Questões relacionadas ao corpo e à maneira como determinados padrões do feminino e do masculino atingem toda a sociedade, principalmente ao se tratar de saúde, foram abordadas na mesa redonda “Gênero, Saúde e Corporalidades”, nesta terça, 28, no Instituto de Ciências Humanas.
O evento teve como palestrantes os professores do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, Cristina Dias da Silva e José Alcides Figueiredo Santos, e o professor da Faculdade de Educação (Faced), Alexandre Cadilhe, os três da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Durante as apresentações, os docentes tiveram a oportunidade de demonstrar as pesquisas que envolvem as temáticas.
O professor José Alcides apresentou o resultado de sua pesquisa, que demonstra o quanto a desigualdade de gênero pode afetar aspectos socioeconômicos, principalmente aqueles relacionados à saúde. Ao mostrar o levantamento que ocorreu entre 2003 e 2013, ele descreveu que o fato de a mulher ter uma saúde mais sensível comparada à do homem está diretamente relacionado aos aspectos de escolaridade, emprego, renda e classe social. “A gente vê que emprego e renda mediam a situação, enquanto escolaridade é fator protetivo. Ainda assim a desigualdade no aspecto de saúde se mantém ligada à questão de gênero”.
Humanização
Retratando o estudo de etnografia em antropologia em saúde, a professora Cristina Silva exibiu o resultado de uma publicação baseada na sua dissertação de mestrado. O estudo sobre um projeto de humanização em saúde em um hospital filantrópico no interior de Goiás destaca o engajamento de profissionais de saúde e suas interlocuções. “A questão de gênero me tocou quando eu percebi ter interlocutoras. Esse foi um projeto que se repetiu comigo no doutorado, na área de saúde indígena. Há uma continuidade entre esses dois trabalhos que retratam mulheres produzindo sentidos nos contextos micropolíticos do cenário das políticas de saúde”, ressalta a pesquisadora.
Outro tema debatido foi a pesquisa realizada pelo professor Alexandre Cadilhe, que trata sobre as masculinidades em saúde. Com a preocupação em repensar essa questão por meio da linguística aplicada, a compreensão de que a interação das pessoas produz uma série de possibilidades em relação a suas identidades sociais e performances traz efeitos para determinadas práticas sociais. “Foi um estudo feito em unidades de saúde, com a gravação de consultas clínicas de pacientes de sexo masculino, na clínica geral, urologia e proctologia. Com a linguística aplicada, a gente fez todo um trabalho de gravação e observação de transcrição e de análise do material para construir uma compreensão de como esses homens produzem masculinidade e interação quando estão engajados em uma consulta”, destaca Alexandre.
De acordo com a estudante do curso de Comunicação Social e bolsista do Centro de Pesquisas Sociais (CPS), Fernanda Machado Alves Bonfim, a ideia do evento ser aberto para toda a comunidade é uma possibilidade de problematizar as questões de gênero que são presentes no nosso cotidiano e que interferem diretamente na vida de todos. “O gênero cria uma espécie de barreira, nossa ideia é tentar nos libertar dos padrões impostos que tanto nos atrapalham e diminuir um pouco dos privilégios. Queremos alcançar igualdade”
Ciclo de mesas-redondas
Iniciado em maio, as atividades são previstas até o final deste semestre. O evento tem como objetivo demonstrar a amplitude dos estudos de gênero; relacionar pesquisas sobre a temática nas diferentes áreas – ciências humanas, sociais e biológicas -; e, ao convidar a comunidade externa ao campus para os debates, levar o conhecimento acadêmico para além dos muros da Universidade.
Organizado pelo CPS, a atividade integra um ciclo de mesas redondas relacionando gênero em sociedade. Nos próximos meses, estão previstos debates sobre gênero e sexualidade; mulheres na ciência; gênero e participação política; e gênero, raça e classe.
Outras informações
Página do evento no Facebook ou cpsociaisufjf@gmail.com