
Os resultados indicam que menos de 25% da notícias de veículos do Brasil têm mulheres como fontes. (Imagem gerada por IA)
O ‘Observatório de Feminicídios’ do campus Governador Valadares da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF-GV) participou da mais recente edição do Global Media Monitoring Project (GMMP), considerado o maior e mais longínquo levantamento sobre questões de gênero no jornalismo mundial. Os resultados indicam que menos de 25% da notícias publicadas por veículos brasileiros têm mulheres como fontes.
Desde 1995, o GMMP estuda a presença de mulheres em relação aos homens, o preconceito de gênero e os estereótipos em notícias divulgadas por veículos de imprensa ao redor do globo. A cada cinco anos, o grupo – que é mantido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) – realiza esse mapeamento.
Esta foi a primeira vez que o projeto da UFJF-GV atuou no estudo. Coube à equipe analisar a versão impressa da edição de 6 de maio de 2025 do jornal ‘O Estado de São Paulo’.
Na avaliação da coordenadora do ‘Observatório de Feminicídios’ e professora do campus, Marina Oliveira Guimarães, os principais ganhos do projeto de extensão com a participação no estudo são “a internacionalização de universidade, tendo em vista o caráter internacional do GMMP, o contato com pesquisadoras e grupos de pesquisa de outras instituições, o conhecimento e aplicação de novas abordagens metodológicas e a troca de experiências.”
A metodologia adotada no levantamento
O GMMP usa uma metodologia própria, que avalia as informações coletadas sob os aspectos quantitativo e qualitativo. Inicialmente, é realizada a divisão dos grupos de trabalho por região e também pelo tipo de veículo (impresso, on-line, rádio e televisão). No contexto brasileiro, todas as regiões e quase a totalidade dos estados foram contemplados.
O projeto da UFJF-GV, por exemplo, mapeou o jornal impresso ‘O Estado de São Paulo’ buscando indicadores relacionados ao Sudeste. Veículos da mesma região e do Sul, Norte, Nordeste e Centro-Oeste foram analisados por outras equipes. O mesmo método se aplica aos demais países envolvidos no levantamento da Unesco.

Oficinas em escolas estão entre as atividades realizadas pelo projeto de extensão. (Foto: arquivo pessoal)
Os dados apurados pelos grupos são inseridos em uma tabela, que é a mesma para todos os países, à exceção de algumas poucas perguntas que consideram as características regionais. A América Latina tem especificidades que não são as mesmas da África ou da Ásia e assim por diante. Justamente por isso, além dos dados quantitativos são escolhidas algumas matérias jornalísticas para uma análise qualitativa.
Um outro cuidado da metodologia é não informar, com muita antecedência, sobre o estudo. O objetivo é evitar vieses, já que se os veículos de mídia tomarem conhecimento de que foram escolhidos para a pesquisa, bem como a data do levantamento, poderão direcionar seus conteúdos.
Sobre o ‘Observatório de Feminicídios’ da UFJF-GV
Criado em outubro de 2024, o ‘Observatório de Feminicídios’ é um projeto de extensão em interface com a pesquisa. A iniciativa está alinhada com o GMMP, já que o principal objetivo do observatório, como explica Guimarães, é “acompanhar, analisar criticamente e reescrever notícias sobre casos de feminicídio a partir das teorias feministas, além de promover debates e ações que contribuam para o enfrentamento da violência contra as mulheres”.
Para tanto, além de contribuir com o GMMP, o projeto também realiza oficinas em escolas e divulgação científica nas mídias sociais com a função de sensibilizar e demonstrar a necessidade de combate à violência e desigualdades de gênero.

O ‘Observatório de Feminicídios’ é coordenado pela professora Marina Guimarães. Foto: arquivo pessoal)
Além de Guimarães, que é professora do curso de Administração da UFJF-GV, fazem parte do projeto o docente Bruno Franco Alves e as estudantes Alicia Mendes Fernandes e Adriane Rodrigues de Assis, os três do curso de Direito do campus. As pesquisadoras Roberta Scatolini (doutoranda em Estudos Feministas pela Universidade de Coimbra) e Elizângela Costa de Carvalho Noronha (pós-doutoranda da Universidade Católica Portuguesa) são colaboradoras externas. Noronha, inclusive, coordena o GMMP no Brasil.
Especificamente para a atuação nessa edição do estudo da Unesco, o ‘Observatório de Feminicídios’ contou com a colaboração de Karen Terenzzo, da federal do ABC, e de Patrícia D’Abreu, da federal do Espírito Santo (Ufes).
Para acompanhar as atividades e informações sobre o projeto, acesse o perfil do grupo no Instagram (@observatoriofeminicidiosgv).
