Reconhecido como Bem Cultural Imaterial de Juiz de Fora, por seu valor histórico e cultural, o Batuque Afro-Brasileiro de Nelson Silva foi o tema de um projeto audiovisual ganhador da XXIII Seminário de Iniciação Científica da Universidade Federal de Juiz de Fora (Semic/UFJF). O diretor do documentário “Batuque (en)cantos de luta” e estudante de Ciências Sociais da UFJF, Guilherme Rezende Landim, entusiasta apaixonado pela história do grupo, conta que acompanhar o Batuque por dois anos, tem sido uma forma de autoconhecimento. “Comparo nossas trajetórias pela cidade, nossas histórias e nossos anseios pela vida. Compreendo meus privilégios e isso também me move de muitas maneiras, me fortalece como pesquisador e como cidadão”.
O trabalho foi feito a partir do resgate da memória e ancestralidade dos 19 integrantes do Batuque. Homens e mulheres, todos negros e negras e a maioria com mais de 60 anos, foram uma fonte inesgotável de narrativas orais e visuais que possibilitou o trabalho de análise e pesquisa da equipe, que aconteceu entre julho e setembro de 2016. Segundo Landim, “o cinema foi utilizado como ferramenta de investigação da pesquisa. As imagens, os gestos, a oralidade e a sonoridade musical são formas de expressão na busca pela compreensão da construção identitária do Batuque Afro-brasileiro. Nesse sentido o documentário é visto como lugar de memória e as anotações de campo trazem os relatos escritos sobre as observações feitas durante as entrevistas e outras filmagens do grupo”.
O Batuque
Criado em 1964 pelo compositor Nelson Silva, o Batuque Afro-Brasileiro reúne ritmo, dança, composição, arte, cultura e resistência, mantendo repertório próprio, com mais de 80 composições com batuques, sambas, arranjos e maculelês, sempre presentes nas suas exibições. O grupo busca resgatar a história e valorizar a cultura negra em Juiz de Fora em apresentações em terreiros de umbanda, escolas, praças e igrejas. Levando muita música entoada pelo coral, o grupo está sempre ativo na cena cultural da cidade.
Novembro, mês da consciência negra
Em 20 de novembro, é celebrado o dia Nacional da Consciência Negra em memória ao dia da morte do Zumbi dos Palmares, líder negro que defendeu o Quilombo dos Palmares das expedições que pretendiam escravizar, novamente, negros que conseguiam fugir das fazendas, prisões e senzalas brasileiras. O mês de novembro é sempre movimentado com atividades, eventos e referências à luta do povo negro contra o racismo que se perpetua até hoje nas raízes da sociedade que ainda se mantém com pensamentos coloniais.
Em Juiz de Fora, o Batuque criou, em parceria com a Câmara Municipal, a Medalha Nelson Silva, que integra o mês de atividades e tem como objetivo homenagear o nome do criador do grupo e valorizar as personalidades negras que contribuem para a memória e difusão da cultura afro-brasileira na cidade. Landim finaliza enfatizando a importância antropológica e etnográfica do grupo: “cada batuqueiro representa pra mim uma peça de um ilustre mosaico permeado de histórias de vida muito fortes, de resistência diária, expressa em palavra, gesto e música, em alto e bom som”.