‘Aíptxuy’, de Juliana Azalim integra a mostra coletiva ‘Nós, os primeiros’ (Foto: Divulgação)

Quem for ao Jardim Botânico da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), a partir da tarde do dia 10 de outubro, terá novas opções de visita. Serão abertas quatro exposições com pinturas e fotografias artesanais que retratam desde os detalhes de uma folha até as cores de adereços e integrantes de povos originários. 

As representações celebram a natureza e a ancestralidade dos povos indígenas para instigar reflexões sobre consciência ambiental e social entre as milhares de pessoas que passam pelo local todos os meses. 

A partir das 14h, serão abertas as exposições “Animinimalis”; “Azul Atlântico”; “Nós, os primeiros: memórias em cores” e “Uxô Gamung: reencantamento Puri e o sonho da Terra”. As mostras, com entrada gratuita, ficam em cartaz na Casa-sede do Jardim, distribuídas entre as galerias Tlegapé, Mehtl’on e Tchóre. Conheça abaixo cada uma das exposições.

As mostras foram selecionadas por meio de edital público, em um esforço conjunto na UFJF, por meio das pró-reitorias de Cultura (Procult) e de Extensão (Proex), para consolidar a relevância do local na promoção da arte local e para reafirmar a instituição como espaço de cultura, educação e conservação da biodiversidade. 

Para o diretor do Jardim Botânico, Breno Moreira, as coleções somam-se ao histórico de eventos realizados no espaço, que valorizam a fauna, a flora e os povos tradicionais. “É importante dar visibilidade a expressões culturais que carregam memória, espiritualidade e resistência. Valorizar a ancestralidade indígena significa reconhecer que esses povos foram e continuam sendo guardiões de saberes fundamentais sobre biodiversidade, manejo sustentável e convivência harmônica com o meio ambiente”, afirma.

Como parte da inauguração, duas oficinas relacionadas às obras expostas serão ministradas no dia seguinte, 11. Pela manhã, o foco é a cianotipia, técnica de fotografia artesanal que utiliza elementos naturais e componentes químicos. A atividade será ministrada, das 10h às 12h, pela professora do Departamento de Química da UFJF Bárbara Almeida. À tarde, das 14h às 16h, é a vez de aguçar o olhar, escolher os pincéis e deixar a criatividade fluir com a oficina de pintura “Observação e Criação”, por Ciça Venuto e Juliana Azalim. Todas as duas atividades práticas, divulgadas anteriormente, estão com as vagas preenchidas. 

Animinimalis

Entre ângulos e curvas um gafanhoto se descortina em 'Animinimalis'

Ângulos, retas e curvas compõem obras da mostra ‘Animinimalis’, de Victor Corrá

Da autoria de Victor Ribeiro Corrá, “Animinimalis” é uma série centrada em animais reais e recorrentes do imaginário humano. É concebida como um exercício de abstração das formas, mas sem o abandono por completo do caráter figurativo das representações. Algumas obras revelam seu tema de modo direto e outras convidam o público a especulações mais ou menos imaginativas.

“A proposta é a busca pelo mínimo compreensível: traços simples, alto contraste, ângulos bem definidos — que, em certas obras, se abrem ou coexistem com curvas suaves —, sempre com a intenção de realçar os pontos mais característicos de cada animal. Esse gesto procura aproximar a interpretação de quem observa da visão do artista, sem, no entanto, cerrar margens para significações que ultrapassem a intenção inicial”, comenta Corrá.

Azul Atlântico

Processo de criação de ‘Azul Atlântico’; obras são produzidas com luz do sol e folhas naturais da Mata Atlântica (Foto: Bárbara Almeida)

Fruto do trabalho de quatro estudantes de graduação em Química e dois de Artes da UFJF, “Azul Atlântico” integra o projeto de extensão “Química, fotografia e arte”, da coordenadora Bárbara de Almeida, professora do Departamento de Química da UFJF. Os alunos, além de estudarem processos históricos, também levam oficinas de cianotipia (técnica de impressão fotográfica do século XIX) para escolas, onde registram plantas do próprio ambiente escolar.

