O historiador italiano Giovanni Levi fará a aula inaugural do Programa de Pós-graduação em História (PPGH) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), na próxima segunda-feira, 23, às 16h, no auditório do Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm). A conferência é aberta ao público e marca o lançamento do livro mais recente de Levi, uma edição ampliada de “Centro e periferia de um estado absolutista”, traduzida para o português e publicada pela editora Letra e Voz. A obra foi organizada em parceria pelas professoras Maíra Ines Vendrame, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), e Mônica Ribeiro de Oliveira, da UFJF.

 A visita do professor emérito da Università Ca’ Foscari Venezia também é parte das comemorações dos vinte anos de fundação do PPGH. O evento se inicia às 14h, com uma mesa solene em que estarão representantes da reitoria, da Pró-reitoria de Pesquisa, da direção do Instituto de Ciências Humanas (ICH) e da coordenação do PPGH. “Depois, faremos a mesa de abertura, com a presença de professoras que participaram da fundação do programa e que atuam nas linhas de pesquisas que desenvolvemos”, conta o professor Martinho Alves da Costa Junior, coordenador do programa. “Trata-se de um ponto de inflexão em nossa história”, diz. 

Martinho Júnior, coordenador do programa de pós-graduação, celebra os 20 anos de sucesso do programa, destacando o comprometimento de toda a equipe do Instituto de Ciências Humanas. (Foto: Arquivo pessoal)

“Temos conquistas importantes em nossa trajetória, que podem ser percebidas como o coroamento do trabalho desenvolvido durante esses 20 anos, de muito comprometimento do corpo docente, do corpo discente e também dos nossos técnico-administrativos em educação (TAEs), que mantêm o instituto em um ritmo forte”, explica Martinho. Esse coroamento é espelhado na consolidação do PPGH como uma importante referência na área e referendado pelo conceito 6 recebido na mais recente avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o que indica desempenho equivalente a padrões internacionais de excelência. “Nossa revista Locus recebeu, em agosto, a classificação Qualis Capes A2, o que também reflete a seriedade da pós-graduação em História na UFJF”, acrescenta.

Para o professor Alexandre Mansur Barata, primeiro coordenador do PPGH, “os objetivos definidos em 2004, na criação do programa, estão sendo cumpridos: formação de profissionais qualificados; produção de pesquisas sérias e socialmente comprometidas; auxílio na implementação de políticas públicas; aprimoramento do curso de graduação a partir do incentivo à pesquisa; divulgação da produção historiográfica nacional e estrangeira;  constituição de núcleos e laboratórios que articulam pesquisadores de diferentes instituições de pesquisa tanto do Brasil quanto do exterior”, enumera.

Histórico

Alexandre Mansur Barata foi o primeiro coordenador do PPGH (Foto: arquivo pessoal)

Alexandre lembra que, no início dos anos 2000, a Capes iniciava o seu plano de expansão e nacionalização da pós-graduação. Em Minas Gerais, só existiam cursos de mestrado em História na UFMG e na UFU. “Havia uma enorme demanda reprimida representada por nossos ex-alunos, que, para prosseguirem o seu processo de qualificação acadêmica, acabavam por buscar outros programas de pós-graduação em História, sobretudo, no Rio de Janeiro e em São Paulo”, conta. “Tínhamos a clareza de que, após o grande esforço institucional realizado ao longo da década de 1990 para a capacitação dos professores do Departamento, era chegado o momento de dar um salto qualitativo nas atividades até então desenvolvidas e propor a criação de um programa de pós-graduação”.

Os trabalhos que resultaram na formulação do projeto tiveram início em 2002, ganhando maior densidade ao longo de 2003. Naquele momento, foi formada uma comissão para analisar as experiências de outros programas, a legislação vigente, os documentos da área de História e, finalmente, formalizar a proposta junto à administração superior da universidade e à Capes. A proposta de criação do mestrado acabou por ser aprovada em fevereiro de 2004 e as atividades tiveram início em agosto daquele ano. A criação do curso de doutorado veio sete anos depois, em 2011.

