Durante sua atuação como professora no sistema prisional, na cidade de Cataguases, a mestranda Ana Idalina Carvalho Nunes constatou que o discurso religioso era recorrente na fala e nos relatos dos alunos encarcerados. Nesse contexto, a docente observou também que eles eram influenciados por este discurso na ressignificação do seu “Eu”. Com esta experiência, a acadêmica foi motivada a pesquisar o tema e as questões relacionadas a ele no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A dissertação de mestrado “Discurso religioso no cárcere: caminhos e possibilidades” foi apresentada nessa terça-feira, 30, no anfiteatro do Instituto de Ciências Humanas (ICH).
A pesquisa se desenvolveu a partir de duas incursões em campo: a primeira delas foi realizada entre os anos de 2012 e 2013, dentro da escola prisional, e a segunda em 2016 e 2017, nas galerias do Presídio de Cataguases, com a participação de 71% da população carcerária da unidade, que respondeu entrevista elaborada por Ana Idalina. A pesquisadora analisou também a legislação que regulamenta a assistência religiosa na prisão, e traçou o perfil religioso dos encarcerados do Presídio de Cataguases. No ano de 2013, uma antologia poética dos textos de 47 acautelados, denominada “Poetas da Liberdade”, foi organizada por Ana Idalina e também integrou o estudo.
Com as entrevistas e a análise dos poemas escritos pelos próprios detentos, a pesquisa investigou quais são os efeitos da assistência religiosa na prisão, a multiplicidade de significados que o discurso do Sagrado assume dentro do cárcere, e como os sujeitos se apropriam destes enunciados. Segundo a mestranda, “considerando que a repressão dos desejos e instintos é um requisito básico para se viver em sociedade, o discurso religioso apresentou uma face ressocializadora, a partir do momento em que ele promove essa repressão de uma maneira pedagógica que contribui não apenas para a manutenção da ordem dentro da prisão, mas também pode levar à reintegração social, em situações quando o sujeito se converte à religião ou adere ao discurso religioso para ressignificar o seu eu e o meio em que vive.”
De acordo com a pesquisadora, quatro possibilidades foram identificadas para a ressignificação do “Eu” a partir do discurso religioso proferido no cárcere: ressignificação temporária, ressignificação profunda, polissêmica e crítica. No presídio de Cataguases, três instituições religiosas prestam assistência: a Catedral das Assembleias de Deus, a Igreja Universal do Reino de Deus e a Igreja Católica. Para Ana Idalina Carvalho, “esta pesquisa dialoga perfeitamente com outras, que envolvam não apenas a população encarcerada, mas as populações criminalizadas de forma geral e a sua relação com o Sagrado.”
Contatos:
Ana Idalina Carvalho Nunes (mestranda)
Idalinadecarvalho@gmail.com
Marcelo Ayres Camurça Lima (orientador – UFJF)
mcamurca@terra.com.br
Banca examinadora:
Prof. Dr. Marcelo Ayres Camurça Lima (orientador – UFJF)
Prof. Dr. Paulo César Pontes Fraga (UFJF)
Prof. Dr. José Pedro Simões Neto (UFSC)
Outras informações: (32) 2102 – 3113 – Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais