mobilizar as mulheres a partir da identidade de ser mulher, o foco deve ser nesse significado dentro da nossa cultura e sociedade. Ser mulher é uma experiência diversa e que varia, mas há um conjunto de elementos que nos aproximam. Por isso, é preciso trabalhar em cima deles, nem que seja tomando como base nossa condição de opressão na sociedade, ou as experiências de abuso, assédio sexual, discriminação e preconceito que nós vivemos exclusivamente pelo fato de sermos mulheres”, pontua Marta.
Conforme a especialista, para isso, é preciso que movimentos sociais e feministas – e as representantes mulheres que conseguem “furar o bloqueio” e chegar ao espaço de mudanças na política institucional – dialoguem em busca de um denominador comum. “Esses elementos de discriminação condicionam nosso modo de vida e nossas chances na sociedade enquanto mulheres, como progredir na carreira, ter direitos e integridade físicas respeitados. É a partir do momento em que essa consciência fica mais clara que é possível mobilizar. É aí que os movimentos são importantes, para que todas as mulheres sejam mobilizadas a partir dessa experiência comum, entendendo a importância de terem mais voz nos espaços de tomada de decisão.”
Mudança
Para a deputada federal Margarida Salomão (PT), o processo de envolvimento da mulher com a política é gradual. Na visão dela, uma mudança está próxima, mas é preciso esforço. “As mulheres vão se dar conta de que a ausência delas na política institucional torna essa política muito mais insuficiente e muito pior do que se elas estivessem presentes. Mas isso será mudado com luta. Já vejo várias mulheres sendo bem votadas pelo Brasil inteiro. Elas estão, cada vez mais, em espaços que viabilizam a expressão política. Existe o crescimento de um sentimento muito forte de que a questão do gênero é uma questão política, e continuamos nessa luta, mesmo com violências como as que afetaram a Marielle Franco (vereadora do PSOL no Rio de Janeiro, assassinada em março), que era uma mulher que fazia a luta das mulheres.”
Laiz Perrut (PT) também acredita que as mulheres vão conquistar o espaço que lhes é de direito. “A essência da nossa sociedade é machista. O homem foi criado para estar nos espaços públicos e a mulher, nos privados. Mas, aos poucos, vamos conquistando. Precisamos votar em mulheres, mas que sejam comprometidas com a luta das mulheres, em transformar o mundo, em acabar com a violência. Queremos, sim, que tenha mais mulheres na política, mas que elas sejam comprometidas com nossa causa.”

É preciso ocupar espaços
A falta de representatividade em diversos segmentos tem gerado debates sobre a importância de se sentir representado por alguém que conhece as vivências de determinado grupo e defende seus direitos. Apesar de não serem minoria numérica, as mulheres também carecem de mais representatividade. O Fórum 8M defende que as mulheres precisam ocupar espaços de discussão, se organizando para atuar na política, seja ela institucional ou não. “Isso significa que as mulheres precisam de espaço nas escolas, no mercado de trabalho, nos bairros. A consequência da inserção dos debates do movimento feminista e do feminismo nesses locais é uma representatividade maior para a mulher. Queremos mais do que ter uma mulher vereadora, prefeita ou deputada. Queremos mulheres que façam uma discussão coletiva sobre as mulheres”, afirma a articuladora do 8M e professora de História, Lucimara Reis.
A professora critica a forma como os problemas são colocados atualmente em Juiz de Fora. “Falta uma representação que leve em conta a coletividade. Quando se discute apenas a situação da violência contra a mulher, por exemplo, descolada de uma realidade de um sistema patriarcal, opressor e capitalista, você não consegue resolver, de fato, aquela questão. Atacam-se alguns sintomas e propõem-se paliativos, mas não resolve o problema. Questões de gênero, raça e classe social estão todas intrincadas. Essa representação é, então, uma representação das mulheres, ou uma representação individual que não leva em conta a coletividade?”
De acordo com Lucimara, o empoderamento individual que a política institucional proporciona nem sempre é retrato da categoria que o político representa. Por isso, “é preciso se pensar em uma sociedade em que haja, de fato, equidade de gênero. A frente parlamentar é uma das frentes de atuação, mas não é a única nem a mais importante. Ela tem como objetivo orientar a população para escolher seu representante, buscar seu direito e lutar para que haja política pública efetiva.” Assim, a representante terá apoio de mulheres com as mesmas causas, presentes em outros segmentos, capazes de pressionar o Estado para que suas lutas sejam reconhecidas.
Importância de diálogo e mobilização
Para a cientista política Marta Mendes, é preciso que haja diálogo entre movimentos sociais e representantes eleitos. “Não podemos partir do princípio de que as mulheres sempre vão representar melhor os interesses das mulheres. Por isso é tão importante que os movimentos ativem o Estado e os agentes públicos. Temos que pavimentar os caminhos de diálogo. Se um movimento feminista tem uma demanda e se há vereadoras na cidade, por que o movimento não enxerga nelas potenciais aliadas? Os representantes respondem de acordo com os estímulos que recebem. Todos se modificam. Explorar esse caminho é uma boa estratégia. É importante ter mulheres feministas alinhadas com essa luta, mas também é importante tentar ativar essa identidade nas mulheres que já estão eleitas.”
Paulo Roberto Figueira Leal, professor da UFJF, também acredita que mobilização e diálogo são parte da solução para a sub-representação feminina na política. “Não há solução se ninguém se mobilizar para tentar mudar. E não há como mudar o sistema político apenas falando mal dele. A primeira necessidade é que as pessoas se engajem politicamente nos espaços possíveis. Temos que pensar em medidas combinadas em todos os níveis para darmos um salto da atual situação de sub-representação para um cenário em que a maioria do eleitorado possa, de fato, ter também representação na Câmara, no Senado, nas assembleias legislativas, nos governos dos estados e assim sucessivamente”, defende.

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Veículo: O Tempo

Editoria: Política

Data: 01/04/2018

Link:http://www.otempo.com.br/capa/pol%C3%ADtica/viol%C3%AAncia-no-brasil-deve-crescer-durante-a-campanha-eleitoral-de-2018-1.1590988

Título: Violência no Brasil deve crescer durante a campanha eleitoral de 2018

Morte de vereadora, no Rio, e tiros em caravana de Lula, no Sul do país, repercutiram mundialmente

As eleições de 2018, consideradas imprevisíveis até o momento diante do quadro de crise política e econômica do país iniciado ainda durante a disputa presidencial de 2014, ganharam um novo e perigoso ingrediente: a violência.

O ataque a tiros à caravana do ex-presidente Lula (PT), no Paraná, e o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) deixaram o país em alerta sobre o radicalismo do discurso e das ações de grupos de militantes. Na visão de especialistas, esse cenário deve se arrasta durante este ano, com o risco de agravamento no início da campanha.

Segundo o cientista político da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Paulo Roberto Figueira, é muito provável que essas eleições tenham um nível alto de violência, inclusive física, maior do que as anteriores, desde a redemocratização.

