Da tentativa de resgate do teatro grego por um grupo de florentinos surgiu o último grande fruto artístico da Renascença: a ópera. Pela sua mistura de música e teatro com outros elementos artísticos, o gênero é considerado a arte total. De início associada a classes aristocráticas, as óperas ainda são vistas com desconfiança. Daí surgiu a ideia do Operando. Organizado pela Orquestra Sinfônica Pró-Música, em parceria com os corais da Cesama e do Pró-Música, cantores solistas do curso de Música da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e Studio de Dança Vivian Mockdece, o evento tem o objetivo de atuar como plataforma de divulgação da ópera, apresentando brevemente a história do gênero para quem ainda é leigo no assunto. O concerto acontece neste domingo, dia 8, às 20h, com entrada franca, no Cine-Theatro Central da UFJF.
Segundo o professor da UFJF e um dos idealizadores da apresentação, Rodolfo Valverde, o grande obstáculo à apreciação da música clássica é a falta de entendimento. “Muita gente acha que é difícil e que não dá para apreciar e entender as óperas. Esse projeto vem para provar o contrário.” A apresentação será antecedida por uma conversa sobre a história da ópera e o repertório a ser executado, de seleção abrangente, que inclui peças que marcam o início do gênero – como a primeira ópera da história ocidental a consolidar o modelo da forma que conhecemos hoje, “L’Orfeo”, de Claudio Monteverdi, de 1607 – até obras de Puccini, Bizet, Handel e Gershwin. A partir da apresentação, os ouvintes vão poder entender o contexto histórico, musical e dramático de cada peça.
O regente da Orquestra Sinfônica Pró-Música, Victor Cassemiro, reafirma a importância de iniciativas como o Operando para a popularização da música erudita. “Essas propostas, como o Festival de Música Colonial Brasileira e Música Antiga [que em sua última edição contou com a montagem de uma ópera], estão dando muito certo. O público vem aumentando e está entendendo melhor como se comportar durante as apresentações.”
O concerto terá a participação dos cantores solistas Júlia de Oliveira, Michele Flores, Elmir Santos, Tamara Medeiros, Cecília Costa, Tâmara Lessa, Alexandre Pereira e Lucas Miranda – alunos e ex-alunos do curso de Música da UFJF -, além dos dançarinos do Studio de Dança Vivian Mockdece e dos corais Cesama e Pró-Música.
Uma história da ópera
Nas primeiras décadas após a inauguração do Cine-Theatro Central, em 1929, ir ao cinema era um programa elegante. Com roupas requintadas, chapéus e luvas, quem frequentava os eventos do Central se deparava com apresentações da orquestra do cine-theatro, que fazia fundos sonoros e executava a ópera “Cavalleria Rusticana”, do italiano Pietro Mascagni, como prefixo das sessões. A obra, tão importante na história do Central, faz parte do repertório da apresentação “Operando” e é um marco do verismo – o realismo na literatura, que aborda a realidade do povo comum.
Enquanto o verismo de Mascagni foi bem aceito pelo público da época, outra recepção teve a ópera de Georges Bizet, “Carmen”, que também integra o repertório do concerto. Apresentada nas cortes franceses, não obteve o mesmo apelo que a obra italiana: havia pouco interesse na crueza dos temas que envolviam as classes menos abastadas. Outra peça de destaque da apresentação no Central é “A Flauta Mágica”, de Wolgang Mozart. Expoente do singspiel – subgênero da ópera do século XVIII que apresentava diálogos falados -, o compositor levou o gênero, considerado menor, a um patamar de excelência. A obra ainda é repleta de simbologias maçônicas.
Explorando diversos períodos da história da ópera, o repertório abrange peças de destaque do barroco (Monteverdi, Handel, Purcell e Ramaeu), clássicas (Mozart) e românticas (Verdi, Puccini, Bizet e Mascagni), além de “Porgy and Bess”, de George Gershwin, que representa o moderno, fundindo elementos de jazz com a ópera. O concerto será dividido em duas partes, com duração de cerca de uma hora. Na primeira, serão apresentadas músicas instrumentais de ópera, enquanto a segunda metade contará com a participação dos corais, dos cantores solistas e das dançarinas.
A dança provoca o olhar
Nem toda ópera é acompanhada de dança. Mas no início do gênero, quando este saía da Itália e ganhava os nobres franceses, as apresentações geralmente vinham acompanhadas por dançarinos. Isso porque o compositor Jean-Baptiste de Lully, precursor do gênero na França, se inspirou no ballet de court, apresentação de dança que caiu nos gostos da aristocracia francesa. Além disso, o rei Luís XIV, amante da dança e bailarino, influenciou Lully, que passou a desenvolver prólogos alegóricos em função da glorificação do chamado Rei Sol.
Envolvendo não só a orquestra, mas também cantores e bailarinos, a apresentação final do espetáculo, “As Índias Galantes”, de Jean-Philippe Rameau, representa os três corpos artísticos do teatro: o coro, a orquestra e o corpo de baile.
Segundo a coreógrafa da peça e professora do grupo que vai se apresentar no domingo, Vivian Mockdece, “é um desafio muito grande para qualquer profissional não se prender a situações cotidianas”. Para ela, a apresentação é uma forma de engrandecer as performances, tanto dela quanto das alunas, uma vez que a proposta corporal da ópera é muito diferente da que o grupo, formado por bailarinas clássicas de 8 a 14 anos, está acostumado. “Elas vão dançar descalças, com o cabelo solto e executando movimentos muito diferentes dessa vertente clássica. É um grande desafio, mas elas receberam muito bem a proposta.”
Vivian ainda completa: “Falar que não gosta de ópera sem conhecer é fácil. Iniciativas como essa são importantes, porque dão a possibilidade de as pessoas conhecerem e apreciarem a modalidade”.
Apesar de a entrada ser franca, os ingressos devem ser retirados nesta sexta-feira, dia 6, das 9h às 18h, no Centro no Centro Cultural Pró-Música, localizado na Avenida Rio Branco 2.329, no Centro da cidade.
Outras informações: (32) 3215-1400 (Cine-Theatro Central-UFJF)