Qual o futuro das cidades? Como para tantas outras coisas, atualmente, a resposta parece ser “internet”. Com o estabelecimento de formas alternativas de geração de energia e avanços no campo das comunicações, as novas tecnologias prometem uma cidade interconectada, eficiente, inteligente e voltada para o bem-estar de seus habitantes. De semáforos que se adaptam à intensidade do trânsito a redes elétricas que acompanham o consumo real, problemas do cotidiano começam a ser resolvidos por uma tecnologia da ficção científica que se tornou bastante real.
Discutindo as formas de aprimoramento das cidades, Felipe Fulgêncio e Eudo de Lima Assis Júnior conduziram a palestra “Smartcities e as Parcerias Público-Privadas”, da Conferência de Inovação e Desenvolvimento para a Zona da Mata Mineira (Conide), nesta quarta, 23.
Vice-presidente do Instituto Smart City Business America e diretor executivo da M2M Telemetria, Fulgêncio abordou os desafios para a implementação dessas novas tecnologias sob a perspectiva do setor privado. Conforme o palestrante, a maior parte das cidades brasileiras, atualmente, não têm capacidade de investimento para custear sozinhas essa transição. Nesse contexto, é importante que o setor privado tome a iniciativa nos custos iniciais para lucrar no longo prazo. Para isso, porém, algumas mudanças devem ser implementadas nesse mercado.
Fulgêncio explica que, em 2015, das 159 tentativas de firmar parcerias público-privadas (PPP’s) para a modernização de cidades, apenas oito vingaram. A causa desse índice seria a burocracia e a regulamentação ainda incipiente desse tipo de processo. Focando na iluminação pública (sua especialidade e principal mercado das PPP’s) como exemplo, ele demonstrou que a relação entre setor público e privado é precariamente regulada, tornando-se pouco atraente para as prefeituras. “A iluminação pública representa cerca de 4% do consumo energético nacional. Quase 90% dos pontos de iluminação contratados pela prefeitura são ligados diretamente na rede elétrica e não são monitorados ou medidos. Isso gera uma média de 15% de perda de energia.”
Segundo o executivo, a instalação de sistemas de telegestão (monitoramento e medição remota) sobre os pontos de iluminação pública poderiam aumentar em 15% a eficiência desse uso energético, reduzindo custos para a prefeitura e para a sociedade, além de melhorar a qualidade do serviço. Porém, aponta, é necessário que essa economia seja repassada à cidade. Atualmente as prefeituras pagam um valor preestabelecido às distribuidoras de energia.
Desburocratização de processos
Coube a Assis – subsecretário de Tecnologia da Informação da Secretaria Municipal de Finanças, Tecnologia da Informação e Controle Interno da Prefeitura de Manaus – oferecer a experiência prática dessa transição para as cidades inteligentes, com o exemplo de Manaus, que iniciou um intenso processo de modernização, em 2013. Ele contou que, assumindo a gestão da capital, a equipe de governo encontrou uma dívida de R$ 200 milhões, estruturas públicas inadequadas, processos burocráticos pouco eficientes (por vezes inteiramente manuais) e servidores desmotivados. Todo esse cenário às vésperas da Copa do Mundo.
“Na Secretaria de Finanças não pensávamos em cidades inteligentes quando começamos o processo, queríamos resolver problemas da cidade”, contou. Buscando desburocratizar os processos da Prefeitura, sua equipe encontrou financiamento pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com o programa Plano de Modernização da Administração Tributária. Com esse recurso, passaram a realizar reformas estruturais (a construção de um data center moderno e eficiente) e de processos (atendimento online aos cidadãos, gestão digital de documentos e criação de um aplicativo para os fornecedores da Prefeitura).
Além de aprimorar a qualidade dos serviços públicos prestados, Assis apontou que investimentos como o data center representaram cerca de R$ 12 milhões em economia para os cofres de Manaus. “Foi um investimento alto, que se pagou em pouco mais de um ano.”
Convidando os presentes para visitar Manaus e conhecer mais sobre a crescente inteligência da cidade, o secretário apresentou os sistemas fotovoltaicos em prédios públicos inteligentes como planos para o futuro próximo.
Transferência de tecnologias
Ignacio Delgado – diretor de Inovação da UFJF e um dos coordenadores do evento – avaliou o painel como uma oportunidade de observar tanto os caminhos quanto as experiências já bem sucedidas nesse sentido. “É importante por mostrar como é possível melhorar o processo de gestão a partir da incorporação de tecnologias. Isso melhora a eficiência dos processos, aproxima o usuário do governante e aumenta a transferência da gestão. Tanto o exemplo mais conceitual do Fulgêncio quanto o mais prático do Assis servem para aprendermos a adaptar cada realidade às tecnologias disponíveis.”