Imagine uma cidade em que todas as coisas estão conectadas entre si, a todo o tempo; carros elétricos percorrem as ruas; casas geram sua própria energia a partir do sol, e seus aparelhos domésticos podem ser controlados a partir de um simples toque na tela do smartphone. Essa visão, que poderia servir de pano de fundo para ficções científicas de décadas atrás, não só está próxima de se concretizar, como também vai se tornando corriqueira em alguns lugares do mundo. Se todos os aspectos de nossa vida vão ganhando inteligência (dos carros às cafeteiras), por que nossas redes de fornecimento de energia deveriam continuar no passado?

Para falar sobre esse tema, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) recebeu, entre os dias 5 e 6 deste mês, o professor da Universidade de Melbourne, na Austrália, Nando Ochoa, que é especialista em redes elétricas inteligentes. Ao longo de sua visita, o convidado ministrou atividades com os alunos e professores da Faculdade de Engenharia Elétrica, tendo como foco o desafio na implementação das novas tecnologias nos sistemas de energia.

As smart grids (redes elétricas inteligentes) nasceram do casamento dos sistemas de transmissão e distribuição de energia com os recursos comuns ao campo da Tecnologia da Informação (TI). Dotados desses novos aparatos e automatismos, esses sistemas ganham eficiência, reduzem o desperdício de energia e possibilitam ao consumidor acompanhar (e programar) o quanto é gasto de eletricidade. Para a rede elétrica, essas tecnologias (sintetizadas nos medidores eletrônicos inteligentes) permitem a entrada de microgeradores de energia (como as casas com painéis fotovoltaicos), além de identificar, quase instantaneamente, problemas em seu sistema.

Esses sistemas ganham eficiência, reduzem o desperdício de energia e possibilitam ao consumidor acompanhar (e programar) o quanto é gasto de eletricidade

“Essencialmente, as redes inteligentes consistem em fazer com que nossa infraestrutura elétricas seja modernizada para poder, assim, acomodar o uso de novas tecnologias que vão acontecer ou já estão acontecendo”, explica Ochoa. “Para isso, em alguns casos, é necessário mais monitoramento; controle, novas tecnologias para manejar redes de maneira ótima; comunicação, para ter essa observalidade da estrutura; e inteligência, para que todas as partes do sistema elétrico funcionem de forma confiável e eficiente.”

Além de transmitir os conceitos e últimas tecnologias de smart grid trabalhados, o professor compartilhou sua experiência em projetos nesse campo, especialmente na Europa. Natural do Peru, a trajetória internacional de Ochoa começou no Brasil (onde realizou sua pós-graduação), passando pela Escócia e Inglaterra, antes de chegar a Austrália.

Na Inglaterra, cujo sistema de fornecimento de energia é referência na tecnologia, teve a oportunidade de participar de um projeto, que permitia ao consumidor, automaticamente, contribuir para o bom funcionamento do sistema de fornecimento. Conforme o professor, para a maior parte dos equipamentos eletrônicos ou elétricos, existe uma relação diretamente proporcional entre o consumo e a tensão da energia. Ao controlar a tensão em que a eletricidade chegava aos usuários, os participantes do projeto constataram uma economia de até 2 gigawatts na demanda, uma quantidade de energia suficiente para abastecer cerca de 200 casas de consumo alto.

IEEE

A visita do professor Nando Ochoa partiu do Distinguished Lecturer Program (DLP, Programa de Conferencistas de Renome, numa tradução livre do inglês), um programa do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE), criado para fomentar o diálogo entre pesquisadores de todo o mundo. Conforme o professor Luis Henrique Lopes Lima, presidente do capítulo de Potência na seção Minas Gerais do Instituto, comentou sobre a escolha de convidar Ochoa. “Esse tema de redes inteligentes vem atraindo o interesse dos alunos e, dentre os pesquisadores envolvidos com essas tecnologias, consideramos que o professor Ochoa poderia oferecer uma visão global da área, tendo atuado em países onde esses avanços acontecem há mais tempo.”

A UFJF abriga pesquisadores dedicados às tecnologias de smart grids que buscam soluções para problemas específicos do Brasil

De acordo com o professor Bruno Henriques Dias, coordenador do curso de Engenharia Elétrica, o apoio do IEEE (que detém cerca de 30% da literatura mundial voltada para tecnologias nos diversos campos da Engenharia) é fundamental para possibilitar o translado de pesquisadores estrangeiros e o contato da UFJF com os mais avançados desenvolvimentos tecnológicos no cenário mundial. “A Universidade abriga pesquisadores dedicados às tecnologias de smart grids que buscam soluções para problemas específicos do Brasil, e a visita do professor Ochoa fortalece esse campo. É importante destacar, também, a participação do Ramo Estudantil do IEEE, que contribuíram voluntariamente com a organização do evento.”

Para o professor Abilio Manuel Variz, presidente da Seção Minas Gerais do Instituto, a expectativa é atrair novos pesquisadores para a área. “Tudo na nossa vida vai se tornando mais inteligente e todas essas novas tecnologias dependem das smart grids. Portanto, é um tema muito importante, atual e aderente. Essas palestras servem para despertar nos alunos o interesse em pesquisar e procurar novas informações sobre o assunto”, conclui.