“Assumir a coordenação de um programa de pós-graduação recém-criado significou a superação de grandes desafios”, recorda Alexandre. Era necessário compreender os mecanismos de funcionamento do sistema de pós-graduação nacional, sobretudo, no que se refere ao processo de avaliação realizado pela Capes, além de incentivar a articulação interna e externa dos professores envolvidos. “Era também importante enfrentar uma dinâmica institucional que dava seus primeiros passos no sentido de fortalecimento da pós-graduação”, diz. “Ao longo desses vinte anos, o Programa tem cumprido com a sua missão de forma brilhante e ascendente. Somos resultado de uma política bem sucedida desenvolvida nas últimas duas décadas”, conclui o professor.

Pesquisa e difusão do conhecimento

Recentemente, o PPGH inaugurou suas novas linhas de pesquisa: “História da Arte, Patrimônio, Cultura e Sociabilidades”; “História Global, Micro-História e Diálogos Epistêmicos” e “Política, Cultura e Usos do Passado”. “Essa nova distribuição atende às mudanças dos últimos anos, não apenas em relação aos novos docentes integrando nossa pós-graduação, mas como também às variações de pesquisas e intersecções entre elas”, explica Martinho. “Hoje há inserção de nossos pesquisadores no cenário nacional e internacional a partir dessas temáticas”. A partir dessas linhas de pesquisa, o corpo docente agencia laboratórios, redes e grupos de pesquisas e projetos de extensão; além de parcerias importantes que corroboram com a pesquisa e difusão do conhecimento.

Nesse sentido, o programa oferece uma rede fractal de atividades que corresponde ao ensino, pesquisa, extensão e inovação. Martinho destaca as parcerias com o Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm) e o Museu Mariano Procópio, que trabalham nessa intersecção da pesquisa e da difusão do conhecimento, de modo direto para a sociedade – “seja na colaboração com as pesquisas dos acervos dessas instituições, seja na proposição de atividades como exposições e cursos que são realizadas durante o ano”, diz.

Visita Técnica de História da UFJF no Museu Mariano Procópio em 2016 (Foto Aline Santana)

Outro exemplo é o programa de extensão Arte em Trânsito, com ações focadas em usar o chão da escola como espaço de fomento da arte. “A gente vem criando uma rede de conexões, articulando um alcance de formação que vai desde a comunidade escolar (crianças, adolescentes, responsáveis, professores e servidores), alunos da graduação, professores e pesquisadores de arte, professores e pesquisadores de outras áreas de conhecimento”, conta Martinho.

Internacionalização

Outro pilar do PPGH é promover eventos, cursos e pesquisas que possam consolidar a sua internacionalização. Os alunos são incentivados a cursar parte de seus doutorados no exterior, a partir do Programa de Doutorado-sanduíche no Exterior (PDSE) ou de acordos de cotutela, criando trânsito e fortalecendo as pesquisas e os laços acadêmicos. “Também deve ser citado o incentivo à presença de nossos docentes no cenário internacional, em programas de pós-doutorado, como professores convidados”, acrescenta o coordenador.

Por sua vez, a rede de investigação Direitas, História e Memória (DHM) cumpre o objetivo de fomentar intercâmbios e diálogos transnacionais entre pesquisadores e estudantes da área. Existente desde 2013, a rede reúne pesquisadores de diversas nacionalidades que se dedicam ao estudo das direitas contemporâneas, refletindo sobre suas tradições, culturas e formas de ação política, bem como sobre a memória de determinados grupos. Com sede no Brasil, atualmente, a DHM está vinculada ao Laboratório de História Política e Social da UFJF e ao Núcleo de Estudos Contemporâneos da UFF.

O programa oferece uma variedade de atividades semestrais, incluindo palestras com pesquisadores de renome nacional e internacional. (Foto: Arquivo pessoal)

“Acordos internacionais também são importantes para o PPGH”, diz Martinho, que  destaca a Cátedra Sérgio Vieira de Mello (CSVM), um projeto do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) com universidades brasileiras para apoio a pessoas refugiadas ou em situação de refúgio. “A UFJF sedia a CSVM com ações em diferentes áreas e temos a presença de dois professores a partir dessa Cátedra, além de uma pesquisadora de pós-doutorado”.

O professor acredita que, 20 anos depois da criação do programa, o cenário da pós-graduação no país é outro. “O PPGH é, e deve ser, orgulhoso de ser partícipe desses avanços, da mudança de percepção e do reconhecimento que corroboram os esforços empreendidos nessa história, que continua com força e dedicação”.

Outras informações:

Programa de Pós-graduação em História (PPGH)
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