Esclerose múltipla leva as células de defesa do organismo humano a infligir danos no próprio sistema nervoso central, causando lesões no cérebro e na medula espinhal (Foto:  Fotolia)

Esclerose múltipla leva as células de defesa do organismo humano a infligirem danos no próprio sistema nervoso central, causando lesões no cérebro e na medula espinhal (Foto: Fotolia)

Ao longo de dez anos pesquisando a esclerose múltipla (EM), doença que compromete a comunicação essencial entre o cérebro e o corpo, a professora de Imunologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Ana Paula Ferreira, compartilhou os resultados e desafios encontrados durante seus estudos durante a última edição do Ciclo de Conferências do Instituto de Ciências Biológicas (ICB). Até o momento, segundo Ana Paula, já foram identificados fatores imunológicos importantes para o aprofundamento de conhecimento acerca de como a doença opera — assim, no futuro, há a possibilidade do desenvolvimento de novos tratamentos alternativos para a esclerose múltipla.

35 mil brasileiros afetados

Por se tratar de uma doença autoimune, a EM leva as células de defesa do organismo humano a infligirem danos no próprio sistema nervoso central, causando lesões no cérebro e na medula espinhal. Segundo a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (ABEM), o maior foco é entre pacientes de 20 a 40 anos e, atualmente, estima-se que 35 mil brasileiros sofram com a doença. Os sintomas são diversos, passando por fraqueza muscular, mudança no eixo de equilíbrio, alterações na capacidade de coordenação motora, dores nas articulações, fadiga intensa, depressão e disfunção intestinal e da bexiga. Suas causas combinam a predisposição genética do paciente e fatores ambientais, como mudanças hormonais, medicamentos e infecções.

Teste da eficácia dos medicamentos atuais

Atualmente, os tratamentos existentes visam o controle dos sintomas, uma vez que ainda não existe uma cura. No entanto, os medicamentos convencionalmente utilizados (como imunossupressores e imunomoduladores) são pouco satisfatórios, devido ao seu alto custo, seus efeitos adversos e sua grande toxicidade.

Nesse cenário,  a professora Ana Paula decidiu se dedicar ao estudo da doença, buscando confirmar a efetividade de tratamentos alternativos, como o uso da genisteína (fitoestrogênio presente na soja), já que resultados anteriores mostraram que pacientes grávidas tiveram seus sintomas amenizados durante o período da gestação.

Segundo a professora Ana Paula Ferreira, o grupo de pesquisa utilizou modelo que mimetiza o quadro clínico da esclerose múltipla em uma linhagem de camundongos (Foto: Rizza)

Segundo a professora Ana Paula Ferreira, os resultados obtidos dizem respeito a mecanismos imunoregulatórios, já tendo sido identificados fatores imunológicos importantes (Foto: Rizza)

Para realizar esse trabalho, o grupo de pesquisa da professora utilizou o modelo Encelafalomielite Autoimune Experimental (EAE), que mimetiza o quadro clínico da Esclerose Múltipla humana. Assim, foi utilizada uma linhagem de camundongos, que é geneticamente predisposta ao desenvolvimento da doença, nos quais foram inoculados antígenos, visando desencadear uma resposta exacerbada do sistema imunológico, induzindo o surgimento da doença. Feito isso, o avanço do quadro clínico dos camundongos foi acompanhado pelos pesquisadores.

A princípio, o foco da pesquisa da professora Ana Paula era propor novos tratamentos para a Esclerose Múltipla. Porém, logo os pesquisadores perceberam que seria necessário aprofundar os conhecimentos sobre o processo imunológico envolvido na EAE e, consequentemente, na EM.

Grande parte dos resultados já obtidos até agora diz respeito a esses mecanismos imunoregulatórios, já tendo sido identificados fatores imunológicos importantes para o desenvolvimento da EAE. Os avanços na proposição de tratamentos alternativos teriam, ainda, que ser testados em pacientes com EM doentes ou de forma preventiva naqueles cuja predisposição genética é identificada.

Outras informações:

(32) 2102-3214 (Departamento de Parasitologia, Microbiologia e Imunologia da UFJF)

(32) 2102-3201 (Instituto de Ciências Biológicas – ICB)