Livros, poemas e mobiliários compuseram o cenário do movimentado Calçadão da Rua Halfeld nesta quarta-feira, 18. As obras de arte são do projeto de intervenção urbano-literária “Cartografias Poéticas”, parte do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Isadora Monteiro, aluna do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O objetivo é buscar uma nova aproximação entre os habitantes e o espaço urbano, com enfoque na literatura.
“A ideia nada mais é do que ocupar o centro da cidade de uma maneira que não é usual, mudando o cotidiano das pessoas, e isso chama atenção delas para aquilo que a gente quer mostrar”, resume Isadora. No caso da “Cartografias Poéticas”, a literatura foi o ponto-chave para que as pessoas olhassem a cidade com outros olhos. “Eu acho que a literatura tem esse poder de fazer as pessoas se identificarem com o lugar, e com o sentimento de ser juiz-forano”, explica a estudante.
Na intervenção, realizada em frente ao Cine-Theatro Central, ponto tradicional da cidade de Juiz de Fora, os afoitos pedestres compartilhavam espaços com diversas obras literárias, sobretudo de ilustres autores locais. Nas mobílias, leitores puderam apreciar obras de poetas que tiveram uma forte ligação com a cidade, entre eles, Murilo Mendes, Belmiro Braga, Affonso Romano de Sant’anna e Manuel Bandeira. Em relação ao poema de Bandeira sobre Juiz de Fora, por exemplo, Isadora diz: “pouca gente sabe que existe, e é um poema lindo, de um grande escritor”.
A aluna do curso de Artes e Design da UFJF, Letícia Pinheiro, aprovou a experiência: “Foi de extrema importância, já que costumamos olhar a cidade como algo que não nos pertence. Uma espécie de espaço público, mas que não é público.” Para a estudante, mesmo aqueles que não participaram da intervenção diretamente, são afetados de alguma forma: “Você ter móveis no meio de uma rua, acho que isso tem um impacto. Mesmo que a pessoa não pare para ver de imediato, se tivesse mais vezes isso na cidade, pararia para pensar: quem é ela? Por que este livro está aqui?”.
Para a organizadora, a receptividade do público foi interessante: “O pessoal veio, sentou, aproveitou, leu bastante poesia, tirou foto. Foi bem legal.” Segundo ela, a proposta de interação foi compreendida pelos pedestres: “As pessoas estão entendendo. Mas, quando têm alguma dúvida ou querem saber algo específico, elas me procuram”. O maior fluxo de pessoas no local foi observado pela manhã, já que à tarde o calor e o sol forte complicaram a proposta a céu aberto. A intervenção teve início às 9h e terminará às 20h.
Fomento à arte local
Para Letícia Pinheiro, o projeto é uma oportunidade de expor trabalhos artísticos da cidade. “Nós temos faculdades de arquitetura, de artes, de letras, e essa produção não é mostrada. Aqui também é um lugar para se fazer arte”, referindo-se aos atrativos que os grandes polos como Rio e São Paulo costumam oferecer. Já para a organizadora, Isadora Monteiro, a intervenção é uma forma de fomento à produção local, além de despertar a identificação do público, “porque quem é daqui e escreve sobre Juiz de Fora fala sobre o sentimento de ser juiz-forano, então é bastante especial”. A intenção, segundo ela, é conseguir apoio para expandir a “Cartografias Poéticas” para outras regiões da cidade.