A partir de viés inédito na ciência, grupo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) investiga métodos de preservação de espécies e potencial antioxidante de organismos marinhos com o uso da técnica de espectroscopia Raman. Tal método analítico espectroscópico faz uso de feixe de laser para obter resultados mais precisos, que contribuem para preservação do ecossistema marinho, gerando impactos diretos para a qualidade de vida do planeta, além de avaliar o potencial antioxidante, capaz de conter o envelhecimento de células, encontrado nas substâncias analisadas.
Membro do Núcleo de Espectroscopia e Estrutura Molecular da UFJF e uma das responsáveis pela pesquisa, junto ao professor Luiz Fernando Cappa de Oliveira, Lenize Maia explica que as substâncias estudadas no laboratório da própria Universidade são provenientes de uma parceria com a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e o Projeto Coral Sol. O projeto é realizado através do Instituto Brasileiro de Biodiversidade, incentivador de pesquisas para a conservação do ambiente, promovendo o conhecimento científico voltado à biodiversidade.
Técnica diferenciada
Segundo Lenize, a técnica da espectroscopia Raman é um método analítico espectroscópico, ou seja, que faz uso da luz – no caso, em forma de um feixe de laser – para obter seu objetivo. “Selecionamos uma pequena quantidade de amostra para ser atingida pela luz e, quando ambas interagem, são capazes de espalhar inelasticamente a radiação, e o registro dessa interação fornece um espectro Raman”, explica. Por meio dessa análise, é possível identificar a composição, a estrutura molecular e a forma de agir das substâncias químicas presentes na amostra.
O uso da técnica para a análise de fragmentos de esponjas marinhas, como é realizado na UFJF, é um projeto inédito. Por identificar de forma rápida as estruturas químicas, a espectroscopia Raman se destacou nos últimos anos como uma das mais promissoras em pesquisas na área de química aplicada à saúde e ecologia, especialmente aquelas voltadas para métodos de prevenção. Como aponta Lenize, outra vantagem é o fato de ser um método de análise não destrutivo, ou seja, as amostras seguem preservadas após a incidência do laser.
“Por meio da análise espectroscópica, identificamos substâncias como alcaloides e carotenoides com atividade antioxidante”, evidencia Lenize. Organismos marinhos, como os corais e as esponjas analisadas pelos pesquisadores, apresentam um grande número de produtos naturais estruturalmente diversificados, sendo que muitos desses possuem atividades biológicas e farmacológicas comprovadas.
“Além da caracterização, estamos realizando um trabalho integrado”, explicita a pesquisadora. “Temos a intenção de avaliar, em termos ecológicos, o que essas substâncias químicas estão trazendo de benefícios para esses organismos marinhos e qual o potencial delas para uma atividade biológica ou biomédica. Junto a isso é importante a promoção de educação ambiental; a partir do momento que conhecemos o papel de algo que compõe o ecossistema marinho, uma parte vital para o funcionamento pleno e direto das nossas vidas como seres humanos, também vamos conhecer o que devemos preservar.”
Vida e ciência se encontram no oceano
A regra é clara: conservando o ecossistema marinho, conservamos e melhoramos a vida de seres e ambientes terrestres. “Os sistemas marinhos são os grandes produtores do oxigênio que consumimos”, lembra Lenize Maia. “Se temos um desequilíbrio muito grande nos nossos mares, vai afetar a disponibilidade de oxigênio no nosso ambiente, o que afeta e pode colocar em risco a saúde do nosso ecossistema como um todo. É uma reação em cadeia.”
Uma outra abordagem ecológica que vem sendo avaliada pelos pesquisadores da UFJF é compreender como organismos invasores modificam as comunidades biológicas locais e buscar formas de deter esses organismos que se tornam “nocivos” no novo habitat. “Nos nossos projetos de ecologia química, analisamos uma espécie invasora de coral que causa um desequilíbrio na biota marinha”, esclarece Lenize. “Também avaliamos o impacto da poluição presente nos mares e que, muitas vezes, é invisível aos nossos olhos, porém detectável e monitorada através das substâncias químicas. Verificamos que a espectroscopia Raman pode ser utilizada de forma eficiente como ferramenta de discriminação do conteúdo de metabólitos produzidos ou incorporados em decorrência de impactos ambientais.”
As amostras são coletadas no litoral do estado do Rio de Janeiro, mais especificamente nos arredores de Angra dos Reis, como fruto da parceria com as professoras Gisele Hajdu e Beatriz Fleury, da Uerj, responsáveis pela coleta e realização dos ensaios ecológicos em campo. Posteriormente, são analisadas no laboratório do NEEM na UFJF.
Postergando o envelhecimento
Presentes nos organismos marinhos em estudo, os carotenóides, bem como alcalóides já identificados, são moléculas antioxidantes que possui potencial biomédico, uma vez que podem sequestrar e inativar radicais livres, ou seja, é capaz de ajudar a conter sinais de envelhecimento, aumentar a saúde da pele e também prevenir diversas doenças. “É como se esse fator impedisse a formação e ação dos radicais livres, ou ainda favorecesse o reparo celular”, elucida Lenize. “Para os organismos marinhos a função pode ser de fotoproteção; para nós, pode ir além.”
Destaque nacional
Os resultados das pesquisas realizadas na UFJF foram apresentados durante o 4° Encontro Brasileiro de Espectroscopia Raman, realizado este ano pela própria Universidade e sediado em Juiz de Fora, demonstrando o destaque da região na área de pesquisa. “Estamos cumprindo com nosso objetivo, que é estabelecer essa nova linha de pesquisa dentro da UFJF e gerar informações que contribuam para desenvolvimento científico e social como a educação ambiental.”
Outras informações: (32) 2102-3201/3202 (Núcleo de Espectroscopia e Estrutura Molecular)