De acordo com Figueira, esse cenário se dá pelo acirramento dos ânimos da população, pela percepção contrária à política muito disseminada e pela falta de ambiente de conversação, seja nas redes sociais, seja no mundo institucional. “A última campanha já foi mais radicalizada do que as anteriores e, de lá para cá, a situação se agravou. Há um conjunto de variáveis que, se em 2014 já indicava um nível de polarização e falta de conversação. Agora a tendência é que tenhamos isso mais intensamente do que antes”, diz.

Figueira pontua que, antes, as ofensas verbais já estavam muito presentes, e que, agora, tiros já foram disparados. “À medida que a campanha avance para níveis de polarização mais intensos e que o ambiente fique mais quente, o cenário se torna muito perigoso”, afirma.

Segundo Figueira, é preciso ficar atento nesse momento crítico da democracia brasileira. “É preciso ligar o sinal amarelo, se queremos ter um processo eleitoral e que institua um governo cujas fontes em implementação de políticas públicas seja o voto. Temos que garantir que haja condições de as eleições transcorreram como devem transcorrer, com debates de ideias e não no debate da bala,” afirma.

O cientista político da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Lucas Cunha considera que o clima da eleição deste ano será muito tenso. “Todos os candidatos estarão sujeitos a essa polarização, que reflete a polarização de uma sociedade que está extremamente insatisfeita com a política, extremamente desgastada com os escândalos políticos”, argumenta.

Cunha explica que essa campanha vem depois de um processo controverso, que foi o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). “Esse fato polarizou a sociedade brasileira de uma maneira que fez com que parte da população fosse às ruas, fosse debater isso como um processo de golpe. O impeachment não acalmou os ânimos na disputa política no Brasil”, afirma.

Outro fator que, segundo Cunha, fará com que a tônica dessa campanha seja bastante polarizada é a situação de Lula na Justiça. Condenado em segunda instância, o ex-presidente teoricamente não pode participar da corrida eleitoral. Contudo, Cunha afirma que, com o fato de o petista estar em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de votos, a legitimidade do pleito fica vulnerável. “Esse pode ser um problema para eleição de 2018”, diz.

Lava Jato ampliou a polarização

A deflagração da operação Lava Jato – maior escândalo de corrupção já registrado no país, que atingiu políticos de diversos partidos – é apontada pelo cientista político Lucas Cunha, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), como fator que intensificou a polarização e acirramento dos ânimos dos brasileiros. “A Lava Jato colaborou para tornar a classe política ainda mais fragilizada. Os políticos que não foram presos também sofrem um respingo, o que reforça a ideia de que todos são corruptos”, diz.

Cunha ressaltou que a Lava Jato tem um papel importante de combate à corrupção, mas considera que a operação teve um efeito nocivo para a política do Brasil nos últimos tempos.

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Veículo: Tribuna de Minas

Editoria: Especiais

Data: 01/04/2018

Link:https://tribunademinas.com.br/especiais/vida-saudavel/01-04-2018/entenda-o-autismo-e-conheca-luta-de-maes-para-inserir-seus-filhos-na-sociedade.html

Título: Entenda o autismo e conheça a luta de mães para inserir seus filhos na sociedade

Para marcar o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, nesta segunda-feira, 2, a Tribuna entrevistou mães que convivem com o transtorno no dia a dia de seus filhos

Há 23 anos, a securitária Beth Reis dava à luz o seu segundo filho, uma menina, a qual batizou de Maria Clara. Com a experiência de já ter sido mãe, notou que a menina era muito diferente do seu irmão, três anos mais velho. Não era na aparência, mas na forma como interagia com as coisas. Os anos foram passando, e ela percebia que Maria Clara ainda não tinha esboçado nenhum som, o que a fez questionar o pediatra. Depois de passar por muitos especialistas, Beth teve o diagnóstico: Maria Clara, aos 3 anos, possuía o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), uma condição que nem ela conhecia. Mesmo com a filha já adulta, ela ainda busca informações sobre o autismo, como muitas mães de primeira viagem. Segundo a Organização Mundial de Saúde, o autismo afeta uma em cada 160 crianças no mundo. Para marcar o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, nesta segunda-feira, 2, a Tribuna mostra a luta de mães que convivem com o transtorno e tentam, de forma incansável, inserir seus filhos na sociedade.

Ao receber a notícia de que Maria Clara era portadora de autismo, de grau severo, Beth Reis, hoje com 54 anos, não se esquivou da responsabilidade, mesmo sem saber direito do que se tratava. “Não se tinha muito conhecimento sobre o autismo naquela época. Para se ter uma ideia, falavam que Maria Clara era hiperativa, pelo fato de ser muito agitada. Passei por muitos profissionais até ter o diagnóstico correto. Hoje as coisas mudaram nesse sentido, pois é possível afirmar que uma criança é autista ainda bebê. Vejo que os pais estão mais amparados no sentido do conhecimento, mas em termos de assistência, principalmente por parte do serviço público, ainda falta muita coisa, principalmente para autistas em fase adulta”, ressalta.

Beth conta que, em termos de comportamento e compreensão, Maria Clara está em sua melhor fase. “Parece que o cérebro dela amadureceu, e ela está tendo mais atitudes. Ela não fala, mas consegue compreender tudo o que falam com ela. A forma de se comunicar conosco é apontar para as coisas. É independente, vai ao banheiro sozinha, come. Outro dia, conseguiu tirar a roupa sem ajuda de ninguém”, comemora. Além dos remédios que Maria Clara tomou ao longo da vida – atualmente, a jovem está sem um deles e tem reagido muito bem -, Beth atribui o desenvolvimento da filha às terapias. Maria Clara chegou a frequentar a escola regular e teve acompanhamento de uma estagiária de psicologia na época. Ela passou pela socialização, entretanto, não foi alfabetizada.

“Foi, e é, uma luta muito grande e de muita persistência. Eu me adaptei ao mundo dela. A Maria Clara, para mim, é um aprendizado diário de vida. O conselho que dou às mães de crianças com autismo é que busquem apoio psicológico, sejam firmes e tentem não vitimizar seu filho. O filho não é doente, ele só têm condições diferentes. É amor que não se mede e nos transforma em pessoas melhores”, afirma Beth.

Mãe e ativista

A história de Ariene Perreira, 31 anos, como defensora e militante do autismo em Juiz de Fora começa logo depois do nascimento do filho Chrys, hoje com 8 anos. A dedicação de Ariene com a causa é tanta que hoje ela preside o Grupo de Apoio a Pais e Profissionais de Pessoas com Autismo de Juiz de Fora (Gappa-JF), uma entidade que luta pelos direitos e inserção do autista na sociedade. Diferente de Beth, o diagnóstico do filho de autista em grau severo ocorreu muito cedo. Sua experiência com crianças – trabalhou como babá desde os 12 anos de idade – a fez notar que Chrys, aos 7 meses de vida, era diferente das demais crianças que cuidou. “O que mais me chamou atenção era a dificuldade de ele se equilibrar e ter pavor de móbile. Com 1,2 ano, eu descobri, por conta própria, que ele era autista, com base em pesquisas na internet, mas o diagnóstico médico só veio aos 2,6 anos, depois de passar por três profissionais”, relata.