As imagens das folhas em tamanho real e o registro digital dos troncos traduzem o encontro entre arte, ciência e preservação ambiental. “Cada obra resultou da soma entre a pesquisa científica, a prática técnica e a sensibilidade artística dos estudantes envolvidos. Para escolher as espécies, usamos um guia ilustrado feito por professores da própria Universidade, e isso acabou sendo um aprendizado riquíssimo em taxonomia [classificação de organismo]”, ressalta a artista e professora.

Nós, os primeiros: memórias em cores

‘Corda, Barro e Jarro’ de Sheila de Jesus Gomes é uma das 19 obras feitas com a técnica óleo sobre tela

Com curadoria de Everaldo Moreira da Silva e Mônica Miguel, a mostra é resultado da atuação coletiva do Grupo Jeito Mineiro, que há dois anos nasceu sob a coordenação de Silva. O artista plástico e professor de pintura em telas gosta de lançar seus alunos no meio artístico de Juiz de Fora e de outras cidades. 

“A curadoria dos trabalhos começou há mais de um ano. Pesquisamos muito e selecionamos o que seria retratado de forma a focar a beleza e a cultura dos povos originários”, destaca. O objetivo de Silva foi ressaltar cores, artefatos e modos de vida em várias etnias. A mostra tem 20 telas – representando dez artistas do grupo – sendo 19 em óleo sobre tela e uma em acrílica com textura sobre tela.

 Uxô Gamung: reencantamento Puri e o sonho da Terra

Instalação “Beta” reúne trabalhos de artistas que produzem arte digital e têm a web como plataforma de compartilhamento. (Foto: divulgação)

Instalação ‘Beta’ reúne trabalhos de artistas que produzem arte digital e têm a web como plataforma de compartilhamento (Foto: Divulgação)

Também uma mostra coletiva, o processo criativo de “Uxô Gamung” foi relativamente longo, resultado de uma pesquisa que um dos curadores Way Sanà-Marya Pury fez, em quatro anos, ao percorrer diferentes localidades do território Puri. 

Partindo da ideia de que sonhar, para os povos indígenas, não é abstração, mas prática vital e política, a mostra conecta artistas Puri contemporâneos de diferentes territórios – Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Rio Grande do Sul – por meio de suas produções artísticas diversas.

“A exposição se organiza como um grande sonho coletivo que vai sendo costurado com fibras vegetais, linhas, narrativas, pixels. É uma oportunidade de tecer diversas linguagens e experiências dos Puri contemporâneos”, conta Way Puri. A mostra tem também a curadoria de Thalita Castro. Um dos objetivos do grupo também é criar, em Juiz de Fora, um epicentro de arte indígena, recontando a história “não-oficial” da cidade.  

Funcionamento
O Jardim Botânico da UFJF fica na rua Coronel Almeida Novais 246, no bairro Santa Terezinha, em Juiz de Fora. Funciona de terça a domingo, das 8h às 17h, e a entrada do público é permitida até às 16h. A previsão é de que as obras fiquem expostas até agosto de 2026, possibilitando contato contínuo e aprofundado do público com as produções.

Serviço

  • Abertura de quatro exposições no Jardim Botânico da UFJF:
  • “Animinimalis”, de Victor Ribeiro Corrá
  • “Azul Atlântico”, de Bárbara Almeida
  • “Nós, os primeiros: memórias em cores”, mostra coletiva, sob curadoria de Everaldo Moreira da Silva e Mônica Miguel
  • “Uxô Gamung: reencantamento Puri e o sonho da Terra”, mostra coletiva, sob curadoria de Way Sanà-Marya Pury e Thalita Castro 
  • 10 de outubro, às 14h, na Casa-sede do Jardim
  • Visitas gratuitas de terça a domingo, das 8h às 17h, com entrada até 16h

Outras informações
jardimbotanico@ufjf.br

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