“Por uma formação do espectador de teatro”: este é o tema da pesquisa de pós-doutorado da professora do Departamento de Fundamentos, Teorias e Contextos da Faculdade de Comunicação (Facom) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Márcia Falabella. O estudo, que será desenvolvido na França, dialoga com o projeto de extensão “Escola de Espectador”, desenvolvido em parceria com a Pró-reitoria de Extensão da UFJF (Proex), a Facom e o Centro de Estudos Teatrais – Grupo Divulgação.

Márcia fixará quatro meses na capital francesa, estudando na Universidade de Paris-Nanterre, entre os meses de abril e julho. “Em 2008, fiz meu primeiro pós-doutorado na Universidade Sorbonne-Nouvelle, em Estudos Teatrais, orientada pelo professor Georges Banu. Dessa vez, estou ligada ao grupo de pesquisa “História das artes das representações”. Meu orientador será o professor Emmanuel Wallon, do Departamento das Artes do Espetáculo. Indiscutivelmente, são dois orientadores que engrandeceram meu percurso acadêmico”, avalia.

A professora, que também é atriz e integra o Grupo Divulgação há 32 anos, também estará, em julho, na cidade de Avignon, no sul da França, onde acompanhará a 72ª edição do Festival de Teatro de Avignon – um dos maiores e mais importantes eventos teatrais do calendário mundial. “Estar lá é um complemento da minha pesquisa, uma vez que esse festival foi criado por Jean Vilar e representa também uma ação de descentralização do teatro”.

Em Paris, a pesquisadora estudará o trabalho do diretor e ator Jean Vilar, que entre 1951 e 1963, foi o diretor do Teatro Nacional Popular. Segundo Márcia, “Vilar promoveu uma ampliação significativa de público no teatro francês, fazendo um teatro de qualidade – texto e montagem – a preços acessíveis, levando ao teatro pessoas que não tinham condições de acesso. Para ele, o teatro deveria ser entendido como um serviço público, tal como o gás, a água e a eletricidade”.

Para a atriz, o pensamento do diretor francês vai ao encontro de sua filosofia teatral: “sem educação e cultura, continuaremos imersos nesse mar de ignorância, de radicalismos improdutivos, de intolerância, incomunicabilidade, de violência. Sem educação e sem cultura, estaremos por um longo tempo mergulhados na escuridão e nas dores da barbárie”, enfatiza.

Levar o público popular ao teatro

“O meu interesse em estudar essa experiência francesa nasce porque o Grupo Divulgação, do qual faço parte desde 1985, tem um projeto, idealizado pelo professor José Luiz Ribeiro, de levar o público popular ao teatro gratuitamente”, explica. No início, esse programa era realizado em parceria com a Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa) e possuía duas vertentes: “O povo vai ao teatro” e “A escola vai ao teatro”, que, segundo Márcia, contemplavam comunidades carentes e escolas da rede pública municipal e estadual.

“O Divulgação, nos anos 70, fez muito teatro de rua e em espaços alternativos. Depois, o Grupo entendeu que, numa ação de inclusão, era preciso levar essas pessoas ao teatro para que desfrutassem de toda a experiência estética em sua totalidade, uma vez que espetáculos apresentados fora do teatro, geralmente sofriam alterações na cenografia e na iluminação. E, no nosso caso em especial, levar esse público ao Forum da Cultura para ver teatro amplifica a experiência pedagógica e cultural”, afirma.

Na década de 90, essas ações foram unificadas, mantendo a proposta original. Agora, sob o nome de “Escola de Espectador”, a iniciativa passa a ser realizada como um projeto de Extensão, envolvendo a Proex, a Facom e o Grupo Divulgação. “Hoje, atingimos mais de 200 instituições entre escolas públicas e comunidades carentes, de Juiz de Fora e região. Neste ano queremos incluir também os alunos do Apoio Estudantil, entendendo o papel do teatro na formação dos nossos universitários”.

De acordo com a professora, o trabalho desenvolvido pelo Divulgação dialoga diretamente com aquilo que Jean Vilar pretendia. “E é isso que me leva à Paris. Há uma necessidade de buscarmos caminhos para chegar ao público hoje. Atualmente, os teatros no Brasil sofrem uma grande evasão de público. E vários fatores levam a isso: o medo da violência, o preço dos ingressos, a falta de hábito, a concorrência com a diversão na internet, tudo isso sendo desfrutado no conforto de casa, sem gastos maiores e em segurança”, argumenta.

Publicação
O artigo “Escola de Espectador, o teatro como extensão e cidadania”, escrito por Márcia, em parceria com o jornalista Messias Matheus de Jesus (egresso da Facom e falecido em fevereiro de 2018) foi aprovado para publicação na Revista Guará, uma produção semestral da Pró-reitoria de Extensão da Universidade Federal do Espírito Santo, que tem por objetivo publicar estudos extensionistas, promovendo as ações de extensão desenvolvidas nas Instituições de Ensino em níveis nacional e internacional.

Outras informações:
(32) 2102-3911 – Forum da Cultura

(32) 3215-3850 – Centro de Estudos Teatrais – Grupo Divulgação

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