Entender como o telespectador recebe as informações transmitidas por um telejornal da TV pública e se esse receptor enxerga diferenças em relação às emissoras de televisão comercial. Interesses como esse nortearam a dissertação de mestrado “Telejornalismo e público: as narrativas do encontro com a informação no Repórter Brasil”. O trabalho foi defendido pela mestranda Juliana Zoet de Assis Steinbach, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCom), da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
No estudo, foram utilizadas reportagens da edição noturna do ‘Repórter Brasil’, o principal noticiário da TV Brasil, emissora pública integrante da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). O programa é exibido de segunda-feira a sábado, às 19h45.
A mestranda ressalta que a TV Brasil foi criada para ser uma emissora pública: “É ser uma TV isenta de interesses comerciais e políticos, que atenda aos anseios do cidadão e permita a participação desse cidadão, não só no direito à informação, mas no direito à comunicação, ele ter o direito de se comunicar”, afirma.
Grupos foram montados com pessoas diferentes para avaliar matérias do telejornal. O primeiro conjunto, formado por profissionais de várias áreas, assistiu a reportagens sobre a redução da maioridade penal. Outro grupo focal era de professoras da rede estadual de ensino, algo que a mestranda “estava com vontade de fazer desde o início”. As professoras assistiram a reportagens sobre educação. A TV pública no Brasil é baseada em antigas emissoras educativas, a primeira delas fundada há 50 anos. Portanto, docentes são um público-alvo desse tipo de veículo.
A mestranda avaliou ainda a interação do telespectador com a página do “Repórter Brasil” no Facebook, já que o telejornalismo público tem a proposta de dar voz ao cidadão e a rede social é um ambiente no qual a pessoa pode produzir o próprio conteúdo. “Houve alguns compartilhamentos, que é uma forma de engajamento, mas não se acrescentava informação. Ao compartilhar, você assume aquele pensamento para si, então é uma forma de você participar com aquela notícia. Mas as pessoas não acrescentavam nada”, avalia.
Na conclusão do trabalho, Juliana Zoet afirma que é importante um debate sobre televisão e consumo do veículo desde a escola. A mestranda avaliou que existe entre as pessoas um posicionamento crítico em relação à televisão, mas elas não conhecem as alternativas ao sistema vigente nas emissoras comerciais.
Segundo Zoet, a curiosidade em relação à forma como o público assimila as mensagens da televisão nasceu no próprio local de trabalho. A mestranda é graduada em Comunicação Social – Jornalismo pela Faculdade de Comunicação da UFJF (Facom – UFJF) e trabalha como repórter na TV Alterosa Zona da Mata e Vertentes – afiliada ao Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) com sede em Juiz de Fora.
Momento de transição
A pesquisa começou a ser feita ainda no governo da presidenta Dilma Rousseff e foi finalizada quando a EBC e, portanto, a TV Brasil já haviam passado por mudanças após a chegada de Michel Temer à Presidência da República. Juliana Zoet faz um histórico desse período de transformações em sua dissertação. “Essas mudanças foram muito criticadas por instituições, por entidades civis, pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), pelos próprios funcionários da EBC, porque a implantação da TV pública estava em um processo, ainda longe do ideal”, conta a mestranda que também faz uma trajetória histórica dos Estudos de Recepção.
Para a professora orientadora da pesquisa, Iluska Maria da Silva Coutinho, a dissertação tem importância porque verifica empiricamente a recepção do telespectador à TV pública. “A TV Brasil ainda é uma grande incógnita. As pessoas não sabem o que é a comunicação pública e o seu papel. Se não sabem, não vão conseguir defender e exigir que seja de qualidade. O trabalho é importante porque mostra empiricamente um dos desafios de quem faz TV pública, que é torná-la conhecida do próprio cidadão”, conclui.
Contatos:
Juliana Zoet de Assis Steinbach (mestranda)
ju_zoet@yahoo.com.br
Iluska Maria da Silva Coutinho (orientadora – UFJF)
iluska.coutinho@ufjf.edu.br
Banca Examinadora:
Prof.ª Dra.ª Iluska Maria da Silva Coutinho (orientadora – UFJF)
Prof.ª Dr.ª Cláudia de Albuquerque Thomé (UFJF)
Prof.ª Dr.ª Edna de Mello Silva (UNIFESP)
Outras informações: (32) 2102-3616 – Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCom)