A mesa-redonda “Rosa Egipcíaca, Afeto de Deus: uma santa africana no Brasil” acontece no Anfiteatro 2 do Instituto de Ciências Humanas (ICH) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) nesta quinta-feira, 29. O evento conta com a presença do professor aposentado de Antropologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Luiz Mott, e da professora da Faculdade de Letras (Fale) da UFJF, Bárbara Simões. A conferência começa às 14h e é promovida pelos programas de pós-graduação em Ciência da Religião, Estudos Literários e História.

A personagem-tema da palestra nasceu em 1719 na Costa de Uidá, no atual Benin. Aos seis anos de idade, Rosa foi vendida por traficantes de escravos e desembarcou no Rio de Janeiro, onde viveu em cativeiro por oito anos. Durante esse período, foi estuprada por seu comprador e, logo em seguida, enviada para Minas Gerais, em 1733.

Após se prostituir por quinze anos, passa a vivenciar fenômenos compreendidos como possessões diabólicas e sofre vários exorcismos. Nesse processo, converte-se ao catolicismo e suas experiências místicas aumentam. Rosa chega, inclusive, a ser presa por ação da Inquisição católica.

Rosa Egipcíaca foi considerada por alguns, na época, como “a maior santa do céu”. Sua vida foi tema do enredo da escola de samba Unidos do Viradouro, vice-campeã do Carnaval carioca de 2023. Acompanhe o vídeo-sinopse produzido pela escola de samba.

A mesa redonda é aberta para toda a comunidade e não é necessária inscrição prévia para participar do evento.

Luiz Mott: “voltar à UFJF é um grande prazer”

Mott descobriu Rosa Egipcíaca em meio a pesquisas sobre a Inquisição católica dos séculos 16 a 18 (Foto: arquivo pessoal)

Um dos palestrantes, o antropólogo e pesquisador Luiz Mott, é também uma das referências do movimento nacional pelos direitos LGBT e fundador do Grupo Gay da Bahia (GGB). Mott é, ainda, autor de outros 19 livros e mais de 150 artigos em revistas científicas sobre inquisição, escravismo, homossexualidade e direitos humanos.

Segundo o professor, a descoberta da existência de Rosa Egipcíaca surgiu em meio a pesquisas realizadas em meio a processos da Inquisição católica dos séculos 16 a 19.

“Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz é o nome que ela recebeu por inspiração divina, como acontecia com as religiosas que recebiam os nomes de santos. No livro, eu trato de muitos aspectos que eram desconhecidos na historiografia da época, como o Santo Ofício da Inquisição, em Minas Gerais, onde ela foi presa. Após o lançamento do primeiro volume do meu livro, ele foi muito bem repercutido, com a produção de muitos artigos científicos nas áreas de História e Linguística, analisando as declarações dela, quando foi presa no Santo Ofício.”

Capa da biografia escrita por Luiz Mott (Foto: Companhia das Letras)

Com a palestra, Luiz Mott retorna a Juiz de Fora, cidade em que viveu e estudou durante sua juventude. Entre os anos 1980 e 1990, o professor revisitou a cidade, inclusive a convite do Movimento Gay de Minas (MGM). Mott também já realizou outras palestras na Universidade.

“Voltar à UFJF, que tem um histórico de pesquisa sobre a homossexualidade, sobre o movimento gay, crimes contra os LGBTs e direitos humanos, é um grande prazer. A Universidade é aberta para a diversidade e é um prazer falar sobre a Rosa Egipcíaca neste evento, e sobre tantos outros temas, como a luta contra a homofobia.”

Professora da UFJF lança livro romance sobre a personagem histórica

Para Bárbara Simões, obra apresenta versão do Brasil que as pessoas não querem ver ou desejam que permaneça no esquecimento (Foto: arquivo pessoal)

Ainda no dia 29, a professora Bárbara Simões lança o romance “Rosa Egipcíaca, Afeto de Deus”. De acordo com a autora, a obra apresenta uma versão do Brasil que as pessoas não querem ver ou desejam que permaneça no esquecimento.

“Estou falando ali das Minas, onde a escravidão foi duríssima, dos tropeiros abrindo caminhos à custa de genocídio de indígenas. Também estou falando das mulheres, de todas, e das instituições coloniais que moldaram nosso pensamento. Mas meu livro não é um livro de história. É uma ficção. Acho que o leitor pode esperar uma versão da nossa história, incrivelmente íntima de todos nós.”

Autora de outras obras, Bárbara confessa que contar a vida de Rosa Egipcíaca foi a sua tarefa mais difícil até o momento, como escritora. O projeto foi enviado ao professor Luiz Mott, que recebeu o trabalho com entusiasmo.

Capa do romance escrito por Bárbara Simões (Foto: Editora Malê)

“Estabelecemos uma troca de mensagens muito boa. Acho que foi muito interessante para ele, ver sua biografada Rosa, transformada em personagem literária. E junto com todas as testemunhas do processo de inquisição, ganhar vida no romance. Acho que estudar a história de Rosa me ajudou a compreender o quanto a escravidão no Brasil foi cruel e, ao mesmo tempo, repleta de ambiguidades e complexidades. Nosso país é muito complexo. E Rosa é parte dessa história violenta, mas também fascinante.”

O lançamento do livro acontece às 19h, na Autoria Casa de Cultura, localizada na Rua Batista de Oliveira, 931, segundo andar, Centro. A entrada é aberta para todos os públicos.