Profissionais do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF, sob gestão da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – Ebserh) realizaram pela primeira vez um implante de anel intraestromal em paciente com ceratocone, procedimento inédito pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no HU-UFJF. O ceratocone é uma doença genética rara, de caráter hereditário e evolução lenta, que se manifesta mais entre 10 e 25 anos, mas que pode progredir até a quarta década de vida ou estabilizar-se com o tempo. A enfermidade atinge cerca de 150 mil pessoas por ano no Brasil. O objetivo da cirurgia é regularizar a córnea e melhorar a visão de pacientes com a doença, que apresentam visão insatisfatória com óculos além de intolerância às lentes de contato.
A cirurgia foi realizada pelos médicos oftalmologistas e preceptores da Residência Médica em Oftalmologia Nicole Larivoir e Filipe Andrade Siqueira, contando também com a presença do residente Bernardo Correa e da equipe de Enfermagem do Centro Cirúrgico do Hospital Dia no HU Dom Bosco.
O implante de anel intraestromal é uma das opções terapêuticas para os pacientes com ceratocone, afirma Siqueira. “A cirurgia tem como objetivo reduzir a irregularidade da córnea causada pela doença, como tentativa de reabilitação visual. É um procedimento rápido e com baixo risco de complicações”, pontua.
“Ao dispormos do anel no nosso arsenal terapêutico, podemos muitas vezes evitar ou adiar a necessidade de transplante de córnea, uma cirurgia mais invasiva, com riscos e longo tempo de recuperação, sendo importante alternativa para reabilitação visual e melhora da qualidade de vida de pacientes com ceratocone”, explica Nicole.
A paciente operada foi Lucimara de Souza Carraci, de 43 anos. Ela conta que não conseguia enxergar bem com a vista esquerda desde os 20 anos, mesmo usando óculos e lente de contato. Descobriu que tinha ceratocone no próprio HU, quando foi encaminhada ao Serviço de Oftalmologia pelo posto de saúde. Faz acompanhamento na instituição e agora teve a possibilidade de colocar o anel. “A cirurgia foi tranquila, um pouco de incômodo no dia após, mas suportável”, relata Lucimara, durante retorno na semana posterior. Foi verificado que o grau de astigmatismo já havia diminuído de 6 para 2, e ela espera ter mais qualidade de vida a partir de agora.
A médica Nicole confirmou o sucesso da cirurgia e afirma que, após três meses de pós-operatório, a córnea se estabiliza, sendo possível avaliar qual foi a melhora na visão e refração. Além disso, a grande vantagem da colocação do anel é ser uma cirurgia ajustável e reversível, destaca.
O procedimento foi possível por meio da aquisição de instrumental cirúrgico específico, no valor de R$ 55 mil, obtidos com recursos da Ebserh, afirma o chefe da Unidade de Cabeça e Pescoço, Frederico Cavalcanti. A partir de agora, “temos o planejamento de manter regularmente as cirurgias, absorvendo parcela da demanda existente na rede de atenção à saúde do município”, assegura.
Além de um avanço para a assistência, a implementação da cirurgia de implante de anel intraestromal no HU-UFJF contribui para o avanço do conhecimento médico e científico, e fortalece o papel do Hospital Universitário como um centro de excelência em saúde e educação. Segundo a oftalmologista Nicole Larivoir, “permite que os estudantes de medicina e residentes em oftalmologia obtenham experiência prática e direta com uma técnica cirúrgica avançada, além de ampliar seus conhecimentos sobre opções de tratamento para ceratocone. Também possibilita a realização de estudos clínicos sobre a eficácia e segurança da técnica, contribuindo para o avanço do conhecimento científico nesta área”, acrescenta.
“O incremento desse procedimento no Serviço de Oftalmologia do HU-UFJF contribui para atender a população por meio do SUS, que não tinha oferta desse procedimento na rede, assim como para o ensino da residência em oftalmologia, ampliando o rol de cirurgias ao residente”, complementa Cavalcanti.
Como os pacientes podem ter acesso à cirurgia de colocação do anel para correção do ceratocone?
O primeiro acesso ao Serviço de Oftalmologia do HU-UFJF é realizado via regulação do gestor SUS, em que o paciente faz a primeira consulta. Caso identificada a necessidade de realizar o procedimento, o paciente é direcionado ao ambulatório específico, com marcação interna no próprio HU.
O que é o ceratocone?
É uma doença genética rara, de caráter hereditário e evolução lenta, que se manifesta mais entre 10 e 25 anos, mas pode progredir até a quarta década de vida ou estabilizar-se com o tempo. Leva ao afinamento e deformidade da córnea, com consequente baixa de visão, que pode ser debilitante se não tratada adequadamente. O anel intraestromal é uma pequena estrutura semicircular inserida na córnea do paciente, com o objetivo de remodelar e regularizar sua forma, reduzindo a distorção visual causada pelo ceratocone.
Benefícios do implante de Anel Intraestromal
1. Melhora na visão: o anel ajuda a regularizar a superfície da córnea, culminando em melhora da acuidade e da qualidade visuais.
2. Procedimento minimante invasivo: comparado a outras intervenções, o implante de anel intraestromal é menos invasivo e possui um tempo de recuperação mais curto.
3. Redução da necessidade de transplante de córnea: para muitos pacientes, o implante de anel pode retardar ou até evitar a necessidade de um transplante de córnea, que é um procedimento mais complexo e associado a maiores riscos.
4. Ajustável e reversível: o anel pode ser ajustado ou removido se necessário, oferecendo flexibilidade no tratamento.
5. Melhora na Qualidade de Vida: a melhora visual permite que os pacientes retomem suas atividades diárias com maior confiança e independência.
Sobre a Ebserh
O HU-UFJF faz parte da Rede Ebserh desde 2014. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do SUS ao mesmo tempo em que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.