A criação de sinais para os termos presentes nos conteúdos de matéria e energia na Língua Brasileira de Sinais (Libras), foi um dos objetos de estudo da dissertação de mestrado “Investigando os processos de imersão e modificação de sinais durante a apropriação da sinalização científica por surdos ao abordar os saberes químicos matéria e energia”. O trabalho foi desenvolvido pelo mestrando Vinícius da Silva Carvalho, do Programa de Pós-Graduação em Química da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A defesa foi na última sexta-feira, 11, no campus Juiz de Fora.
A investigação se deu no projeto de extensão “O ensino de química para alunos surdos: construindo novas possibilidades”, criado em 2012 no Colégio de Aplicação João XXIII. A iniciativa desenvolvida no Centro de Ciências da UFJF foi realizada entre 2012 e 2016. Alunos de escolas públicas de Juiz de Fora e região, com idades entre 15 e 28 anos, foram atendidos pelo projeto. Dois participantes foram aprovados para a Universidade.
Segundo o mestrando Vinícius Carvalho, que atuou como voluntário no projeto, uma barreira comunicativa na língua de sinais foi notada pelos professores. Não havia uma forma de como expressar certos termos químicos em Libras. “A língua de sinais já existe, já tange à comunicação entre surdos. O que propusemos foi justamente criar sinais específicos para terminologias químicas. No Português já existem os termos, na Libras não existia. Então, foi preciso criar uma sinalização científica para dar acesso à comunicação dos surdos”, afirma Carvalho.
O acadêmico explica que para a concepção e aplicação desses novos termos, foram necessárias três etapas. “A primeira, foi no grupo de pesquisa que acontece no Departamento de Química, no qual criamos 50 sinais científicos, com a ajuda da professora Rosani Kristine Garcia, do curso de Letras Libras. Dentro desse grupo de pesquisa, convidamos cinco professores de Libras, todos surdos, para verificarem esses sinais”, conta o mestrando.
A última etapa foi a aplicação do novos sinais com os alunos frequentadores do projeto. “Lá que utilizamos como instrumento de ensino e percebemos que o sinal de fato era apropriado nos eventos de comunicação entre surdos e nas perguntas de dúvidas para o professor”, afirma Vinícius Carvalho.
Apropriação dos termos semelhantes à Língua Portuguesa
Tanto os cinco professores escalados para avaliar os termos químicos criados dentro da Língua Brasileira de Sinais, quanto os alunos fizeram adaptações nos vocábulos novos. Segundo o mestrando Vinícius da Silva Carvalho, as reduções foram de ordem morfológica e fonológica. Um movimento semelhante ao que acontece na Língua Portuguesa. “A maioria das mudanças ocorreu no grupo de professores. E entre os alunos, observamos apenas uma modificação de tempo, ou seja, realizavam o sinal mais rápido, mostrando fluidez no processo dialógico”, conta. Outras estratégias para verificação da aprendizagem dos alunos foram tomadas, como uso de jogos, fotografia e RPG.
Para um dos criadores do projeto de extensão e professor co-orientador da dissertação de mestrado, Eloi Teixeira César, o trabalho realizado promoveu uma verdadeira inclusão dos alunos surdos, o que, para ele, é fundamental. “Não basta pegar o aluno que tem deficiência auditiva e colocá-lo na sala de aula. É preciso que o professor tenha capacitação. E o projeto vem nessa expectativa, de propiciar a verdadeira inclusão dos alunos na sala de aula. Se o aluno não tiver como aprender, ele não está sendo incluído”, avalia.
Contatos:
Vinícius da Silva Carvalho (mestrando)
vinicius.scq@gmail.com
Prof.ª Dr.ª Ivoni de Freitas Reis (orientadora)
ivoni.reis@ufjf.edu.br
Prof. Dr. Eloi Teixeira César (co-orientador)
eloi.cesar@ufjf.edu.br
Banca Examinadora:
Prof.ª Dr.ª Ivoni de Freitas Reis (orientadora – UFJF)
Prof. Dr. Eloi Teixeira César (co-orientador – UFJF)
Prof. Dr. Waldmir Nascimento de Araújo Neto (UFRJ)
Prof.ª Dr.ª Aline Garcia Rodero Takahira (UFJF)
Outras informações: (32) 2102-3309 – Programa de Pós-Graduação em Química