Precisamos falar sobre suicídio. Este é o principal alerta do Setembro Amarelo, campanha de prevenção, realizada em nível nacional, organizada pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), sem fins lucrativos. O suicídio é um problema de saúde pública, vitimando, de acordo com o CVV, uma pessoa por hora no Brasil, mesmo período no qual outras três tentaram se matar sem sucesso.
A professora do Departamento de Psicologia e coordenadora do Centro de Psicologia Aplicada da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Fabiane Rossi, afirma que apesar da estatística alarmante, o suicídio ainda hoje é um mal silencioso por conta do estigma e do tabu associados ao tema. “Muitos fogem do assunto e, por medo ou desconhecimento, não vêem os sinais de que uma pessoa próxima está com ideias suicidas. Importante não subestimar falas: há uma falsa crença de ‘quem fala não faz’. Deve-se ficar atento a sinais e sintomas, como falar muito de morte, por exemplo. Sentimentos de tristeza extrema, solidão, desamparo, desesperança e auto-desvalorização devem ser observados. Importante ouvir com cordialidade, tratar o sofrimento do outro com respeito, ter empatia com as emoções e acolher com sigilo.”
Fabiane explica que há diversos fatores de risco para o suicídio, “como aspectos sociais, psicológicos, condição crônica de saúde, além dos transtornos mentais, como a depressão; transtornos do humor, esquizofrenia, transtornos relacionados ao uso de substâncias, entre outros”. Segundo a professora, os suportes profissional e social são fundamentais nesses contextos, para evitar que uma pessoa atente contra a própria vida. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 9 em cada 10 casos de suicídio poderiam ser prevenidos pela combinação de acompanhamento psicológico e psiquiátrico e apoio de amigos e da família.
Dar visibilidade ao tema
O psicólogo da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis da UFJF, Getúlio Coelho Medeiros, ressalta que falar sobre saúde mental pode ser um fator preventivo.
“Infelizmente o assunto ainda é um tabu. Quem possui algum acometimento psíquico é estigmatizado na nossa sociedade. Grande parte das vezes a pessoa passa a ser tratada de forma diferente por familiares ou amigos, quando diz que está fazendo acompanhamento psicológico ou psiquiátrico. Não falar em suicídio não quer dizer que ele não aconteça. Falar sobre o tema sempre foi permeado pelo medo de desencadear casos de suicídio, todavia existem formas de se falar, sem expor e sem reforçar o estigma da doença mental. A pessoa que sofre precisa tomar conhecimento das redes de apoio e de que não está sozinha.”
A pessoa que sofre precisa tomar conhecimento das redes de apoio e de que não está sozinha (Getúlio Medeiros, psicólogo)
Medeiros afirma que muitas vezes quadros de transtorno mental são agravados pela sensação de isolamento. “A pessoa acha que somente ela está sofrendo: ‘somente eu não dou conta, somente eu não consigo ser feliz’, principalmente entre jovens, para os quais as redes sociais (ou antissociais) se apresentam como um mar de felicidade que pouco tem a ver com a vida real. Dar visibilidade ao tema é importante, quem sofre pode identificar que não está sozinho, que o sofrimento é muito mais comum do que parece. O apoio familiar e de amigos e o acompanhamento especializado são fundamentais na prevenção do suicídio”, avalia.
Atentar para os sinais e oferecer ajuda
Quanto antes forem identificados os fatores predisponentes do suicídio, melhor será o prognóstico. “Existem vários fatores que, associados, podem levar ao suicídio. Muitas vezes passam despercebidos por familiares, amigos ou pessoas próximas àqueles que sofrem e possuem ideação suicida. A temática da saúde mental em evidência faz com que a informação sobre as doenças psíquicas circule e chegue à população em geral. Desta forma, as pessoas passam a reconhecer fatores predisponentes, quais os tratamentos disponíveis e, o mais importante, onde obter suporte no caso do sofrimento psíquico. Campanhas também são importantes quando promovem o conhecimento acerca dos devidos encaminhamentos a serem dados e como se portar e oferecer um apoio”, enfatiza Medeiros.
Segundo o psicólogo, há alguns sinais que devem ser observados . “Antes de consumar o ato, as pessoas, frequentemente, fazem comentários sobre ‘querer morrer’, apresentam sentimentos de pouco valor e outros como, por exemplo, desespero, desesperança e desamparo. A maioria das pessoas com ideias de morte comunica seus pensamentos e intenções suicidas. Estas comunicações devem ser entendidas como pedidos de ajuda e não podem ser ignoradas. Importante estar sempre atento aos sinais e, caso suspeitando das ideações suicidas, ouvir esta pessoa efetivamente, sem julgamento de valor, respeitando o seu sofrimento. É fundamental buscar ajuda especializada o mais rápido possível.”
Acompanhamento psicológico e psiquiátrico são essenciais, além de acesso a redes de apoio, como trabalho do Centro de Valorização da Vida (Fabiane Rossi, professora de Psicologia)
A avaliação é compartilhada pela professora Fabiane Rossi. “No que diz respeito às pessoas que tem pensamentos suicidas é determinante a busca por ajuda. Acompanhamento psicológico e psiquiátrico são essenciais, além de acesso a redes de apoio, como trabalho do Centro de Valorização da Vida, que realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail, chat e Skype, 24 horas, todos os dias.”
Na rede pública de saúde, pode ser solicitado apoio profissional nas Unidades de Atenção Primária (Uaps) e Básica (UBS), e, sendo identificada necessidade, ao Centro de Atenção Psicossocial (Caps).
Centro de Psicologia Aplicada da UFJF
O Centro de Psicologia Aplicada (CPA), serviço-escola ofertado pela UFJF, também é uma alternativa para aqueles que procuram ajuda. Fabiane Rossi ressalta que o setor presta atendimento psicológico a toda a comunidade de Juiz de Fora, incluindo acompanhamento psicoterápico individual e grupos. A equipe de atendimento é constituída por uma psicóloga responsável técnica, psicólogos voluntários, egressos da graduação em Psicologia e alunos dos últimos anos do curso.
“A demanda pelos serviços oferecidos no CPA é extremamente alta, uma vez que se trata de um serviço que oferece atendimento completamente gratuito à comunidade. Inicialmente os usuários passam por uma triagem, sendo posteriormente encaminhados aos atendimentos. A agenda para marcação é aberta ao início e meio de cada ano e as vagas são rapidamente ocupadas, o que nos sugere uma necessidade significativa de ampliação da oferta de serviços psicológicos no município.”
Em 2016, o CPA registrou 360 usuários para atendimento individual. Este ano, já são 158 usuários, não incluindo as intervenções em grupo. Segundo a coordenadora, embora seja um serviço direcionado à comunidade em geral, a procura por atendimento por parte dos alunos da UFJF tem crescido significativamente.
“Em função disto, foi criado por nós, em parceria com a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Proae), o Projeto de Acompanhamento Psicológico ao Discente, visando acolher demandas específicas encaminhadas pela Proae. Outras formas de acolhimento destas demandas têm sido discutidas para que possamos ampliar as possibilidades de suporte a nossos alunos, estabelecendo de fato uma rede de apoio.”
O Centro de Psicologia Aplicada da UFJF (CPA-UFJF) fica na Rua Santos Dumont, 214, no Centro.
Outras informações: (32) 2102-3777 – Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Proae)
(32) 3217-8253 ou 3216-1029 (CPA)
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