A preocupação com a qualidade de vida relacionada à saúde e ao perfil nutricional de pacientes ostomizados embasou a tese de doutorado da acadêmica Ana Lívia de Oliveira. A pesquisa “Qualidade de Vida Relacionada à Saúde e Perfil Nutricional de Portadores de Derivação Intestinal – colostomia e ileostomia” foi apresentada no Programa de Pós-Graduação em em Saúde (PPgS), da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
A pessoa ostomizada (ou estomizada) é aquela que passa por uma cirurgia para exteriorização dos sistemas digestório, respiratório ou urinário. Nesse procedimento, o paciente passa a ter uma abertura na parede abdominal para a saída de eliminações de forma temporária ou permanente. Quem passa pela cirurgia usa uma bolsa para o armazenamento dos rejeitos. Em seu trabalho, Ana Lívia, que também é professora do departamento de Nutrição da UFJF, estudou pacientes assistidos pelos Serviço de Atenção à Saúde da Pessoa Ostomizada em Juiz de Fora.
O trabalho tem duas vertentes: foram estudados os colostomizados e os ileostomizados de forma separada. Colostomizados retiraram parte do cólon, a parte central do intestino grosso. Já os ileostomizados passaram por cirurgia na parte final do intestino delgado, chamada de íleon. Como essa região absorve muitos nutrientes no corpo, esses pacientes apresentam perda nutricional.
“Pacientes com ileostomia tiveram uma menor ingestão de gordura e niacina (vitamina do complexo B). Mais ileostomizados (20%) evitam alimentos devido ao fato de descolar a bolsa, em comparação com colostomizados (4,8%). Estas questões justificaram o objetivo deste estudo, trazendo novas informações para a literatura, assim como, auxílio aos profissionais que estão presentes na atenção e cuidado à saúde de estomizados intestinais”, relata Ana Lívia de Oliveira.
A professora destaca que o câncer de colo e reto é um dos mais frequentes na população brasileira e principal causa de estomias intestinais. Na visão da doutoranda, é fundamental que a equipe de saúde envolvida no tratamento do paciente conheça a qualidade de vida dele. Para chegar ao resultado, a professora utilizou o questionário Stoma QoL. O inventário foi adaptado para a língua portuguesa, devido à falta de instrumentos específicos para a medição do bem-estar do ostomizado no Brasil.
“Os estudos sobre nutrição e estomias intestinais são escassos e, em geral, conduzidos por pesquisadores da área da Enfermagem. Dos estudos existentes, a maioria são trabalhos de revisão. A literatura apresenta poucas informações sobre a prática da área de Nutrição com estes pacientes. Faltam estudos que diferenciem a conduta nutricional entre colostomizados e ileostomizados. Existe também uma escassez de estudos que avaliam o estado nutricional e os efeitos da dieta na estomia. Não existem recomendações nutricionais específicas para estomizados intestinais”, destaca Ana Lívia, que usou sua experiência como nutricionista no trabalho.
A perda do controle na eliminação de fezes e gases causa um impacto emocional no paciente, gerando transtornos que podem até afetar a sua vida social. “Muda o esquema corporal, a autoimagem e a autoestima, além de determinar outros distúrbios associados. Tais alterações acarretam transtornos vários em suas vidas, como medo, insegurança dentre outros, com os quais passam a conviver e que, sabidamente, prejudicam a sua qualidade de vida. Isso justifica iniciar o processo de reabilitação das pessoas que se tornarão estomizadas tão logo seja diagnosticada a necessidade de um estoma”, avalia a docente, ressaltando que no pós-operatório é necessário manter suporte físico, social e psicológico para o paciente.
Legislação atende o ostomizado
De acordo com o decreto federal n.5296, de 2 de dezembro de 2004, o ostomizado é um deficiente físico. Sendo assim, essas pessoas têm vários direitos, como o de obter as bolsas coletoras através do Sistema Único de Saúde (SUS). Juiz de Fora conta com o primeiro projeto de lei sobre a disponibilização de banheiros públicos adaptados para os ostomizados. O texto de 2012 determina que esses banheiros sejam instalados em locais públicos.
Para a professora orientadora da tese, Isabel Cristina Gonçalves Leite, o trabalho contribui para o universo acadêmico por destacar um tema pouco retratado na literatura acadêmica internacional. “A abordagem relaciona vários aspectos nutricionais do paciente. É uma população grande com tendência de ampliação, porque a maior parte desse pacientes receberam tratamento de câncer. E a população mundial está envelhecendo, com isso o câncer aumenta. É um grupo que também é entendido como de pacientes especiais”, afirma a professora, destacando a posição pioneira de Juiz de Fora na legislação sobre o assunto.
Contatos:
Ana Lívia de Oliveira (doutoranda):
analivia.oliveira@ufjf.edu.br
Isabel Cristina Gonçalves Leite (UFJF – orientadora):
isabel.leite@ufjf.edu.br
Michele Pereira Netto (UFJF – co-orientadora)
michele.netto@ufjf.edu.br
Banca Examinadora:
Prof. Dr.ª Isabel Cristina Gonçalves Leite (UFJF – orientadora)
Prof. Dr.ª Michele Pereira Netto (UFJF – co-orientadora)
Prof. Dr.ª Sônia Maria Dias (UFJF)
Prof. Dr.ª Renata Maria Souza Oliveira e Silva (UFJF)
Prof. Dr.ª Ângela Aparecida Barra (UFV)
Prof. Dr. Marcos Vidal Martins (UFOB)
Outras informações: (32) 2102 – 3848 – Programa de Pós-Graduação em Saúde (PPgS)