Uma técnica desenvolvida em parceria com o Hospital Universitário da Universidade de Juiz de Fora (HU-UFJF), administrado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), e utilizada por profissionais da Instituição tem proporcionado mais agilidade na rotina do diagnóstico da tuberculose. O OKDPR-TB (RRTB), como é chamado o método, é mais eficiente, simples e barato do que o convencional. A tecnologia está em fase de prova de conceito na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e já teve a patente requerida. Além disso, está sendo testada em outros laboratórios de Minas Gerais.

Prédio do Hospital Universitário, referência em doenças raras

Técnica é desenvolvida em parceria com o Hospital Universitário da UFJF e está sendo testada em outros laboratórios de Minas Gerais (Foto: Alexandre Dornelas/UFJF)

A fase de prova de conceito 4 consiste na otimização e validação em ambiente de laboratório de componentes ou arranjos experimentais básicos de laboratório, conforme a escala Technology Readiness Levels/Manufacturing Readiness Levels (TRL/MRL), utilizada para a avaliação de uma tecnologia, de acordo com seu grau de desenvolvimento e seu enquadramento em Níveis de Maturidade Tecnológica

 O OKDPR-TB possibilita utilizar um meio de cultura com potencial hidrogeniônico (pH, uma escala capaz de medir a acidez, a neutralidade ou a alcalinidade de uma determinada solução) mais adequado para o crescimento de Mycobacterium tuberculosis, ou bacilo de Koch – agente causador da maioria dos casos de tuberculose. Dessa forma, é possível utilizar o meio de cultura tradicional para investigar a existência da micobactéria em outros materiais, além do escarro. 

Além disso, no novo método, a qualidade das cepas isoladas é melhor, favorecendo a recuperação das micobactérias, contribuindo para o processo de identificação da espécie. “Ela permite que diversos espécimes clínicos embebidos em swab de algodão e descontaminados em uma solução de hidróxido de sódio (NaOH) sejam cultivados em meio Löwenstein Jensen (LJ), por utilizar uma etapa de neutralização do pH entre as etapas de descontaminação e semeadura”, explica o farmacêutico-bioquímico do HU-UFJF, Ronaldo Rodrigues da Costa, autor da tese de doutorado que deu origem ao método.

Tese de doutorado em Saúde, desenvolvida na Faculdade de Medicina da UFJF, pelo farmacêutico-bioquímico do HU-UFJF, Ronaldo Rodrigues da Costa, deu origem ao método (Foto: Alexandre Dornelas/UFJF)

 O resultado já é sentido na prática laboratorial. Entre os benefícios, o OKDPR-TB (RRTB) proporcionou maior autonomia ao laboratório do HU-UFJF, que passou a utilizar a nova metodologia para todas as amostras pulmonares (escarro, secreção traqueal e lavado brônquico). Antes, os profissionais usavam as técnicas Ogawa, para escarro, e Petroff, para secreção traqueal e lavado brônquico. Outros diferenciais são a menor exposição para o operador e a maior abrangência e melhor qualidade das amostras corporais isoladas.

 A tecnologia passa por testes nos laboratórios macrorregionais coordenados pela Fundação Ezequiel Dias (Funed), em Minas Gerais, sob liderança da UFJF em parceria com a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig). Os trabalhos contam com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). 

A intenção é validar o novo método também para o diagnóstico de tuberculose extrapulmonar, tuberculose zoonótica por Mycobacterium bovis (agente mais raro da tuberculose) e micobacterioses não tuberculosas. O próximo passo é apresentar a metodologia ao Ministério da Saúde e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que ela possa ser incorporada ao Sistema Único de Saúde (SUS) e às rotinas dos serviços de saúde.

Além disso, o projeto foi selecionado para participar do programa SpeedLab Inovativa, de aceleração de startups. A ação é promovida pelo Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia (Critt), da UFJF. 

 Pesquisa
O método OKDPR-TB (RRTB) foi desenvolvido ao longo do curso de Doutorado em Saúde, realizado por Ronaldo Rodrigues da Costa, na Faculdade de Medicina da UFJF. O trabalho foi orientado pela professora do Departamento de Saúde Coletiva e pró-reitora adjunta de Pós-Graduação e Pesquisa, Isabel Leite, com coorientação do pesquisador da Embrapa Marcio Roberto Silva

Trabalho foi orientado pela professora do Departamento de Saúde Coletiva e pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa, Isabel Leite, com coorientação do pesquisador da Embrapa, Márcio Roberto Silva (Foto: Alexandre Dornelas/UFJF)

A tese que deu origem ao método foi intitulada “Desenvolvimento e avaliação de um novo método rápido, eficiente e de baixo custo de descontaminação e cultivo de Mycobacterium tuberculosis em escarro e outros espécimes clínicos”. No início do ano, o trabalho foi destaque no jornal “The Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene”, o que resultou em uma apresentação dos resultados em uma live internacional promovida pelo periódico, alusiva ao Dia Mundial da Tuberculose, celebrado em 24 de março.

Para Isabel, o trabalho tem impacto social por propiciar um método de diagnóstico da tuberculose com custos mais baixos, criado a partir da adaptação de metodologias pré-existentes. “Uma tecnologia acessível aos países, principalmente aos países em desenvolvimento, mais empobrecidos, onde a tuberculose, obviamente, tem um grande destaque em termos epidemiológicos.”

Ainda de acordo com Isabel, a pesquisa tem relevância por proporcionar parcerias da UFJF com outras instituições, como Embrapa e Fhemig, e colocar a Universidade em posição de evidência nacional e internacional. “Há de se destacar também a visibilidade que foi dada à pós-graduação da UFJF, a partir do trabalho do Ronaldo, que foi publicado em revistas de importância mundial na área, dando estímulo para outros alunos ingressarem no curso. Agora, como doutor, fomenta novos pesquisadores em torno de uma temática relevante para a área de saúde pública, com impactos sociais e econômicos.”

Por sua vez, o pesquisador da Embrapa e coorientador da tese de doutorado, Marcio Roberto Silva, destaca que o método pode ser desenvolvido em laboratórios de menor porte, ao contrário de grande parte dos demais utilizados. “Métodos tradicionais só se adaptam a grandes laboratórios, com grandes infraestruturas, que, normalmente, se concentram nas grandes cidades ou nos países desenvolvidos, mas não podem ser disseminados para municípios pequenos ou do meio rural. Em relação ao novo método, até laboratórios do meio rural, com infraestruturas simples conseguem adaptá-lo”, ressalta.