Um estudo publicado na Revista de Ciências Médicas e Biológicas, conduzido pelo professor André Luiz Alvim, da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), alerta para os riscos associados a alterações em instrumentais cirúrgicos. Intitulada “Alterações em instrumentais cirúrgicos detectadas no centro de materiais e esterilização: estudo multicêntrico”, a pesquisa busca conscientizar hospitais sobre os perigos que essas mudanças representam para a segurança dos pacientes. O artigo também contou com a colaboração de enfermeiras atuantes em Juiz de Fora e São Paulo.
Ao todo, 900 instrumentais cirúrgicos foram analisados. Em 365 deles (41,0%), foram identificados pontos e manchas; 312 (35,0%) apresentaram alterações na coloração, enquanto 133 (15,0%) mostraram sinais de oxidação ou corrosão. Entre as manchas, destacaram-se as colorações preta (26,3%), marrom (18,9%), branca (14,8%) e laranja (13,4%).
Os pesquisadores também observaram que 10 instrumentos (1,1%) tinham mais de uma mancha. Durante a coleta de dados, foram avaliados fatores como o tipo de água usada para limpeza (potável, de osmose ou purificada), o uso de detergentes enzimáticos ou neutros, e a exposição dos materiais a substâncias ou materiais abrasivos.
“Esses instrumentais, que chamamos de produtos para saúde, apresentaram pontos, manchas, corrosão e oxidação, o que compromete a segurança do paciente”, explicou o professor André Alvim. Ele destaca que o caráter multicêntrico do estudo amplia sua credibilidade, pois abrange diferentes instituições e oferece uma visão mais ampla dos resultados e implicações na prática clínica.
A pesquisa foi realizada ao longo de três meses em três hospitais de São Paulo: um público administrado por uma associação filantrópica, outro privado com atendimento beneficente, e um terceiro, particular, em parceria filantrópica.
Riscos de contaminação
Em setembro deste ano, o caso de oito pacientes do interior do Rio Grande do Norte chamou atenção para a importância da qualidade dos instrumentais cirúrgicos. Após participarem de um mutirão de cirurgias de catarata, os pacientes foram diagnosticados com uma infecção ocular causada por uma bactéria. Para conter a evolução do quadro, foi necessário retirar o globo ocular de todos os afetados.
A Secretaria de Estado da Saúde Pública do Rio Grande do Norte (Sesap) apontou indícios de falhas nos procedimentos de higienização e esterilização dos instrumentais utilizados. O professor André Alvim relaciona esse tipo de ocorrência às alterações detectadas em sua pesquisa, que comprometem diretamente a segurança do paciente.
“Milhões de procedimentos cirúrgicos são realizados anualmente em diversas especialidades. Se os instrumentais utilizados apresentam pontos, manchas, corrosão ou oxidação, o risco de infecção aumenta significativamente, comprometendo a segurança hospitalar”, afirmou Alvim.
Além disso, ele reforçou a necessidade de medidas rigorosas por parte dos hospitais. “É fundamental que os processos sejam realizados com qualidade, em conformidade com as legislações vigentes. Isso inclui o uso de tecnologias adequadas, treinamento contínuo das equipes e o monitoramento constante dos indicadores do setor”, conclui o pesquisador.