Diante de perspectivas tão negativas, Ariene resolveu dar a volta por cima e buscar outras pessoas que estivessem passando pela mesma situação. O sinal para iniciar essa caminhada foi encontrar uma mãe, no transporte público, que tinha um filho que se comportava de forma muito parecida com o seu. “Não pensei duas vezes e puxei assunto com ela. Na época, o Matheus, filho dela, tinha 7 anos e estava começando a falar. Aquilo me encheu de esperança, pois uma coisa que me fez chorar, uma noite inteira, foi ouvir do psiquiatra que, se a criança não falasse até os 3 anos, ele não falaria mais. Ali eu vi que o Chrys poderia falar um dia”, conta.

Ariene criou um blog para registrar as pequenas conquistas do Chrys até que, em 2015, conheceu uma outra mãe super engajada, que propôs criar um grupo. “Ela acabou se mudando de Juiz de Fora, e eu tomei a frente do Gappa. Criamos um grupo on-line para suprir algo que fez falta para mim: contar com a experiência de outras pessoas. Percebo que hoje as famílias estão perdendo medo de se mostrar e se assumir. O autismo sempre existiu, mas não era trabalhado pela falta de conhecimento, e essas pessoas eram retiradas da sociedade. Por outro lado, ainda tem muita gente que se isola por medo do preconceito, ou porque acha que a criança não vai se comportar ou entrar em crise. Isso não deve acontecer. Eu nunca deixei de ir a festas e compromissos por conta do Chrys. Sempre o levei para ele se acostumar”, comenta.

Entenda o trastorno

O que é – Segundo a neuropsicóloga Kátia Rodrigues de Souza, o autismo é um transtorno no desenvolvimento caracterizado por três sinais e sintomas específicos: dificuldades de interação social, problemas de comunicação e comportamentos repetitivos e restritos. A variação destes sintomas, entretanto, pode ser diferente entre os portadores. “Eles se expressam, normalmente, desde o início da vida até os 8 anos, mas de forma mais comum, e marcante, antes dos 3 anos de vida”, aponta.

Conforme estabelece o DSM-5, publicação oficial da Associação Americana de Psiquiatria, que define transtornos psiquiátricos e de desenvolvimento, o TEA pode ser medido com base em sua gravidade, que varia de acordo com os três níveis: severo, moderado e leve, baseados no grau de comprometimento do distúrbio. “O paciente com grau severo necessita de maior suporte e apoio, o que apresenta déficit grave nas habilidades de comunicação verbais e não verbais, cognição reduzida, dificuldade em alteração de rotina e isolamento social. Já o de grau moderado possui as mesmas características, mas com menor intensidade em relação as transtornos de comunicação e deficiência de linguagem. O portador de grau leve requer pouco suporte, pode ter dificuldade para se comunicar, mas consegue interagir socialmente. Tem problemas com organização e planejamento que dificultam a independência”, explica Kátia.

Como identificar – O autismo se manifesta na criança logo nos primeiros meses de vida. Os pais devem observar a forma como interagem com o meio em que vivem, já que em muitos casos as crianças não mantêm contato visual efetivo e não olham quando são chamadas. “A partir dos 12 meses, por exemplo, elas também não apontam com o dedinho. No primeiro ano de vida, demonstram mais interesse nos objetos do que nas pessoas e, quando os pais fazem brincadeiras de esconder, sorrir, podem não demonstrar muita reação”, aponta Kátia. A neuropsicóloga ressalta que os pais devem prestar atenção em alguns comportamentos, como se a criança prefere brincar sozinha, se interage pouco com outras crianças e com adultos, se possui linguagem pobre, robotizada, se brinca de forma estranha com os brinquedos, se faz movimentos repetidos e estereotipados com as mãos ou com o corpo, ou se tem dificuldade de sair da rotina.

Assistência local – O Departamento de Saúde à Criança e ao Adolescente (DSCA) da Secretaria de Saúde possui, desde 2016, uma área específica para atender ao casos de autismo na cidade. É o Ambulatório de Autismo, que atende hoje cerca de 200 pacientes, até os 12 anos de idade. O fisioterapeuta e coordenador do ambulatório, Sérgio Carvalho, explica que a inspiração teve como base o trabalho já realizado com a síndrome de Down, cuja abordagem envolve a família como um todo, a partir de um atendimento multidisciplinar. “Buscamos realizar um bate-papo para entender as necessidades de cada família. Nessa conversa damos dicas e tiramos dúvidas. Damos a margem para que eles relatem o que já fizeram, o que deu certo e o que não deu, até para servir de experiência para outros”. Após este contato, é realizado um prontuário do paciente e encaminhado ao pediatra, que fará o diagnóstico para verificar se há o espectro autista. “Depois de confirmado, iniciamos a assistência, com início de medicação, se necessário, e encaminhamentos para os profissionais”, finaliza.

Inclusão – Na visão da psicopedagoga Cristina Coronha, incluir significa fazer com que aquela pessoa se sinta respeitada e atendida em suas necessidades. Entretanto, embora seja um dever do Estado e existam várias políticas e leis que a amparam, a inclusão, sozinha, não é suficiente. “Existem lacunas nas escolas e no processo de aprendizagem. Para garantir esse direito, é preciso reformular as formas de relacionamento do aluno com o conhecimento, do aluno com aluno, do aluno com o professor, e do aluno com o mundo. No caso dos autistas, é preciso de recursos visuais e muita estimulação sensorial. Tanto em casa quanto na escola, é preciso criar uma rotina de atividades e comportamentos esperados, desde que sejam associadas a desenhos. A música também é um ótimo recurso, pois faz com que a comunicação da criança fique mais espontânea, reduz o isolamento, estimula a socialização, atenção e o interesse”, orienta.

