Tecnologia, sustentabilidade e inclusão social serviram de inspiração para os participantes da XXVII Feira de Ciências da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Quatrocentos e catorze alunos de 17 escolas de Juiz de Fora e região apresentaram seus projetos nesta terça-feira, 18, movimentando o Centro de Ciências, localizado no Planetário, dentro do campus. O evento faz parte da Semana de Ciência, Tecnologia e Sociedade, promovida pela UFJF.
Segundo o organizador Fábio Zappa, a feira é uma oportunidade de crianças com interesse pela ciência estarem em contato com outras que compartilham o mesmo gosto, além de valorizar o trabalho dos professores em relação ao incentivo. “Isso serve pra você melhorar a autoestima dessas crianças e encorajá-las a continuar nesse tipo de trabalho. É importante para nós não perdermos esses talentos que, eventualmente, poderiam entrar nas ciências, mas que ficam desestimulados. Um outro lado seria de dar valor ao trabalho do professor nas escolas, no sentido de divulgação científica e do ensino de ciências.”
Inovação e sustentabilidade em pauta
Entre as escolas participantes, o Colégio Tiradentes, de Barbacena, mostrou que preza pela troca de conhecimento entre alunos e professores. Um projeto desenvolvido por alunos do segundo ano do ensino médio visa a criação de games no auxílio da prática docente. “O jogo trabalha com as dificuldades que as crianças sentem no ensino fundamental. Foi feita uma pesquisa e determinadas quais eram as matérias que os alunos da própria escola tinham dificuldade”, explica a professora de Matemática, Ana Clara Araújo. “Eles fizeram um jogo com várias fases, cada uma tem alguma matéria da escola, como Geografia, História, Ciências, tudo dentro do joguinho.” Além do game, os estudantes também produziram uma apostila para ajudar aos professores. “Nós fomos para a sala de informática do colégio, levamos vários professores que se interessaram, entregamos a apostila e fomos ensinando passo a passo como se monta o jogo”, explica o estudante Victor Hugo. O projeto ficou em segundo lugar na última Feira de Ciências de Barbacena, e o grupo foi convidado a apresentar um minicurso na Universidade Federal de São João del-Rei.
Preocupados com a sustentabilidade e a produção de energia no Brasil, os alunos do primeiro ano do ensino médio do Centro de Educação Angher, de Barbacena, desenvolveram um protótipo para gerar energia, utilizando o vento produzido pelo movimento de carros nas estradas. A energia armazenada durante o dia poderia ser reaproveitada à noite, para iluminar as estradas por meio dos túneis, postes e olhos de gato. “No início do ano, nós temos aula de iniciação científica na escola, e com isso, observamos alguns problemas, entre eles o uso da energia. Nós observamos a matriz energética do Brasil, e vimos que 65,2% dela é constituída por recursos hidrelétricos. Com isso, resolvemos desenvolver um método alternativo, uma energia de fonte limpa e renovável que não prejudica o meio ambiente”, explica a estudante Patrícia Nogueira.
Crianças do primeiro ano do ensino fundamental também não ficaram de fora do evento. Alunos da Escola Municipal Menelick Carvalho apresentaram um projeto que aborda a germinação, observando e trabalhando com os cuidados necessários para as plantas brotarem. De acordo com a professora Eloísa Gomes Aleixo, trazer os pequenos para a feira tem papel fundamental no incentivo ao ensino. “Eles criam uma outra visão de mundo. Ver trabalhos diferenciados, ver que outras escolas e outros colegas também estão desenvolvendo outras coisas, outras potencialidades, traz uma reflexão.”,
Com 16 trabalhos inscritos e 53 alunos participando, a Escola Estadual Fernando Lobo procurou trabalhar diferentes áreas de conhecimento com os alunos. Segundo o professor Plaudio Evangelista, “não é só fazer o trabalho, tem que estudar a parte científica também. A nossa ideia é realmente incentivar os alunos a estudar e, além da parte social e científica, a ter um bom desempenho no futuro, principalmente na formação como cidadão brasileiro”.
Um dos projetos apresentados pela escola trabalha a utilização do arduíno no controle da energia. Desenvolvido pelo 2º ano do Ensino Médio, o protótipo de um motor, que rege luzes de LED, exemplifica a aplicação do material. “O arduíno é um microcontrolador, nós podemos usá-lo em várias outras aplicações, como em smartphones, automóveis, e mesmo em eletrodomésticos”, explica a estudante Emanuelle Cerqueira. Para Matheus Diego, também integrante do grupo, apresentar o projeto está sendo uma maneira de melhorar o conhecimento para desenvolver novos trabalhos. “É uma forma também das pessoas visualizarem os projetos que estão sendo desenvolvidos na escola. Tendo contato com outros trabalhos, dessa forma aprimoramos nosso conhecimento através dessas explicações, trazendo novas ideias”, diz.
Outro grupo do segundo ano do ensino médio da Fernando Lobo desenvolveu um projeto de captação de água da chuva. Através de uma calha, a água passa por um filtro e é armazenada em uma cisterna. A partir disso, ela poderia ser usada para lavar carros, calçadas, e mesmo em descargas, visando a economia.
“No nosso trabalho, trouxemos uma novidade que é a parede com drywall. Uma construção recente, onde se utiliza a placa cimentícia e dentro dela um montante de ferro com lã de pet reciclável. Essa garrafa pet consegue trazer um conforto acústico e térmico para dentro de casa, além de ser uma construção rápida, limpa e sustentável”, explica a aluna Luana Ribeiro.
Unindo física, química e biologia a um trabalho de inclusão social, alunas do terceiro ano do ensino médio desenvolveram um gerador de energia usado para fabricação de queijo, de forma que possam tomar como exemplo de aplicações para as diferentes áreas estudadas, auxiliando no aprendizado. “Nós achávamos que era um desafio muito grande fazer um queijo, mas vimos que é uma coisa simples, que nos fez ampliar nossos conhecimentos, ajudando a tirar dúvidas”, diz a estudante Marianny Almeida. O grupo trabalhou com deficientes físicos e mentais, a fim de socializar e mostrar que a ciência é para todos. “O interessante em ter a participação das meninas com necessidades especiais está em tirar da mente das pessoas que só porque alguém tem alguma deficiência, não quer dizer que não possa aprender física, química e biologia”, explica Esther Silva Santos, também aluna do Fernando Lobo. “Elas participaram de todos os processos, nós nos sentimos mais próximas, para podermos acolher e estar junto dessas pessoas, e mostrar que não são diferentes, mas que todos têm a capacidade de aprender”, completa a estudante Cíntia Araújo Mota.