Filósofo Hermmann Mathias Görgen empregou judeus em Juiz de Fora  (Foto: Acervo Tucci/Arqushoah RG)

Filósofo Hermmann Mathias Görgen trouxe para o Brasil mais 48 pessoas, entre elas judias (Foto: Acervo Tucci/Arqushoah RG)

Nesta sexta, 27 de janeiro, é celebrado o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto, data dedicada às 6 milhões de vítimas do genocídio empreendido pelo regime nazista durante a 2ª Guerra Mundial. Uma das maiores atrocidades na história também foi marcada por pessoas, muitas vezes esquecidas, que tentaram combater o horror instaurado por Adolf Hitler. Juiz de Fora teve uma pequena participação na história de uma delas e que se relaciona com a UFJF: o alemão Hermann Görgen.

A história da luta de Hermann Mathias Görgen contra o holocausto começa anos antes da guerra, conforme o historiador Roberto Dilly, ex-professor da Universidade. Görgen era filósofo, político e um opositor ferrenho do regime desde a ascensão do partido de Hitler ao poder. Por isso, em meados da década de 1930, foi exilado de seu país natal.

O pensador vagou por anos em países no entorno da guerra e entrou em contato com os horrores do nazismo. Foi durante esse exílio pela Europa que Görgen conheceu o cônsul brasileiro Milton Vieira. O diplomata o ajudou a deixar o continente, em 1941, trazendo consigo mais 48 pessoas, entre homens, mulheres e crianças judias.

Travessia

Fachada do imóvel que seria a sede da fábrica que empregaria judeus em Juiz de Fora (Foto: Acervo Hermann Mathias Görgen und Dora Schindel/ Biblioteca Nacional Alemã)

Fachada da fábrica que empregou judeus em Juiz de Fora (Foto: Acervo Hermann Mathias Görgen und Dora Schindel/ Biblioteca Nacional Alemã)

O maior obstáculo para a fuga foi, na verdade, o próprio governo brasileiro, que impunha rígida restrição à entrada de refugiados europeus. A dupla falsificou documentos e passaportes em embaixadas de diversos países europeus para que o grupo de refugiados entrasse no país sob o pretexto de que eram mão-de-obra qualificada estrangeira, conforme Roberto Dilly, diretor do Museu do Crédito Real, em Juiz de Fora.

Os “operários” seriam contratados das Indústrias Técnicas Ltda., manufatura de fachada que funcionava na Avenida Francisco Bernardino, no centro de Juiz de Fora. A cidade foi escolhida porque seria mais fácil manter o disfarce do esquema ilegal devido à existência de uma comunidade de descendentes alemães já concretizada, originada da colônia D. Pedro II.

Dos 48 que vieram, poucos ficaram na cidade. Juiz de Fora não oferecia uma infraestrutura favorável à cultura judaica, não havia sinagogas e nem cemitérios destinados aos judeus. Os imigrantes buscaram refúgio em capitais como Rio de Janeiro e São Paulo.

Ainda assim, alguns membros do grupo e outras pessoas influenciadas por Görgen a virem para o Brasil se tornaram influentes no município. Entre elas, Max Gefter, maestro da Sociedade Filarmônica da cidade, e o professor Franz Joseph Hochleitner da UFJF, criador do Museu de Arqueologia e Etnologia Americana.

O retorno

Relação de imigrantes alemãs trazidas por Hermann Görgen e cônsul brasileiro (Foto: Deustsches Exilarchiv/Biblioteca Nacional Alemã)

Relação de imigrantes alemãs trazidas por Hermann Görgen e cônsul brasileiro (Foto: Deustsches Exilarchiv/Biblioteca Nacional Alemã)

O próprio Hermann Görgen se tornou uma figura política importante após o término da guerra. Ao retornar para a Alemanha, estreitou laços entre seu país e a América Latina, em especial com o Brasil. Ainda segundo Dilly, várias instituições juiz-foranas se beneficiaram com a ajuda de Hermann, como a Santa Casa, o Pró-Música e a própria Universidade, que construiu parte da sua cidade universitária em terras cedidas pelo alemão na década de 1960.

A história de Hermann Görgen se assemelha com a do famoso industrial Oskar Schindler que, com um plano similar de emprego de judeus em fábricas, salvou mais de mil vidas durante o holocausto. Ao contrário de Schindler, que virou tema de filmes renomados, a história do seu compatriota refugiado, em Juiz de Fora, é desconhecida, mesmo na cidade mineira.

O filósofo viveu o resto de sua vida em seu país natal, onde morreu em 1994, na cidade de Bonn, a 500 quilômetros de Berlim. Roberto Dilly se empenha em manter o legado de Hermann Görgen vivo. “A importância dele, antes de tudo e independentemente de qualquer outra coisa, foi a de salvar vidas.” Ainda segundo o historiador, que visitou o túmulo do filósofo na Alemanha, sua relação íntima com o Brasil está perpetuada, em português, nas inscrições de sua lápide. O filósofo que lutou contra uma das maiores barbaridades da humanidade descansa sob o epitáfio: “Aqui jaz um amigo do Brasil”.

Memória das Vítimas

 Acesso de trem ao campo de concentração Aschwitz II - Birkenau (Foto: Raul Mourão)

Acesso de trem ao campo de concentração Aschwitz II – Birkenau

A data internacional foi criada, em 2005, pela Organização das Nações Unidas (ONU) que escolheu o dia 27 de janeiro por ser o mesmo dia em que, em 1945, tropas soviéticas invadiram o maior campo de concentração do Partido Nazista, em Auschwitz, na Polônia, para libertar cerca de 7 mil prisioneiros.

Estima-se que pelo menos 6 milhões de judeus foram mortos durante o nazismo, além das minorias consideradas antissociais pela ideologia de Hitler – como negros, homossexuais, ciganos, mendigos, pessoas com deficiência física e doença mental.