Semana de Conscientização do Autismo

Destaques da programação

Dia 2

20h – Café com Ciência: palestra “Inclusão social”, com Débora Muller, psicopedagoga

Igreja de Santa Rita de Cássia (Rua Barão do Retiro 388 – Bonfim)

Dia 3

19h – Abertura da Semana com Dr. Márcio Alves

19h – Palestra: “Autismo e genética”, com Nathália Gonçalves Pereira, geneticista

20h30 – Palestra: “Intervenção precoce”, com Alice Lana, psicomotricista

Casa de Cultura da UFJF (Avenida Rio Branco 3.396 – Passos)

Dia 4

18h – A inclusão na Rede Municipal de Ensino, com Tania Frankin Pedroso Azevedo, Gerente DIAE/SE

19h – Palestra: “ABA e autismo”, com Ana Darc Moreira Arcanjo, psicóloga

19h – Terapia assistida por animais, com Ana Carolina Ibrahim, psicóloga

20h30 – Palestra: “Autismo e medicação”, com Ivy Rosa, neuropediatra

Casa de Cultura da UFJF (Avenida Rio Branco 3.396 – Passos)

Dia 5

19h – Mesa redonda: “Trocando experiências sobre o autismo”

19h – “Saúde do cuidador”, com Zezé Psicanalista

Casa de Cultura da UFJF (Avenida Rio Branco 3.396 – Passos)

Dia 6

19h – “Equoterapia no autismo”, com Heloá Pereira, fisioterapeuta; Alne Mattos, fonoaudióloga; e Renata Prata, psicóloga

20h30 – Palestra: “Integração sensorial”, com Edna Maria Lopes Pereira e Maria Cristina Fernandes, terapeutas ocupacionais

Casa de Cultura da UFJF (Avenida Rio Branco 3.396 – Passos)

Dia 7

8h – Concentração para passeata na Praça da Estação

9h – Passeata até o Parque Halfeld, com atividades no local até as 13h

Dia 8

8h – Panfletagem na Via São Pedro

10h – Piquenique da inclusão na área verde do campus da UFJF

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Veículo: Correio Braziliense

Editoria: Concursos

Data: 01/04/2018

Link:https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/eu-estudante/selecao/2018/04/01/Selecao_Interna,670213/c.shtml

Título: Confira lista de concursos do GDF e da União

UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA (UFJF) I

Inscrições até esta segunda-feira (2) presencialmente no endereço: Secretaria do Colégio de Aplicação João XXIII, Rua Visconde de Mauá 300, Bairro Santa Helena- Juiz de Fora (MG). Concurso com uma vaga para professor de conjunto de disciplinas do 1° ao 5° ano do ensino fundamental. Salário: entre R$ 2.236,30 e R$ 5.742,11. Taxa: gratuita. Edital: goo.gl/XCXoxo.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA (UFJF) II

Inscrições até esta segunda-feira (2) presencialmente no endereço: Secretaria do Colégio de Aplicação João XXIII, Rua Visconde de Mauá 300, Bairro Santa Helena, CEP: 36015-260 – Juiz de Fora (MG). Concurso com três vagas para professor de prótese dentária e dentística (1), farmacologia básica e clínica (1) e gestão de operações, cadeia e suprimentos, logística e estratégia (1). Salário: entre R% 2.236,30 e R$ 5.742,11. Taxa: gratuita. Edital: goo.gl/XxR2qA.

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Veículo: Brasil247

Editoria:

Data: 01/04/2018

Link:https://www.brasil247.com/pt/247/brasil/349501/Jango-estava-escrevendo-livro-sobre-seu-legado-para-o-Brasil.htm

Título: JANGO ESTAVA ESCREVENDO LIVRO SOBRE SEU LEGADO PARA O BRASIL

Por Denise Assis, no Cafezinho – O ex-presidente José Sarney (MDB), andou se queixando do arrependimento que sente de não ter reunido informações que propiciassem às gerações futuras uma melhor leitura do seu legado. O atual ocupante da cadeira presidencial, Michel, embora no início tenha dado de ombros sobre o que falariam de sua passagem pelo poder, agora anda tão preocupado com a própria imagem que vem lançando mão de malabarismos capazes de alavancá-lo do índice de um dígito onde estacionou desde que lá está, a fim de dar um up grade na própria imagem e à do seu “governo”. Já fala até mesmo em uma candidatura, para “defender” o que considera “positivo” no que andou fazendo no Brasil.

Enquanto isto, o ex-presidente, João Goulart, apeado do cargo pelo golpe civil-militar em 1 de abril de 1964, (há 54 anos, portanto), não esperou muito até iniciar movimentações no sentido de organizar o que chamaria de: “O Livro Branco do Governo João Goulart”. Iniciou, já em 1966, tratativas para referenciar todos os seus feitos, por setores, numa edição a cargo da Civilização Brasileira, do amigo Ênio da Silveira, conforme demonstrado no sumário elaborado para a obra. As informações localizadas pelo Cafezinho, encontram-se nos arquivos do CPDOC, da Fundação Getúlio Vargas, onde está o acervo do ex-presidente.

Os papéis foram examinados pelo cientista social, Jorge Chaloub – Professor adjunto do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), doutor em Ciência Política pelo IESP-UERJ, com doutorado-sanduíche na École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS). Chaloub é um estudioso do período da República de 1946 e seus desdobramentos até o golpe que depôs João Goulart.

O acadêmico destacou a importância e o ineditismo dos documentos que, em sua opinião, “traz um Jango não só interessado em voltar a participar da vida política, como também de resistir, o que não se costuma ler nos diversos trabalhos a respeito”, disse. Ele ressalta, porém, que “Jango não era um Brizola, disposto a uma resistência armada, se fosse preciso. Jango operava pelo mundo da política. Claramente fica demonstrado nesses documentos que ele estava disposto a lutar politicamente e não militarmente, tanto pelo passado, pelo legado do seu governo, quanto por um passado que se fará presente no futuro. Pela rede de pessoas que escolhe para as suas articulações, ele considerava dar continuidade ao trabalhismo”, observou.

A documentação nos conta a história de um momento pós golpe, ainda com questões a serem esclarecidas. Por ela observa-se que, tão logo chegou ao exílio no Uruguai e conseguiu reorganizar a própria vida, Jango iniciou, em 1966, tratativas para formar com o seu ex-ministro da Casa Civil, Darcy Ribeiro, uma equipe de coordenadores editores, redatores e pesquisadores, a fim de reunir todo o material de que dispunha, no livro que daria satisfação ao povo brasileiro do real significado o seu governo.

Desses papéis, surge um João Goulart tenso, preocupado com a própria imagem, com o seu destino e o dos companheiros da época do seu governo, ao mesmo tempo em que se surpreende com o clima de traições e futricas estabelecido em torno dos antigos colaboradores. Na verdade, a maior parte é composta de cartas cuja entrega ficava a cargo do ex-deputado José Gomes Talarico, a quem ele chamava carinhosamente de “o nosso pombo-correio”. Em alguns momentos Jango deixa transparecer o seu estado de perplexidade com a conspiração urdida em torno da sua queda, como uma carta do dia 27 de fevereiro, de um médico catedrático da Escola de Medicina da USP, Dr. A. C. Pacheco e Silva, para o general Ulhôa Cintra -, ativo participante da conspiração que o derrubou.

“Tenho boas notícias a dar-lhe quanto à publicação de um jornal contendo notícias breves e incisivas, escrito de forma sucinta, de molde a difundir os principais acontecimentos que ocorrem no país, no propósito de defender a Democracia em perigo. Segundo estou informado, os primeiros números serão distribuídos dentro de dez dias. Além disso, o jornal “O Estado de São Paulo” vai lançar uma edição nacional, com farta distribuição em todo o Brasil, com o mesmo propósito.”

