O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou nesta quarta-feira, 27, no Palácio do Planalto, o decreto que regulamenta a TV 3.0, nova geração da televisão aberta e gratuita no Brasil. A tecnologia promete revolucionar a forma como os brasileiros assistem TV, oferecendo imagem em ultra-alta definição, som imersivo, maior interatividade e integração direta com a internet.

Presidente Lula assinou nesta quarta, o decreto que regulamenta a TV 3.0. Novo sistema coloca o país na vanguarda da radiodifusão mundial (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

De acordo com o Ministério das Comunicações, o novo sistema coloca o país na vanguarda da radiodifusão mundial. Considerada a “televisão do futuro”, a TV 3.0 tem o nome de DTV+ e permitirá acesso a aplicativos dentro do próprio televisor, possibilitando aos telespectadores participar de votações em tempo real, acessar conteúdos extras, utilizar serviços de governo digital e até realizar compras pelo controle remoto (T-commerce).

A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) tem participação direta nesse avanço, pela participação do professor do Departamento de Ciência da Computação, Marcelo Moreno. Ele é coordenador do Grupo de Trabalho em Codificação de Aplicações do Fórum do Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD), responsável pelo desenvolvimento técnico da nova plataforma. Moreno também apresentou detalhes da pesquisa em episódio do programa IdPesquisa, veiculado em julho pela UFJF.

Segundo o docente, a inovação devolve protagonismo à televisão aberta em um cenário dominado por serviços de streaming. “Uma das principais inovações é que a TV 3.0 nasce totalmente baseada em aplicativos. Isso muda a forma como o telespectador acessa a programação: em vez de ‘caçar’ a TV aberta dentro do aparelho, os canais voltam a estar em posição de destaque em um catálogo de aplicativos, com ícones equivalentes aos canais tradicionais”, explica Moreno.

Professor do Departamento de Ciência da Computação da UFJF, Marcelo Moreno, coordena Grupo de Trabalho em Codificação de Aplicações do Fórum do Sistema Brasileiro de Televisão Digital (Foto: Alexandre Dornelas/UFJF)

Ele destaca ainda que essa mudança não elimina a forma tradicional de navegação. “E não é por isso que a troca rápida entre canais desaparecerá: a pesquisa mostrou o quanto é importante manter essa cultura do zapeamento e isso se traduz na troca rápida entre os aplicativos das emissoras na TV 3.0. Esse modelo devolve visibilidade à TV aberta nos receptores e abre espaço para interatividade, personalização e integração com serviços de internet.”

Outro ponto ressaltado por Moreno é a centralidade da experiência do usuário, já que, segundo ele, a televisão aberta da era digital permitirá mais interatividade e personalização, conteúdos estendidos, serviços de governo digital, alertas de emergência e novos recursos de acessibilidade, publicidade e conteúdos personalizados. “A TV 3.0 representa mais do que uma evolução tecnológica: ela simboliza a renovação de um compromisso histórico da radiodifusão com a informação, a cultura e a cidadania”, pontua o coordenador.

Os estudos são desenvolvidos em parceria com o Laboratório de Aplicações e Inovação em Computação (Lapic), junto ao colega de departamento Eduardo Barrere, e também com o Laboratório de Mídia Digital (LMD), da Faculdade de Comunicação Social, em coolaboração com os pesquisadores Carlos Pernisa Júnior e Stanley Teixeira.

Padrão técnico e cronograma
No ano passado, os membros do Conselho Deliberativo do Fórum SBTVD recomendaram ao Governo Federal a adoção do sistema ATSC 3.0 (Comitê de Sistema Avançado de Televisão, em inglês) como padrão técnico para a evolução da TV digital no Brasil, que deve ser confirmado pelo decreto presidencial.

O documento também estabelecerá as novas funcionalidades e um cronograma de migração gradativa, começando pelas grandes cidades, como ocorreu na transição da TV analógica para a digital. A previsão é que parte da população já tenha acesso ao novo sistema durante a Copa do Mundo de 2026.

Novas funcionalidades e comunicação pública
A interface baseada em aplicativos é uma das maiores inovações do sistema. Além da programação tradicional transmitida em tempo real, as emissoras poderão oferecer conteúdos sob demanda, como séries, jogos e programas extras, em formato semelhante ao das plataformas de streaming. Outro avanço será a criação da Plataforma Comum de Comunicação Pública, que reunirá conteúdos de emissoras educativas, legislativas e governamentais. 

Para Moreno, essa é uma oportunidade de democratizar o acesso. “Para viabilizar isso, já estão em andamento projetos entre academia e setor privado dedicados a criar aplicativos e ferramentas específicas para a comunicação pública, garantindo que ela também tire proveito de funcionalidades avançadas como personalização, interatividade e novos formatos audiovisuais.”

Desafios de implantação
Apesar dos avanços, a TV 3.0 também traz desafios. Para as emissoras, será necessário investir em novos transmissores e licenciamento de tecnologias. Para a população, o acesso dependerá da compra de conversores e receptores compatíveis. Outro ponto crucial é a universalização da internet de qualidade. De acordo com levantamento do Cetic.br, apenas 22% dos brasileiros com 10 anos ou mais possuem condições satisfatórias de conectividade significativa, que envolve velocidade, custo e acesso em múltiplos dispositivos.

Impacto social e científico
A expectativa é que a TV 3.0 amplie o papel da televisão aberta como ferramenta de informação, cultura e prestação de serviços, especialmente em locais onde o acesso à internet ainda é limitado. A integração entre radiodifusão e banda larga abre caminho para a expansão de serviços públicos digitais acessíveis a partir do próprio televisor. Com protagonismo da pesquisa científica nacional, a UFJF reforça sua posição de referência no campo da televisão digital.

Com informações da Agência Brasil 

Assista ao programa no canal da UFJF no YouTube. 

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