Trabalho do artista

Exposição reúne 20 pinturas em têmpera vinílica (Foto: Divulgação)

Vermelhos, verdes, amarelos, azuis, marrons, laranjas – cores em estado puro, intensas – sobressaem nas telas de Armando Maia Wood, pintor de Ouro Preto cujas obras ganham exposição no Saguão da Reitoria a partir desta quinta, 14. Nas 20 pinturas em têmpera vinílica reunidas pela primeira vez em Juiz de Fora na mostra Cores de Minas, a temática sobretudo intimista de interiores de casas, naturezas-mortas e retratos, contrasta com a exuberância das cores empregadas pelo artista, que abdica das nuances e sutilezas das pinceladas para investir na força expressiva da cor bruta ao focar as paisagens – interiores e exteriores – da Minas barroca.

Esse efeito nas cores é obtido graças à técnica utilizada pelo artista. A têmpera vinílica é uma técnica muito antiga – semelhante à usada pelo homem primitivo em cavernas – que foi modernizada com o emprego da cola vinílica em substituição à gema do ovo, misturada a pigmentos naturais ou orgânicos. “Esta técnica não favorece as pinceladas, como o óleo e o acrílico, e a pintura fica uniforme, favorecendo as cores e os traços. Como Petrônio Bax queria um mundo lavado em sua pintura, quero um mundo passado a limpo, com menos sujeiras, mais equitativo, mais solidário e mais humano”, explica o autor.

Maia Wood evoca referências mineiras e internacionais em seu estilo. Nele se refletem os pintores que nas décadas de 1960 e 1970 instalavam seus cavaletes nas ruas de Ouro Preto para pintar o casario. Nomes como Ivan Marchetti, com seus vermelhos, e Ney Cokada, que ousava inserir o cor-de-rosa em suas telas, são influências declaradas. Mas também Matisse, Gauguin, Picasso e Renoir são citados, seja pela valorização da cor, seja pela energia do traço. Nesse último caso, Maia Wood elenca ainda Guignard, um mestre brasileiro do desenho e referência inescapável aos pintores das paisagens mineiras, e em especial de Ouro Preto, cidade em que viveu e morreu e a que dedicou boa parte de sua obra.

(Foto: Divulgação)

A exposição traz interiores de casas, naturezas-mortas e retratos da Minas barroca. (Foto: Divulgação)

Referências
Filho de engenheiro que também era artista – seu pai, José Wood, pintava nas ruas de Ouro Preto – Maia Wood desde cedo conviveu com as artes plásticas e teve a oportunidade de ver alguns dos principais nomes da pintura mineira em ação. Mas só há dois anos iniciou uma carreira artística. Hoje aposentado e dedicado integralmente à pintura, esse biólogo de formação foi professor e pró-reitor de Extensão da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Apesar disso, não se considera um autodidata, pois a referência paterna e o convívio com grandes pintores mineiros que frequentavam a família e podiam ser vistos pintando nas ruas da cidade constituíram, para ele, uma escola viva de pintura.

“Hoje é mais difícil termos cavaletes nas ruas de Ouro Preto”, constata o artista, referindo-se ao tráfego de veículos no centro da cidade histórica. Contudo, a paisagem montanhosa, a terra ferruginosa, a arquitetura colonial, as Igrejas barrocas, os Passos da Paixão, os interiores do casario – com janelas e portas, quase sempre abertas ou entreabertas, emoldurando cenas externas, como telhados de casas, torres de igreja ou montanhas e árvores – são presenças constantes no trabalho de Maia Wood. Nelas também se encontram naturezas-mortas (vasos de plantas e flores, cestas de frutas, mesas com objetos) e retratos, nos quais também se percebe a temática mineira.
“Sua pintura versa de lembranças, saudades, um estar imemorial de faces tidas, elementos, plantas, antúrios muitos, as paredes isoladas de tonalidades coloridas, uma certa e reclusa janela que busca o fora, o afora, a cidade monumental dos encantos vários múltiplos de um passado reconquistado”, escreveu o pintor Carlos Bracher sobre a obra do amigo Maia Wood. Os dois pintores estiveram juntos na ONG Amo Ouro Preto, que atuou na conscientização sobre a descaracterização da cidade histórica, ameaçada no início dos anos 2000 de perder o título de patrimônio cultural da humanidade concedido pela Unesco em 1980.

Outras informações: (32) 2102-3964 (Pró-reitoria de Cultura)
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