O professor Jorge Chaloub destaca outra carta, esta do próprio Jango, em que os sentimentos de indignação e perplexidade estão presentes. Em 8 de junho de 1964, já deposto, escreveu ao “Ilustre Jornalista Danton Jobim, diretor do Diário Carioca –

Senhor Diretor:-

Jornais e rádios de Montevidéu amanheceram divulgando notícias procedentes do Rio de Janeiro, publicadas no Diário Carioca, que atribuem ao General Assis Brasil declarações altamente ofensivas à minha pessoa e ao governo a que ele serviu até o último momento, em posto da maior responsabilidade surpreendido com estou com o tom ofensivo das supostas declarações e em face da visível contradição entre elas e tudo o que sempre ouvi do General que tenho como um amigo, do adido militar na Argentina e do Chefe da Casa Militar, o qual em momento nenhum, opôs qualquer reserva à orientação do meu governo, tenho dificuldades em acreditar que sejam verdadeiras”. O texto de Jango, reflete nervosismo e até mesmo raiva, a julgar pelos rabiscos, (como os que aqui estão reproduzidos), e setas acrescentadas às margens.

Com os acontecimentos ainda muito recentes, o presidente deposto não fazia questão de esconder os sentimentos. Chaloub chama a atenção para o fato de ele ir buscar os assessores mais próximos, as figuras que eram simpáticas à causa “com a expectativa de que o governo dele fosse defendido, como na carta em que fala do general Assis Brasil. Ele esperava uma defesa do seu legado e da sua imagem posterior.” O professor aponta, ainda, que havia um projeto nesse movimento.

“A menção a outras figuras, como ao Tito Riffy, ao Talarico, como também ao Darcy Ribeiro, com aquele pensamento sofisticado, mostra que Jango estava montando um coletivo com a ideia de fazer um balanço, por um lado, do seu governo, mas que havia ali também um projeto. Algo a ser feito.”

Nesse “algo” Chaloub identifica a consolidação do trabalhismo. “Há um processo aqui, de balanço histórico de 1961 a 1964, mas há também no sumário uma ideologia trabalhista, que não se esgota no Jango. O sumário demonstra que havia lenha para queimar nesta ideologia. Depois vem uma defesa do governo como uma realização desta ideia trabalhista e eu destaco a parte cinco, do sumário, que são as tarefas que apontam para o futuro retomando o projeto”, detalha.

“Esse projeto retoma um pouco desse aspecto trabalhista, valorizando o segundo governo Vargas, como a criação da Petrobrás, da Eletrobrás, a preocupação com os recursos naturais, que é uma característica tanto do Estado Novo quanto do Vargas eleito, mas também uma retomada das reformas de base como desdobramento desta política trabalhista.”

Entre os documentos que integram o conjunto está um estudo depreciativo sobre o desempenho da Educação no governo João Goulart. A análise crítica tem o nome de “Mário Calaza”, um simpatizante da ditadura que se iniciava, frequentador e colaborador do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipês), ninho do golpe. Os dados vêm acompanhados também de um sumário, levando a crer que havia planos para uma publicação a respeito. Por estar no mesmo conjunto, talvez tenha sido esse amontoado de críticas a um setor que lhe era caro, a motivação para organizar o “Livro Branco do Governo João Goulart”.

“A revolução encontrou o Ministério da Educação e Cultura (nome oficial na época) marcado por uma política educacional deformada em obra de agitação e subversão. Programa e planejamento eram ditados pela ação do improviso inspirado no sectarismo do extremismo ideológico, com o sacrifício dos compromissos e metas nacionais e internacionais seguramente definidos”.

Ainda no setor da Educação, Calaza apontava: “Foi tenaz o esforço para o saneamento, iniciado desde a primeira semana de abril de 1964, ainda na gestão do Ministro Gama e Silva, tanto revogando atos administrativos viciados, quanto intervindo em determinadas Universidades Federais, extinguindo Serviços e Campanhas de notórios propósitos subversivos, e instituindo Comissões Especiais para a promoção de levantamento de dados e revelação de fatos existentes nos diversos órgãos do Ministério, bem como a apresentação dos funcionários que, nos termos do Ato Institucional, eram incompatíveis com o serviço público, por atentados ao regime democrático ou lesão nos cofres públicos”.

As críticas contundentes iniciavam um arrazoado de 15 páginas e, no fecho, a descrição do plano para uma publicação onde estavam listados também outros setores a serem “visitados” por Calaza, tais como: a Igreja e o campo.

Lendo todas as cartas e apontamentos na sequência, o que se observa é um Jango irrequieto, irritado, magoado, como se tentando colocar o dedo nos buracos por onde a sua imagem fazia água. O presidente deposto usava da única munição disponível no momento: cartas despachadas pelo “pombo-correio”, Talarico (José Gomes Talarico, deputado petebista).

Também para as famílias do editor e proprietário da Civilização Brasileira, Ênio da Silveira e do ex-presidente João Goulart, tanto a documentação, quanto a ideia de que houve um plano para este inventário sobre o seu governo soam como novidade. Além do plano da publicação, Ênio chega a mencionar conversas para fazer de Jango seu sócio nos negócios, que se expandiriam para uma “holding”. Isto, já nos idos de 1968, quando, com todos os bens bloqueados, o ex-presidente atravessava agudas dificuldades financeiras. Rui Silveira, o filho mais velho do editor, muito próximo ao pai e aos seus negócios, declarou que nunca ouviu nada sobre a transação ou tampouco sobre o livro que, na época, conforme salta das páginas dos documentos, era tratado sob o mais absoluto sigilo e por pessoas da estrita confiança de Jango.

“Rio de Janeiro, 29 de agosto de 1968,

Meu caro presidente:

Recebo comovido e agradecido pela sua atenção, a carta de que foi portador nosso pombo-correio ítalo-brasileiro. Por ele, também, tive uma ideia aproximada dos sérios problemas que atualmente o afligem, quase todos decorrentes do prematuro e inesperado falecimento de seu amigo e procurador.

