No segundo dia da Semana de Economia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), foi realizada na noite de terça-feira, dia 20, a palestra “Política industrial e tecnologia em países em desenvolvimento”, ministrada pelo diretor de Inovação da Universidade, Ignacio Delgado, que frequentou a London School of Economics and Political Science (LSE), uma das mais renomadas instituições do ramo da economia comparada no mundo. Durante a exposição, o professor abordou os desafios enfrentados para o desenvolvimento brasileiro na área, em comparação com países que fazem parte do Brics, como a Índia e a China e que estão entre os cinco maiores do mundo em população. Ele fez uma contextualização histórica dos processos de desenvolvimento em diversas áreas nas três nações após a Segunda Guerra Mundial, e que marcaram importantes mudanças nos países.
Durante a palestra, o professor considerou as potências como semi-periféricas, já que não se enquadram em um nível de desenvolvimento central como as tradicionais maiores economias do mundo, mas conseguiram algum grau diferenciado no cenário global. A partir daí, Delgado passou a traçar as diferenças fundamentais para os três países nos últimos 70 anos. No caso chinês, a revolução de Mao Tse-Tung buscou implementar um governo socialista, o que levou os chineses a uma grande concentração da produção em poder do estado. No caso indiano, o que houve foi uma espécie de modelo contrário às opções da Guerra Fria, quando negando tanto a influência norte-americana e soviética, a Índia constitui um sistema que até propiciava a criação de empresas, mas possuía um cunho bastante nacionalista.
Enquanto isso, no Brasil, a abertura do país ao capital estrangeiro beneficiou um grande domínio das multinacionais logo após a Segunda Guerra. O fenômeno de abertura só foi ocorrer parcialmente nos dois outros países no fim do século XX, com a abertura econômica chinesa, exemplificada pela Zonas Especiais Econômicas (ZEEs), e uma série de planos indianos que expuseram partes da sua economia ao capital externo. A centralização anterior possibilitou um maior domínio, e, portanto, uma capacidade maior de regulação aos dois países asiáticos, que puderam manter a influência do governo em áreas estratégicas como a siderurgia e o desenvolvimento nuclear.
Em outro ponto importante, o diretor de Inovação demonstrou com uma série de números o quanto os momentos em que ocorreram os processos de urbanização foram diferenciais para os países. No caso brasileiro, o período entre as décadas de 50 e 80 foi acompanhado de um grande crescimento econômico, fruto, dentre outros fatores, do aumento do mercado de consumo dos que chegavam às cidades. Por sua vez, a porcentagem de população nos centros urbanos se alterou pouco no país de lá para cá, enquanto esta vem crescendo nos gigantes asiáticos. O resultado é um importante incremento no crescimento econômico de ambos os países nas últimas décadas, com o Brasil, em contrapartida não compartilhando o mesmo incentivo.
Como grande desafio Delgado apontou o que chamou de “acomodação da renda média”, quando o país não tem, por exemplo, o impulso de um processo de urbanização para seguir crescendo, ou uma abertura econômica, fatores já longínquos no Brasil, e que foram experimentados recentemente pelos asiáticos. A principal maneira de conter a estagnação causada por este fenômeno, seria o incentivo à inovação, que segundo os dados apresentados pelo professor, no Brasil fica atrás dos dois países abordados, e mais ainda quando comparado com economias desenvolvidas como Estados Unidos e Alemanha.
A palestra foi parte de uma discussão sobre a industrialização no Brasil, que contou também com o economista do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luis Otavio Reiff, abordando os desafios na área.
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Outras informações: (32) 2102-3541 (Faculdade de Economia-UFJF)