O Forum da Cultura da UFJF dá início às atividades do ano 2025 celebrando a vida e a arte que desabrocha das mãos do artista plástico Sebastião Reis, popularmente conhecido como Pury. A mostra “Pury: oitentando com arte” transforma a galeria expositiva do casarão em uma grande tela biográfica, através da qual será possível contemplar variadas criações desse verdadeiro multiartista ao longo de sua trajetória. O vernissage, gratuito e aberto ao público, ocorre nesta sexta-feira, 10 de janeiro, a partir das 18h30. A data representa o início de um novo ciclo na vida do artista, por se tratar de seu aniversário de 81 anos. 

Sebastião Reis, popularmente conhecido como Pury, reúne mais de 20 obras na exposição que resgata parte de sua trajetória (Foto: Divulgação)

A ideia de criar uma exposição – composta por mais de 20 obras – que revisitasse sua própria história surgiu no início da pandemia, quando, depois de algum tempo de isolamento, o artista começou a atuar em casa, a partir de desenhos em papel, que revisitam seus antigos trabalhos. “A inspiração veio da própria inquietação que a criação provoca em mim. As condições daquele momento eram mais limitadas; então, trabalhar pequenos formatos, utilizando a própria sala de casa como ateliê, foi me servindo de combustível e desafio para uma produção que se tornou volumosa e até frenética. Essa série foi chamada de ‘Covid 19’. Foi minha vacina inicial contra a pandemia”, relembra Pury.

A partir deste resgate, o artista e sua companheira Maria Luiza Freesz – uma das principais incentivadoras desta mostra homenagem – reuniram os demais trabalhos a serem exibidos. Entre as outras séries escolhidas estão “Bambus”, “Garrafas bêbadas”, “Piões” e “Queijo mineiro”. A maioria das obras foi criada a partir dos anos 2000, através da técnica de acrílico sobre tela e pontilhismo. Também fazem parte da exposição esculturas de chão e parede criadas em madeira, metal e couro, entre outras matérias-primas que ganham vida através da técnica de assemblagem.

Inspiração
A mostra busca exaltar a essência do artista plástico que tem como inspiração o mundo à sua volta, os mais simples objetos do cotidiano, que através de seu olhar e traços, amplificam seu alcance e ganham novos significados. “Enquanto artista plástico, busco mexer com o imaginário do público. Busco principalmente levar os visitantes a terem curiosidade e dúvidas e a tentarem enxergar além da obra em si: nos traços das garrafas por exemplo, pode-se remeter ao tempo homem. Nos piões, ao tempo menino. A arte traduz o que o artista vive, como se relaciona com o mundo e como é possível se adaptar às mudanças ao nosso redor e usá-las em nosso favor: as ideias não podem ser aprisionadas e se misturam com a própria vida”, reflete Pury.

A palavra arte vem do latim ‘ars’ que representa aquele que sabe fazer, que tem habilidade natural ou adquirida. Uma definição precisa para Pury, que desde muito cedo, sempre a gerou. Sua criação artística é forma de comunicação, um fluxo interminável em que sua mente vislumbra a longo prazo as ideias que irá trazer à vida. Muitas de suas telas, por exemplo, iniciam-se com esboços, que só serão completados mais adiante, sem um tempo pré-definido. Até mesmo a escolha e montagem das molduras é realizada pelas mãos do próprio artista. O mesmo processo se dá com suas esculturas, criadas a partir de materiais de reuso garimpados em ferros-velhos e marcenarias, que inicialmente são recolhidos em um determinado período para somente após anos, de fato, integrarem determinada obra.

Entre os destaques da mostra está o “Painel de bambus”, que traz representações da planta com múltiplas tonalidades e formatos, demonstrando a intensidade e vivacidade das pinceladas do lado pintor do artista. Os quadros representando piões com seus tons alaranjados e terrosos nos levam aos canteiros de terra onde as crianças brincavam por horas levantando poeira com os clássicos brinquedos de madeira rodopiantes. Já em relação ao lado escultor, Pury nos apresenta peças como “Ferro elétrico / Iron building”, confeccionada com partes de ferros de passar roupa sobrepostos uns aos outros, como formando uma espinha dorsal. Toda essa intensidade visual e pluralidade de estilos nos leva a um passeio por escolas como expressionismo, surrealismo, futurismo, cubismo e dadaísmo. Um verdadeiro deleite para os amantes das vanguardas europeias.

Em relação ao simbolismo da mostra, o artista, apesar de não ser muito ligado a datas, enxergou na ocasião uma oportunidade de relembrar a todos que sempre é tempo de criar. “Um artista plástico tem um papel social e achei importante lembrar e tornar público que o desejo de criar coisas novas ainda existe e pode ser exercido mesmo aos 80 anos ou mais. Essa é uma resposta ao tempo: seja de nascer, de morrer, ou de renascer. O aniversário me faz ver que foi mais um ano muito rico em minha vida e que venham outros.”

A mostra segue em exibição até 31 de janeiro, com visitações de segunda à sexta-feira, das 10h às 19h. A entrada é gratuita.

Mais sobre o artista
Pury pode ser considerado um multiartista. Nascido em Cataguases e radicado em Juiz de Fora desde 1986, já trabalhou com fotografia de estúdio e industrial e teve contato com a produção de desenhos, até chegar à criação de pinturas, esculturas e assemblagem. Em sua carreira profissional, já passou pela Marinha do Brasil, trabalhou em fábricas de automóveis e agências de publicidade. Em Juiz de Fora, realizou um importante trabalho pela saúde mental da população, coordenando, por quase 25 anos, a “Oficina Terapêutica de Artes” para portadores de sofrimento mental severo e permanente, no Caps Casa Viva – Centro de Atenção Psicossocial, da Secretaria de Saúde da cidade.

Ele foi ainda curador de exposições de fotografia, de artes plásticas, de seleções em concursos, sendo que destes, alguns trabalhos foram classificados para exposições internacionais. Realizou ainda produção fotográfica de discos e consultorias relacionadas a equipamentos fotográficos. Desde 1970, Pury realiza diversas exposições individuais e coletivas, por todo o país, em cidades como, São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) Além Paraíba (MG), Belo Horizonte (MG), Volta Grande (MG), Cataguases (MG), Nova Almeida (ES), Mariana (MG), Tiradentes (MG), Recife (PE), entre outras. Suas obras também ganharam o mundo, chegando a países como Portugal, Chile, Estados Unidos e Uruguai.

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