A realidade, mais depressa do que eu desejaria ou esperaria, confirma o acerto de minha posição: é indispensável, é urgente (Os grifos são do Ênio) que um advogado com experiência administrativa de bens (que seja de absoluta seriedade e discrição mas que não mantenha laços de qualquer intimidade com o cliente, para evitar a interpretação de interesses) se encarregue de botar ordens no seu patrimônio pessoal.(…) Perdoe-me abordar outra vez este assunto delicado, que não me diz respeito(…)

Para lhe dar uma ideia da sinceridade e da franqueza com que estou agindo, e da preocupação que me causam seus dissabores atuais, sobretudo depois do relato que me foi feito pelo nosso amigo comum, quero liberá-lo, pela presente, de qualquer compromisso conosco, relativamente à reestruturação da nossa firma numa empresa holding. Está claro que nada me agradará e honrará mais do que tê-lo ao nosso lado num empreendimento cultural como esse, que apenas ampliará e solidificará o muito (perdoe-me a imodéstia) que a Civilização Brasileira há 36 anos, e particularmente nos últimos seis, tem feito pelo Brasil e os brasileiros. Mas quero deixar bastante claro, igualmente, que nada me entristeceria mais, no momento, do que aumentar seus problemas ou trazer-lhe novas preocupações. (…)

Recebi, também pelo querido pombo-correio, longa e substanciosa carta do nosso reitor Xavante, sobre o Livro-Branco. Acho boas as ponderações que ele me faz e dou início às operações, certo de que o livro será menos um serviço ao seu nome e à sua pessoa do que ao próprio Brasil. Talvez ele venha até contribuir para que alguns milicos golpistas descubram, tardiamente, que deram uma punhalada ignóbil nas costas da Pátria. Dentro de mais alguns dias darei notícias a respeito, escrevendo diretamente ao professor, que lhe informará prontamente. (…)

Com um abraço amigo e o desejo de que o panorama de sua vida se desanuvie, aqui fica, as suas ordens, o Ênio da Silveira

Da fase “anuviada”, Denize Goulart se lembra bem. Os primeiros dias de exílio, quando tiveram que viver com o conteúdo “de uma malinha de mão”, arrecadado às pressas pela mãe, Maria Thereza Goulart, na fuga para Porto Alegre e depois para o Uruguai. “Naquela época não havia os limites e leis quanto a presentes a chefes de estado. A minha mãe ganhava joias, obras de arte, tudo isto ela deixou para trás. Sem contar os nossos cachorros, presos no canil da Granja do Torto. Isto para crianças como nós, era muito sério, foi uma grande perda afetiva”, lembra.

Das tratativas para o “Livro Branco”, porém, não tem conhecimento. “Eu me lembro das pessoas, dos amigos, e do meu pai sempre articulando a volta ao Brasil, mas todas as vezes que falava do assunto, dizia que não retornaria enquanto todos os brasileiros que se encontravam fora não pudessem retornar com ele.”

Este Jango “inconformado”, é identificado por Chaloub. “Em resumo, o que esta documentação nos traz é um Jango preocupado em permanecer como ator político e lutar politicamente. Ele e os seus pares estavam imbuídos de que não haveria um fechamento absoluto e que os militares em algum momento sairiam do poder. Certamente que ele achava haver terreno para uma disputa. O que salta desta documentação é esta figura inconformada e disposta a se reconstruir”.

Não é difícil perceber o motivo pelo qual o “Livro Branco de João Goulart” não passou de um projeto. Primeiro, era preciso colocar em ordem a vida pessoal e financeira, de pernas para o ar. Em seguida, debelar ameaças e futricas que pouco a pouco iam colocando no banco dos réus ou no exílio cada integrante da equipe. Em agosto de 1967 a notícia de que ele estaria escrevendo o livro vazou no Brasil, conforme trecho de carta enviada por Talarico, a pedido dele, ao então embaixador Walter Moreira Salles:

(…) “Estivemos para comparecer àquela manifestação, mas, confessamos que o constrangimento foi maior que a nossa tendência. Não desejamos chocar nenhum dos participantes pela condição de proscrito (referindo-se a Jango) Nesse ínterim saiu no “jornal do Brasil” uma nota fazendo alusão às “memórias” (?!…) que o Dr. João Goulart estaria redigindo, nas quais V. Ex. seria personagem de um dos capítulos. Causou-nos isso um impacto.”

E quando finalmente em 1968 a ideia ganhava corpo veio o AI-5, (que neste ano, em 13 de dezembro completa 50 anos), fechando o país e o cenário político-cultural por 10 anos, sob forte censura e medo.

O que se seguiu depois foi uma perseguição implacável a Jango durante todo o tempo, mesmo no exterior, a ponto de pouco antes de sua morte enviar os dois filhos para estudar em Londres, depois de receber ameaças contra a vida de toda a família. Denize se lembra de que a última vez que o viu e pôde abraçá-lo foi em outubro de 1976, quando ele esteve em Paris e deu um pulo à capital britânica para conhecer o neto, filho de João, Vicente, que acabara de nascer. Ela estava com 18 anos e João Vicente com 19. Dali a dois meses Jango morreu “oficialmente” de um ataque cardíaco, em sua fazenda, no município de Mercedes, na Argentina. Até o último minuto a família teve que negociar com os militares a entrada do corpo em solo brasileiro, onde foi enterrado, em São Borja (RS), sua terra natal.

Para a filha de Jango, documentações como esta virem a público “contribuem para que a figura do seu pai ganhe a sua real dimensão. “A de um político que tinha um projeto de país mais justo, voltado para os direitos dos trabalhadores, que agora vamos vendo serem destruídos. Eu gostaria de vê-lo nos livros didáticos como esse político, preocupado com a sua gente. Ele viveu pensando nisto”.

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Veículo: Tribuna de Minas

Editoria: Especiais

Data: 01/04/2018

Link:https://tribunademinas.com.br/especiais/outras-ideias/01-04-2018/o-reflexo-profundo-do-espelho-de-julia.html

Título: A transformação da orientadora do Vigilantes do Peso, Júlia Melo

Advogada, militante do direito à alimentação saudável e orientadora do Vigilantes do Peso, Júlia Carla conta sobre sua transformação externa e interna

Espelho, espelho nosso

Eram apenas duas dezenas de quilos. E tornou-se a gestualidade de um dos principais aforismo do fundador da filosofia ocidental. “Conhece-te a ti mesmo”, defesa de Sócrates, tornou-se norte para a jovem Júlia Carla Duarte Melo e seus dois partos. O primeiro, há 31 anos. O segundo, aos 24. “Quando descobrimos quem somos passamos a ter poder sobre nós mesmos”, confirma a mulher que compreendeu, também, que “mudar algo ajuda a mudar tudo”. Há sete anos, Júlia tomou de seus hábitos alimentares o controle da própria vida. “Eu não acreditava em mim. Quando você é estigmatizado, começa a acreditar no que dizem de você. E a partir do momento em que começa a discordar do que falam de você, começa a se perceber.”

A partir dos 9, a menina passou a enxergar no espelho uma imagem distorcida da que projetava para si mesma. “Fui gordinha a vida inteira. Sofri bullying e tive várias histórias marcantes na escola. Em um momento resolvi mudar minha vida”, conta ela, cuja virada se deu logo após tomar nas mãos o diploma em direito. “Foi quando tive uma festa da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e procurei roupas e mais roupas, sem conseguir achar. Quando a gente encontra, acaba o sofrimento e esquecemos. Mas como eu era muito amiga do fotógrafo da festa, ele tirou muitas fotos, e a minha ficha caiu. A única coisa bonita nas fotos eram as minhas unhas. Eu sabia que estava gorda, mas não queria enxergar. Não é ruim estar acima do peso, mas é algo que traz dificuldades”, comenta.

