Nossos gestos corporais — passando pelas diversas palavras que falamos no nosso dia-a-dia –, assim como os textos que lemos e tudo o que transmite algo a outro indivíduo, podemos chamar de linguagem. O assunto é tão abrangente que nada melhor do que a linguagem científica para tentar explicá-lo: para isso, a professora da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora, Ana Paula El Jaick, iniciou em 2015 sua pesquisa que procura entender a linguagem como forma de vida, de acordo com o pensamento do filósofo Ludwig Wittgenstein.
A ideia de linguagem como forma de vida é algo recorrente na filosofia alemã e que tem grande importância na obra do austríaco Wittgenstein. “É um conceito muito difícil pela forma com que ele escreve, pois ele não dá uma definição analítica do que quer dizer com isso. O que gerou diversas interpretações e, consequentemente, uma falta de consenso”, informa Ana Paula.
Levando em conta a dificuldade do conceito, a pesquisa teve como primeiro passo o esclarecimento da noção de “formas de vida”. Após esse processo, a professora seguiu a perspectiva da formação das formas de vida a partir de uma marca humana e cultural, ou seja, que parte da identidade do próprio homem, mas recebe influências do meio em que vive, sendo que os limites entre um e outro são quase imperceptíveis.
A análise é essencialmente bibliográfica, baseando-se na análise documental para um desenvolvimento teórico na área das ciências da linguagem. O que não impede uma contribuição prática, “uma vez que seus resultados podem vir a influenciar na interpretação de dados linguísticos coletados para uma análise da linguagem em uso”, como afirma a professora.
Próximos passos
Neste momento, a professora pretende expandir a pesquisa para um âmbito de diálogo com outros autores. Esse processo poderá expandir a sua pesquisa para três vertentes, de acordo com o interesse de seus orientandos. O primeiro diz respeito à manifestação da ideologia dentro da linguagem. Segundo Ana Paula, “não tem como você separar a ideologia da linguagem, ainda mais nos debates políticos atuais, nos quais não podemos deixar de ver as manifestações ideológicas na linguagem”.
O segundo tema seria sobre algo que, de acordo com a professora, costuma ser deixado de lado como um ponto que não diz respeito à linguagem. “Incluir a questão da ética é a oportunidade de ligar a pesquisa a um debate atual e, assim, nós poderemos propor algo no âmbito da política e das ideologias.”
A terceira possibilidade é ligar a pesquisa às tecnologias de inteligência artificial que utilizam dessa mesma linguagem, apesar de possuírem suas limitações. “Esse é um tema que também envolve a ética, mas a ideia é entender o que está em jogo nessa relação do homem com a máquina. Os pontos de incomunicabilidade e os limites da linguagem nessa relação, por exemplo.”
Outras informações:
(32) 2102-3150 (Faculdade de Letras)