Mateus Detoni explicou que as vespas prestam importantes serviços ecológicos, podendo inclusive ser um potencial agente para controlar populações do mosquito da Dengue (foto: Jade Uchoas/UFJF)
O mestrando Mateus Fajardo de Freitas Salviato Detoni, do Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas (Zoologia): Comportamento e Biologia Animal, da Universidade Federal de Juiz de Fora, defendeu a dissertação “Comportamento de nidificação em Polybia platycephala Richards, 1978: dinâmica de temperatura e luminosidade.“
O trabalho estudou a relação entre a orientação dos ninhos da vespa social Polybia platycephala em áreas urbanas e a incidência de luz ambiental sobre os mesmos, além de descrever sua dinâmica de temperatura em relação ao microambiente em que estão localizados.
Como explica Detoni, as vespas sociais vivem em colônias que habitam ninhos (caixas de marimbondo, por exemplo). Esses ninhos, tal qual um grande organismo, necessitam de manutenção e são vulneráveis a problemas influenciados por fatores abióticos, como uma super exposição a altas temperaturas, que pode ser mortal para as colônias, enquanto uma baixa iluminação dos ninhos durante o dia pode prejudicar a atividade das vespas.
“A partir da investigação destes hábitos, surgem as possibilidades de aplicação do conhecimento para o âmbito do desenvolvimento social; no nosso trabalho sugerimos, por exemplo, que a relação íntima da espécie estudada com as variáveis ambientais presentes nos arredores do ninho (“microambiente”), unidos com a notável abundância da espécie em ambientes urbanos no sudeste brasileiro, possa servir como um indicador de mudanças que ocorram nessas variáveis, em especial a temperatura (um fenômeno importante a ser considerado em um contexto de discussão sobre mudanças climáticas e aquecimento global)”, argumenta.
Parte do estudo dedicou-se a entender como as variáveis de temperatura e luminosidade se comportavam nos ninhos das vespas e, para isso, foram requeridas horas de acompanhamento e observação dos mesmos em campo, onde as variáveis eram medidas ao longo do dia. Este passo permitiu verificar a dependência dos ninhos de seu microambiente, tanto para regular sua temperatura interna (que deve ser mantida dentro de um limite para evitar o superaquecimento e a mortalidade das vespas), quanto para a exposição do ninho à luz ambiental (essencial para estimular a atividade e o bom funcionamento da colônia).
Posteriormente, para compreender o papel que a estrutura dos ninhos tinha nessa regulação de temperatura, foi feito o acompanhamento da flutuação da variável em dois ninhos próximos: um ativo, cheio de vespas, e o outro abandonado. “Dessa forma, podemos verificar que a atividade biológica tem um efeito quase irrisório sobre a regulação da temperatura para essa espécie, reforçando ainda mais a importância do local escolhido para o ninho nessa regulação”, afirma o pesquisador.
Por fim, para investigar se as vespas são capazes de escolher a direção para qual o ninho se orientará de forma a melhorar o recebimento de luz durante certos períodos do dia, os pesquisadores inverteram experimentalmente a orientação de ninhos da espécie, com o intuito de verificar a diminuição da luz incidente sobre colônias (especialmente de manhã, quando a exposição é vital), implicando que estes insetos possuem a capacidade de escolher os locais para estabelecerem suas colônias, em sintonia com o ambiente ao redor. “Os resultados demonstram uma excelente adaptação da espécie ao ambiente urbano, o que explica sua abundância nesse meio, quando comparada a outras vespas; além disso, essa íntima relação com as variáveis ambientais pode ser explorada ao utilizarmos a espécie como indicadora de qualidade ou de mudanças ocorridas sobre essas variáveis.”
Detoni finaliza reiterando “a importância de se preservar a fauna de vespas sociais em praças e jardins. Apesar da maioria das pessoas se sentirem incomodadas com a presença destes insetos, reiteramos que, no meio urbano, a maioria das espécies só ataca para defender seus ninhos; além disso, as vespas prestam importantes serviços ecológicos, como a polinização e o controle de pragas de jardim e mesmo de cultivo, podendo inclusive ser um potencial agente para controlar populações do mosquito da Dengue, e sua presença nas proximidades de nossos lares é extremamente positiva”.
Participaram da banca examinadora os professores Fábio Prezoto (que orientou a pesquisa) e Mariana Monteiro de Castro (UFJF); e Marcy das Graças Fonseca (Embrapa).
Contato:
Mateus Fajardo de Freitas Salviato Detoni (orientando)
matedetoni@hotmail.com
Prof. Dr. Fábio Prezoto (orientador)
fabio.prezoto@ufjf.edu.br
Outras informações: (32) 2102-3223 – Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas (Zoologia): Comportamento e Biologia Animal