Numa família sem pessoas em rivalidade com a balança, Júlia resolveu seguir os conselhos da mãe e aderir ao programa Vigilantes do Peso. “Emagreci 21kg em seis meses. Estava muito determinada. Me descobri uma pessoa muito disciplinada. Quando terminei o processo, fui convidada a trabalhar lá. Inicialmente, dizia que queria passar para as pessoas como é bom se olhar no espelho e se reconhecer”, recorda-se a atual orientadora do programa em Juiz de Fora, que passou de 91,5kg para os 70kg do presente – “A gente assina um contrato de ter que manter o peso”.

‘Pôr em si tudo que leva à felicidade’

Seis meses depois da primeira reunião do Vigilantes do Peso que participou, Júlia embarcou para uma viagem de 20 dias com uma amiga e uma prima. “Fui para a Europa, e foi muito legal, porque entrava em todas as lojas e tinha roupas que me serviam. Também saí bem nas fotos. Descobrir uma nova cultura com uma nova visão foi muito especial”, observa a mesma mulher que voltou à festa da OAB como outra. “Quando a gente não está no padrão que estipula, fica menos seletiva. Aceita o que o outro te dá, em tudo. Se não está bem preparado para ocupar um determinado cargo numa empresa, aceita o cargo que te dão. Depois do emagrecimento, passei a acreditar que precisava estar com alguém que correspondesse ao que sou, não só fisicamente, mas à pessoa que me tornei”, ressalta, para logo acrescentar: “Quando somos muito excluídos, seguimos duas tendências: ou nos tornamos amargos, descontando toda a raiva no mundo; ou procuramos espremer o limão até o fim, querendo ser melhor que o opressor, acolhendo o oprimido.” Em sua rotina como orientadora, a mulher que aos 15 anos já tomava medicamentos com seus dolorosos processos de emagrecimento costuma defender a metamorfose como principal motivação. “Minha função é acolher aquelas pessoas, mostrando que, se estão satisfeitas naquele caminho, não precisam mudar radicalmente. Muda um pouco, um hábito por semana, e está bom. O que extraí da minha infância e adolescência turbulenta é o desejo de integrar as pessoas cada vez mais, e me integrar também, porque me sentia excluída e também me excluía”, recorda-se ela, desde o ano passado fazendo terapia e exercícios que a levam ao almejado autoconhecimento. “Ia para a UFJF caminhar todos os dias. Um dia não foi suficiente e comecei a correr. Ia várias vezes quando estava chovendo ou garoando. E não era uma corredora. Depois fui fazer funcional. No ano retrasado, fiz spinning. No ano passado, descobri uma hérnia de disco, encarei a fisioterapia por três meses. Ficar em pé estava sendo custoso. Passado esse tempo, decidi fazer exercícios de musculação, que ajudam muito na mudança do corpo”, enumera. “Acredito que a obesidade tem muito mais a ver com o todo da vida do que simplesmente com a comida”, defende.

‘Só sei que nada sei’

Se eu não tivesse sofrido bullying, comenta Júlia, talvez não tivesse emagrecido. “Talvez a própria sociedade tenha me feito não querer ser gorda. Mas o legal do momento é que podemos ser o que somos”, proclama a advogada, que levou para sua caminhada profissional a força que a transformou. Mestranda em direito, Júlia pesquisa o direito à educação adequada, não apenas àquela que sacia a fome. “Existe uma indústria que o tempo todo induz o consumo. Estamos na Páscoa e, se pegarmos o Instagram, veremos 60% das blogueiras falando em chocolate. Como resistir a esse apelo visual? Aos mercados repletos de chocolates? É uma cultura, muito mais do que a ideia de só resistir à comida, que envolve a observação de que o externo influencia nossos hábitos alimentares. A prática de atividades físicas, por exemplo, são fundamentais para quem quer emagrecer e ter um estilo de vida saudável, mas cada vez mais fazemos deslocamentos em carros. Sequer abrimos o vidro do carro. É tudo mecânico, feito por um botão. Porque antigamente era mais saudável comer a gordura de porco? Porque quem comia se exercitava em seguida. Hoje a nossa realidade é muito diferente”, pontua, na defesa, também, das dietas restritivas feitas pelos celíacos, pelos intolerantes à lactose. “Essas discussões sobre o direito à alimentação saudável tem crescido muito nas Américas. O Chile adotou uma rotulagem preta (para alimentos insalubres). E isso é interessante e deu muito certo por aqui com a fabricação de cigarros, que foram taxados muito altos, diminuindo bastante o consumo ou pelo menos tirando a impressão antiga do glamour. É preciso excluir o que faz mal à saúde”, argumenta, sem radicalismos, a mulher que durante seu processo de emagrecimento não se afastou da rapadura. “Escolha alimentar boa não é trocar um prato de arroz com feijão por um prato de salada. É uma boa prática, mas até quando isso dura na sua vida? Eu, por exemplo, não teria emagrecido 21kg, porque não como salada. Nunca abri mão de nada, o que tenho vontade, como. Mas sou mais consciente. Comia um pacote de biscoito sem prestar atenção. Hoje como saboreando. Se você quer comer um chocolate, não coma uma banana com canela. Tem que comer o que deseja”, diz ela, às voltas com os pontos estabelecidos pelo programa do qual é orientadora. “Comida também é prazer. Por isso não quero um café da tarde com quatro castanhas e duas amêndoas. Quero um lanche que me dê prazer.”

‘A sabedoria e a virtude são inseparáveis’

Ao passo que a obesidade não se estabeleceu na vida de Júlia como um traçado genético, a segurança com que se expressa não é resultante apenas de seus 31 anos. Filha única, de uma professora e de um vendedor, a mulher, nascida no Bairro Francisco Bernardino e há mais de duas décadas moradora do Ipiranga, carrega na família grandes potências inspiradoras. “Minha avó se mudou para Juiz de Fora para cuidar dos filhos e para que eles pudessem estudar. Ela teve um bar durante muitos anos. Sempre foi vanguardista e uma negociadora nata, vendendo um lote e comprando três. Investindo e doando aos filhos. Ela foi uma mulher de visão. Embora não tenhamos passado dificuldades, estudamos e nos dedicamos muito”, conta. Formada em direito pelo Vianna Júnior, Júlia atuou num escritório até 2016 e, por dois anos, respondeu como coordenadora da comissão da mulher advogada na cidade e na região. Tempo bastante para perceber que todo autoconhecimento impõe protagonismos. “Só empoderando é que a gente transforma. É preciso empoderar as mulheres contra a violência doméstica e empoderar o gordo para que seja o que quiser”, defende ela, que só se decidiu advogada no término do curso. “Queria ser atriz ou jornalista”, revela. O palco, ela encontrou em sua atuação tanto em audiências quanto nas reuniões do Vigilantes. “Quero trazer um ideal para nossa realidade, através do direito e da alimentação. Quero atingir o máximo de pessoas com o meu trabalho e tentar mudar alguma coisa para que as pessoas se alimentem melhor.”

