A versão ao vivo do que é contado nas páginas por quem fez, faz ou apenas admira a história da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), com a presença de personagens presentes nos mais diferentes momentos. Assim foi o lançamento do livro “Criação da Faculdade de Medicina de Juiz de Fora e da Universidade Federal de Juiz de Fora: um recorte na nossa história”, do professor aposentado José Carlos de Castro Barbosa. O evento aconteceu na noite de terça-feira, dia 5, na Sociedade de Medicina e Cirurgia.
Em uma fila que durou por toda a noite em busca de um autógrafo, amigos se reencontraram e rememoraram momentos vividos dentro da Faculdade de Medicina ou no campus da UFJF. Entre os presentes, estavam aqueles que viveram de perto toda a trajetória retratada nas 134 páginas da publicação lançada, como o professor Sagrado Lamir David, um dos 18 formandos da primeira turma de Medicina de Juiz de Fora. “O Zé passou em primeiro e eu em segundo entre os 18 aprovados da turma, de um total de 70 candidatos para 25 vagas. Estudamos e trabalhamos juntos por muito tempo nessa história que ele conta. Sempre achei ele culto, inteligente e competente. É um cara muito ligado à Faculdade de Medicina, é uma referência para mim.”
David resgatou um dos acontecimentos mais marcantes em toda a história da instituição : a formatura da primeira turma de Medicina. Barbosa foi escolhido como orador, e o paraninfo foi o então presidente da República, Juscelino Kubitschek. Entretanto, por decisão do Conselho Técnico Administrativo – colegiado que funcionava entre a Direção e a Congregação – deliberou que o discurso do orador deveria ser previamente aprovado pelo Conselho.
Os formandos, por unanimidade, mantiveram a insubmissão ao conselho. Após várias tentativas de conciliação, o discurso foi cancelado e impresso junto à uma Nota de Esclarecimento, na qual se retratavam os fatos e lançavam o protesto pela tentativa de censura e cerceamento da livre manifestação de pensamento. O material seria distribuído pelos estudantes na saída do Cine-Theatro Central, local da solenidade.
Contudo, os acontecimentos tomaram outro rumo com a chegada de Juscelino que, após tomar conhecimento da censura prévia do Conselho, tentou resolver o impasse antes do início da sessão. Após conversa, o presidente encerrou o assunto com a frase “Deixem o jovem médico falar livremente. Mesmo porque, se o discurso dele contiver alguma agressão a mim ou ao meu Governo, eu saberei responder”.
A passagem foi relembrada pela professora Marta D’Agosto, que destacou a importância do autor dentro do movimento de liderança para criação da Universidade e também na Associação dos Professores do Ensino Superior de Juiz de Fora (Apes), como fundador e primeiro presidente do Sindicato. “Essa posição é muito forte dentro da história dele, nunca se submeteu a pressão e a ordens dos poderosos, como estudante e como primeiro presidente da Apes, líder do movimento docente. Isso mostra o que ele representa dentro da história da Universidade.”
A memória como inspiração
A memória é um dos alicerces que dá sentido à vida. Os erros e acertos do passado ajudam a entender o presente, a planejar ações futuras e a nos inspirarmos. Foi o que aconteceu com a estudante de Medicina da UFJF, Janaína Martins de Souza. Aluna do último período, ele teve contato com a história da Faculdade durante as aulas da disciplina “História da Medicina”. “Eu me sinto muito emocionada de ver esse momento. Quando o professor José Carlos esteve em nossa sala, eu me emocionei muito com a história que ele contou e cheguei a chorar. Ele é um ícone para nós um representante da história por tudo o que fez pela Medicina na cidade.”
Presente no evento, o prefeito de Juiz de Fora, Bruno Siqueira, ressaltou a importância do livro para o registro da memória da cidade para que outras pessoas possam se inspirar e conhecer parte da história do município. “A história do livro e da criação da faculdade é muito rica e importante para nossa cidade. Foi através da criação da Faculdade, após o , decreto assinado pelo Juscelino Kubitschek, que conseguimos nos tornar um importante centro de saúde do nosso estado, também com a criação de outras universidades que vieram em seguida.”
Sala cheia, sinal de reconhecimento
Barbosa cultiva a relação com a Faculdade de Medicina desde sua entrada no ano de 1953 até sua aposentadoria como professor, em 1988. Desde 2006, ele participa do Departamento de História da Medicina, da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Juiz de Fora, que promove congressos e apresentação de trabalhos. Para o professor, a noite foi uma forma de reconhecimento do quão importante é a preservação da memória das instituições.
“Eu fico muito feliz de ver que uma iniciativa como essa tenha o respaldo de todos que estão vivenciando esse processo. É um orgulho saber que tantos amigos, colegas e ex-alunos continuam ligado a alguém que se esforçou para dar para eles o maior ensino possível, sobretudo, da alegria de reencontrar amigos. Encontrar um reconhecimento como está acontecendo hoje na presença de pessoas tão queridas representa o maior prêmio que uma pessoa pode ter na sua atividade em vida”, concluiu.