Os pigmentos dissolvem-se nas águas, o toque do pincel anuncia arte, ele beija o papel que, despertando para a vida, apresenta ao mundo belas paisagens naturais brasileiras. A poesia pictórica da artista plástica Lilian Arbex ganha as paredes da Galeria de Arte do Forum da Cultura da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) por meio da mostra “Brasil em aquarela – nossos parques têm mais cores”, que explora as nuances e peculiaridades da técnica de pintura aquarela. O evento de abertura, gratuito e aberto ao público em geral, ocorre nesta sexta-feira, 24, a partir das 18h30. A mostra fica em cartaz até o dia 7 de junho, com visitações de segunda a sexta-feira, das 10h às 19h.

Como uma desbravadora em busca de um valioso tesouro, Lilian percorreu – e ainda percorre – diferentes parques nacionais, ansiando o encontro com visuais preservados, testemunhos de tempos distantes e arcaicos, que ainda resistem à interferência desordenada da ação humana. São, de fato, verdadeiros tesouros que a artista compartilha por meio de sua arte, contribuindo também para a descoberta de novos olhares para o Brasil e para a criação artística, despertando a sensibilidade para cores, formas e rumos das áreas de preservação do país.

A ideia da exposição nasceu em 2022, a partir da vontade de mostrar a biodiversidade dos Parques Nacionais Brasileiros, utilizando, em especial, a técnica da aquarela. O resultado foi uma conexão de forma singular com estes locais.

“Nosso país é de uma beleza incrível. Cada parque visitado aguça os sentidos e emociona de uma maneira peculiar. Sendo assim, esse projeto visa conectar a criação artística à conscientização da importância do respeito e valorização de nossa cultura, aliada à relevância da necessidade de conservação de nossos ecossistemas, além de vivenciar localmente a paleta cromática para a representação de cada parque”, explica Lilian.

Ao adentrar a mostra, os visitantes terão a oportunidade de contemplar mais de 20 quadros capazes de transportar a lugares como, por exemplo, Fernando de Noronha, Cataratas do Iguaçu, Lençóis Maranhenses, Parque do Itatiaia, Serra da Canastra, entre outros. Cada uma das obras foi realizada en plein air – expressão francesa que descreve o ato de pintar ao ar livre – ou a partir de fotografias pessoais, sketches e esboços também em aquarela, feitos ao longo das visitas aos parques.

“Para mim, o caminho e o caminhar são muito importantes. Vou prestando atenção nas plantas, nas cores que encontro durante o percurso. Sigo com o passo mais lento para poder olhar para cima e admirar as copas das árvores ou para o lado e reparar em uma bromélia. Ao parar para pintar, percebo que este é o momento de maior conexão com a paisagem. Mesmo que a caminhada seja longa ou as travessias, encontradas nas trilhas, um desafio, mesmo assim, o permanecer por alguns instantes a observar um cenário único que somente aquele local possui traz uma paz infinita, que permite fluir o sentimento para a tela em branco”, relata Lilian Arbex.

A aquarelista esteve diante de cada um dos panoramas representados na exposição, seus olhos testemunharam a essência vivaz da natureza pungente, e a valsa, belamente executada por suas mãos e pincéis, trouxe o conceito de genius locci, ou espírito do lugar, que não pode ser captado por uma racionalidade e técnica estrita, precisa ser sentido. Para ela, “a aquarela é uma conexão com a vida. Ela demanda muitas vezes saber esperar, deixar a água e as cores interagirem entre si e com o papel. Às vezes, pede mais detalhes, outras vezes, mais nuances. Usar a água como solvente no processo da pintura nos impulsiona metaforicamente para a frente, como o navegar nas águas do oceano”, pontua.

Lilian Arbex foi uma das artistas selecionadas pelo Edital de Ocupação da Galeria de Arte do Forum da Cultura 2024, cujo resultado foi divulgado no dia 15 de março.

Arte ecologicamente pensada

A sustentabilidade e a responsabilidade social em relação ao meio ambiente também permeiam as técnicas e insumos escolhidos pela artista para concepção de suas obras. A opção pela aquarela foi embasada no fato de se tratar de uma técnica que utiliza a água como solvente, não agredindo, assim, o meio ambiente, além da facilidade em ser utilizada na pintura ao ar livre.

Lilian também escolheu como suporte para seus trabalhos os papeis hahnemühle, que possuem como principais características serem veganos, resistentes ao envelhecimento e livres de ácidos.

Mais sobre a artista

Natural de Juiz de Fora (MG), Lilian Arbex iniciou seu contato com a aquarela ainda na cidade, por meio de aulas com o artista Claro de Campos, que, inclusive, organizava pinturas ao ar livre. O tempo passou, e o encanto pelas leves nuances só cresceu. Nas últimas duas décadas, a artista desenvolveu sua carreira como aquarelista e gravadora.

Em sua trajetória, já realizou diversas exposições no Brasil, inclusive uma delas no Forum da Cultura em 2008, além de mostras individuais e participações em bienais de diversos países, como México, Argentina, Portugal, China, Rússia, Irã, Bangladesh, Peru, Bolívia e França. Seus trabalhos receberam diversos prêmios, reflexo da beleza de seus traços e da apreciação da arte brasileira pelo mundo.

Gravuras e pinturas de Lilian também integram coleções em espaços como Pinacoteca do Estado de São Paulo, Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Museu Casa de Xilogravura em Campos do Jordão, International Watercolor Museum (Itália), Prefeitura de Izmir (Turquia) e Fundación Museo Bolivariano de Arte Contemporáneo (Colômbia).

Atualmente, ela é professora de aquarela em São Paulo (SP) e responsável pelo International Watercolor Society Brazil (2015-atual), associação virtual que tem por objetivo promover a arte da aquarela. Ela também é professora convidada anualmente para o Encontro Internacional de Aquarelistas de Paraty (RJ). Vale destacar, ainda, sua atuação como diretora cultural da Associação Brasileira de Aquarela e da Arte sobre Papel entre os anos de 2016 e 2018.

 Galeria de Arte

O espaço, instalado em um local privilegiado no segundo pavimento do Forum da Cultura, abriga produção eclética, com exposições de artes plásticas, documentais e pedagógicas, que já chegaram a ter mais de mil visitantes por mostra. Criada em 1981, no reitorado do professor Márcio Leite Vaz, a galeria recebe importantes nomes da pintura de Minas Gerais e da cidade, além de jovens artistas e coletivos. Em janeiro de 2024, o espaço passou por reforma, substituindo as antigas placas de madeira por novas, garantindo assim, um espaço renovado com estruturas reforçadas para as mostras a serem expostas. O sistema de iluminação também foi renovado, possibilitando mais destaque para as obras em exibição.

Forum da Cultura

Instalado em um casarão centenário, na Rua Santo Antônio, 1112, Centro, o Forum da Cultura é o espaço cultural mais antigo da UFJF. Em atividade há mais de cinco décadas, leva à comunidade diversos segmentos de manifestações artísticas, abrindo-se a artistas iniciantes e consagrados para que divulguem seus trabalhos.

Outras informações: (32) 2102-6306 – Forum da Cultura da UFJF

E-mail: forumdacultura@ufjf.br

Instagram: @forumdaculturaufjf

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