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Veículo: Tribuna de Minas

Editoria: Cidade

Data: 02/04/2018

Link: https://tribunademinas.com.br/noticias/cidade/02-04-2018/saude-promove-vacinacao-contra-febre-amarela-nos-shoppings-independencia-e-santa-cruz.html

Título: Saúde promove vacinação contra febre amarela nos shoppings Independência e Santa Cruz

A fim de aumentar a cobertura vacinal de Juiz de Fora, a Secretaria de Saúde promoverá mutirão de vacinação contra a febre amarela, esta semana, no Independência Shopping, entre terça e sexta-feira (6), e, no Shopping Santa Cruz, de segunda a sábado (7). Apesar de o município ter 100% de cobertura vacinal, a pasta deseja atingir moradores locais ainda não vacinados, uma vez que o município já registrou 36 casos de contaminação pelo vírus,conforme último boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES). À frente de Mariana e Nova Lima, Juiz de Fora é a cidade de Minas Gerais com o maior número de ocorrências confirmadas de febre amarela. O município registrou nove óbitos e 27 internações.

A campanha a ser realizada no Independência Shopping, na Avenida Presidente Itamar Franco 3.600, Bairro Cascatinha, a partir desta terça, contemplará pessoas com idade entre nove meses e 59 anos. Gestantes e idosos serão avaliados por uma equipe de saúde para saber se estão aptos ou não a serem vacinados. Em relação às contra-indicações vacinais, pessoas com alergia grave a ovos ou em condições de saúde que afetem a estabilidade do organismo devem evitar as doses. O mutirão acontecerá entre 19h e 22h, no piso L1. No Shopping Santa Cruz, localizado na Rua Jarbas de Lery 1.655, Centro, o mutirão abrigará também ações da Secretaria de Saúde até a próxima sexta-feira (7), entre 10h e 16h. No sábado, as doses serão distribuídas entre 9h e 13h.

Parcerias

Nos dias 16, 19, 21 e 22 de março, a Secretaria de Saúde, em parceria com o Centro Universitário Estácio de Juiz de Fora, promoveu ações de vacinação no Shopping Jardim Norte. Entre 19 e 23 de março, em conjunto com a UFJF e alunos da Faculdade de Enfermagem, foram distribuídas doses no campus. Em 27 de março, profissionais da Saúde estiveram disponíveis na Missa do Impossível, na Igreja São José, no Bairro Costa Carvalho, para distribuir doses da vacina contra febre amarela. As ações realizadas na segunda quinzena de março imunizaram 450 pessoas.

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Veículo: Tribuna de Minas

Editoria: Coluna Cesar Romero

Data: 02/04/2018

Link: https://tribunademinas.com.br/colunas/cesar-romero/26-09-2014/coluna-cr-26-09-2014-5.html

Título: Rádio FM

A UFJF teve um bom motivo para comemorar, ontem, o Dia Mundial do Rádio.

Há sete anos lutando para ter uma rádio, a instituição obteve a concessão para um canal FM. Com programação educativa própria, a nova emissora terá alcance em Juiz de Fora e cidades da região.

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Veículo: AM Notícias

Editoria: Cursos & Concursos

Data: 03/04/2018

Link: https://www.amazonasnoticias.com.br/cesar-abre-inscricoes-para-o-programa-summer-job-3/

Título: CESAR abre inscrições para o Programa Summer Job

Com bolsa de R$ 2 mil, estudantes terão a oportunidade de se capacitar profissionalmente em um dos principais centros de inovação do Brasil

O CESAR, centro de inovação sediado em Recife, tem processo seletivo aberto até o dia 13 de abril para nova turma do Programa Summer Job. As aulas terão início em 2 de julho e término em 10 de agosto e ocorrerão tanto na sede do CESAR em Recife, como nas regionais em Sorocaba (SP), Curitiba (PR) e Manaus (AM).

Os objetivos do curso são oferecer para as empresas maduras um ambiente de experimentação rápida, e para os alunos uma oportunidade de resolver problemas reais através do processo de inovação do CESAR. A interação intensiva entre alunos e empresas resulta em um efeito colateral importante: a identificação de talentos pelas empresas patrocinadoras. O Programa é voltado para estudantes de qualquer curso, embora cerca de 50% das vagas sejam destinadas aos alunos de Ciência da Computação, Engenharia, Administração, Economia, Design e afins.

Um dos requisitos para a participação no Programa é que o aluno esteja cursando a partir do 4° período e tenha inglês fluente, já que todas as aulas serão ministradas nesse idioma. Nesta edição, o CESAR criará um grupo misto com estudantes estrangeiros e brasileiros, o que favorecerá o compartilhamento de conhecimento e de experiências. O Programa oferece aos alunos uma ajuda de custo no valor de R$ 2 mil, além de passagem para aqueles que optarem por unidades do CESAR diferentes do seu estado de residência.

“O Summer Job é ideal para os estudantes que buscam aprimoramento pessoal e vivência do mercado de trabalho e têm espírito empreendedor. Durante todo o Programa, os participantes serão envolvidos na resolução de um desafio da empresa patrocinadora”. juntamente com uma equipe técnica altamente qualificada”, explicou Eduardo Peixoto, Executivo Chefe de Negócios do CESAR. “Um dos grandes diferenciais é que temos no Programa empresas patrocinadoras que trarão diversos desafios nos quais os estudantes deverão trabalhar, bem como direcionamentos reais de mercado”, reforçou Peixoto.

O executivo também destacou que as vantagens do Programa vão além da capacitação dos estudantes. “As empresas patrocinadoras do Summer Job também se beneficiam, já que os protótipos gerados durante as atividades poderão ser implementados e virarem produtos inovadores”, explicou.

Desde 2012, o CESAR vem realizando edições do Summer Job. Algumas das empresas patrocinadoras das últimas edições foram Fedex Express, Grupo Boticário, Gerdau, Unilever, Globo, Grupo Cornélio Brennand, FCA – Fiat Chrysler Automobiles, entre outras. O Programa já contou com a participação de alunos do ITA, UFPE, Insper (SP), USP (SP), PUC-Rio (RJ), UEA (AM), UFJF (MG), UPE, Universidade Católica de Pernambuco e UFPB, entre outras.

Para inscrição e mais informações, acesse: http://summerjob.cesar.org.br

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Veículo: Tribuna de Minas

Editoria: Coluna Cesar Romero

Data: 03/04/2018

Link: https://tribunademinas.com.br/colunas/cesar-romero/03-04-2018/a-60.html

Título: Bodas de prata

Os 25 anos do curso de Ciência da Religião da UFJF serão comemorados quinta-feira com homenagem aos professores Faustino Teixeira e Marcelo Camurça. Na sequência, o professor Humberto Quaglio faz palestra sobre “A ciência da religião, academia e secularismo”. É bom lembrar que o curso foi o primeiro a ser oferecido gratuitamente no Brasil.

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