Em consonância com o tema da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia de 2017: “A matemática está em tudo!”, faremos, no mês de outubro, uma série de matérias mostrando a transversalidade da área. Em algumas profissões, nem sempre a relação com a matemática é muito aparente, como é o caso da Indústria da Moda. “Só é moda aquilo que está sendo muito usado, que está nas mídias. O que não é replicado por muitas pessoas não está na moda”, define Javer Volpini, professor de modelagem no Bacharelado em Moda da UFJF. Não é à toa que o nome “moda” tem a mesma origem de uma propriedade da Estatística, a Moda Matemática. Ambos vêm do vocábulo latino modus e fazem referência a algo repetido com frequência em determinado grupo.
A matemática faz parte do dia a dia da Moda, desde a criação das peças até o destino final, o consumidor. Essa relação é muito clara quando se pensa na moda enquanto negócio, na parte de gestão, distribuição e venda. “Como processo criativo e produtivo, ela não está ligada somente ao subjetivo, como normalmente é associada. Costumo dizer que o papel aceita tudo, mas nós fazemos roupas para corpos, que respeitam medidas, proporções e simetrias”, acrescenta Volpini. A construção de uma peça começa com os croquis, que são esboços que sugerem a roupa num corpo em poses. Para tornar viável a ideia expressada nessa espécie de rascunho, é preciso planificar o desenho e criar moldes em tamanhos reais para posteriormente cortar os tecidos. Neste momento, ferramentas da matemática prestam serviços ao mundo fashion.
Todo o processo de modelagem começa com formas geométricas, partindo de diagramas retangulares e a utilização de pontos, linhas, curvas, círculos. Javer explica que todas as curvas do corpo são pequenos arcos e para reproduzir essas formas existem réguas específicas. “Nas minhas aulas eu utilizo termos da geometria o tempo todo. Para fazer a construção de um decote, preciso que meus alunos ‘esquadrem’ um ponto em um ângulo de 90 graus, para quando fizer o espelhamento do desenho não apareça alguma deformidade”. Os moldes podem ser feitos à mão ou através de softwares e máquinas de impressão, em ambos são usadas escalas onde espaços menores são convertidos proporcionalmente em tamanhos reais.
Estudos antropométricos – parte da antropologia que trata da mensuração do corpo humano ou de suas partes- definem uma média das dimensões dos corpos, e em cima disso a indústria desenvolve as tabelas de medidas. Há uma grade de tamanhos que podem variar do manequim 36 ao 60 de acordo com a demanda do público. Volpini explica que para desenvolver moldes de tamanhos diferentes tem que ser feito o cálculo das variações entre cada medida e numeração, operações simples, mas de suma importância para confecção correta das peças. “Uma calça 36 feminina deve ter no quadril 88 cm de tecido, já no tamanho 38 deve ser de 92 cm, no número 40 são necessários 96 cm, nota-se um padrão de aumento de 4 cm a cada numeração, assim de um molde pra outro é preciso seguir essa proporção de aumento”. Também deve se pensar que uma peça é feita em partes, logo a quantidade de tecido usada para unir os pedaços deve estar presente nas contas. Esse processo se repete a cada medida do corpo e modelo de roupa.
Antes de seguir para a indústria as roupas são produzidas em uma versão piloto que recebe uma ficha técnica na qual constam todas suas características. Com base nessa identidade das peças existe um trabalho de logística que leva em consideração a quantidade de tecido para cada tamanho, aviamentos, energia, mão de obra e tempo necessários para sua confecção. Cada etapa da produção tem um custo que é incorporado ao preço que as peças chegam até o consumidor. “A criação e produção são processos diretamente interferidos pelo consumo. De acordo com os dados de saída de cada modelo a indústria cria novas peças que respeitem as demandas dos clientes, mais uma vez mensuradas pelos recursos das estatísticas” acrescenta Volpini.
A integração entre áreas de conhecimento não é peculiar ao desenvolvimento a moda. Assim como a matemática outras ciências têm serventia para o setor. “Nos valemos de recursos das ciências sociais, artes, matemática, ergonomia, gestão, dentre muitos outros para ensinar como se fazer moda” explica Volpini. “As disciplinas no curso de Bacharelado em Moda trabalham as matérias de forma mais interdisciplinar possível, com o intuito de abranger todas as etapas desse ramo”.