Tríptico de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro em madeira policromada (Itália, acervo particular) é uma das peças em exposição na mostra (Foto: Divulgação)

“Mãezinha do céu, eu não sei rezar; Eu só sei dizer: quero te amar; Azul é teu manto, branco é teu véu; Mãezinha eu quero te ver lá no céu.” A canção nascida da fé do povo é a fonte de inspiração para o título da nova exposição em cartaz no Museu de Cultura Popular do Forum da Cultura.

“Azul é teu manto, branco é teu véu” propõe uma incursão pela história, memória e cultura, permitindo reflexões sobre a importância do patrimônio religioso, sua preservação e a representação do feminino na iconografia da arte sacra brasileira. A exposição traz mais de 30 obras criadas por artesãos brasileiros, representando diferentes manifestações de Maria, inspiradas por relatos de suas aparições, milagres e por outras ocasiões especiais ligadas à mãe de Jesus Cristo. A mostra fica em cartaz até o dia 29 de maio. As visitações ao espaço da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) são gratuitas e podem ser feitas de segunda a sexta-feira, das 10h às 19h.

Franciane Lúcia: levar o visitante a refletir sobre a representação do feminino na iconografia da arte sacra brasileira é uma das propostas da exposição (Foto: Divulgação)

Quando tocadas pelas mãos humanas, a porcelana, o gesso, a madeira, a resina, entre outras matérias-primas utilizadas para criação das peças, se transformam em símbolos de fé, crença e devotamento. São objetos que levam à reflexão sobre o que é transcendental e reforçam a conexão de milhares de pessoas com a figura sacralizada da mãe, que, no Cristianismo, é representada por Maria.

De acordo com a conservadora-restauradora de bens culturais do Forum da Cultura, Franciane Lúcia, a proposta da exposição é “permitir que o visitante reflita sobre a importância do patrimônio religioso, sobre a sua preservação e a representação do feminino na iconografia da arte sacra brasileira”. A maioria dos trabalhos em cartaz é composta por peças que integram o acervo do Museu de Cultura Popular e também foi possível obter junto a colecionadores particulares, “obras que reforçam as infinitas possibilidades artísticas e a conexão de milhares de pessoas com a figura da mãe de Jesus”, conta Franciane.

As peças em exibição são oriundas de cidades como Mariana (MG), Belo Horizonte (MG), Ouro Preto (MG), São João del-Rei (MG) e Juiz de Fora (MG).  Há também uma obra confeccionada na Itália. Entre os destaques, peças que representam Nossa Senhora da Conceição, como a de autoria de Ida Vasconcelos, que traz as tonalidades e texturas inerentes à terracota, e a de Régis Kerusk, criada em cerâmica, que conquista os olhares mais atentos com sua riqueza de detalhes. Também chama a atenção a imagem de Nossa Senhora Aparecida criada em saco de aniagem, de autoria do artista Expedito. A obra reforça as infinitas possibilidades criativas que nascem a partir das particularidades de cada região do país.

Nossa Senhora da Conceição em cerâmica, de Régis Kerusk, Juiz de Fora (MG) (Foto: Divulgação)

O público também poderá conferir o trabalho do artista mineiro Jorge Cruz, criador de estátuas de Nossa Senhora da Conceição em cerâmica. Nestes trabalhos o artista optou por pintar as peças com tinta fosca, deixando apenas os olhos das santas com tintura a óleo, o que evoca a pureza que tais figuras carregam.

Outra obra de arte presenta na mostra é a pintura “Madona” (60 x 70 cm), da artista plástica Nice Nascimento Avanza. A obra, feita em óleo sobre tela e datada de 1978, encanta pela vivacidade de suas tonalidades e traços diferenciados. O quadro também carrega elementos marcantes da identidade visual da artista capixaba, como, por exemplo, a referência ao cacau. Autodidata, Nice buscava captar elementos do seu entorno e os transformava em arte plástica. Cenas religiosas e do dia a dia no campo são frequentes em seus trabalhos. Dessa forma, figuras do catolicismo são retratadas, algumas delas com elementos que não correspondem às representações tradicionais.

Nossa Senhora Aparecida em aniagem, de Expedito, Juiz de Fora (MG) (Foto: Divulgação)

Independentemente de crenças e da existência – ou não – de relações com o espiritual, a exposição é uma oportunidade para apreciar a arte popular, que é bela, natural, intensa e repleta de inspiração. A mostra também integra a programação do Forum da Cultura na 22ª Semana Nacional dos Museus, que tem como tema central “Museus, educação e pesquisa”.

Museu de Cultura Popular 

Com um rico acervo de mais de 3 mil peças, o Museu de Cultura Popular é um importante espaço de preservação, resgate e valorização da arte oriunda de expressões e tradições populares.

Entre estátuas, artefatos indígenas, brinquedos antigos, peças de crenças religiosas e outros diversos itens, das mais distintas origens, o visitante tem a oportunidade de realizar uma verdadeira viagem a outros tempos e locais, muitas vezes desconhecidos.  O museu abriga objetos da cultura nacional e também do exterior.

Nossa Senhora da Palma em gesso policromado –  Juiz de Fora (MG), acervo particular (Foto: Divulgação)

As peças, de natureza singular, aguçam a curiosidade e atuam como pontos de contato entre pessoas e culturas diferentes, propiciando, dessa forma, um intercâmbio extremamente importante para a sociedade.

O Museu, criado em 12 de março de 1965 – data que marcou o centenário do folclorista Lindolfo Gomes –, foi transferido para o espaço do Forum da Cultura em 1973, sendo doado à UFJF em 30 de setembro de 1987. Sua origem está no trabalho do professor Wilson de Lima Bastos, que criou o então chamado “Museu do Folclore”, mais tarde renomeado como “Museu de Cultura Popular”.

 Forum da Cultura

Instalado em um casarão centenário, na Rua Santo Antônio, 1112, Centro, o Forum da Cultura é o espaço cultural mais antigo da UFJF. Em atividade há mais de cinco décadas, leva à comunidade diversos segmentos de manifestações artísticas, abrindo-se a artistas iniciantes e consagrados para que divulguem seus trabalhos.

Outras informações:

(32) 2102-6306 – Forum da Cultura da UFJF.

E-mail: forumdacultura@ufjf.br

Instagram: @forumdaculturaufjf