Jéssica Leiras (esquerda) e Renata Mendes (direita): percurso acadêmico das empreendedoras foi realizado na UFJF (Foto: Arquivo Pessoal)

No cenário empreendedor brasileiro, a inovação e a sustentabilidade ganham estímulo com a atuação da NAtiva, uma startup criada por pesquisadoras farmacêuticas formadas pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Em sintonia com o Mês da Mulher, a história dessas empreendedoras ressalta o potencial transformador da pesquisa científica na busca por soluções que promovam o bem-estar, com base na riqueza da biodiversidade nacional.

A jornada empreendedora da NAtiva teve início no Laboratório de Produtos Naturais Bioativos (Lpnb) da UFJF, sob a orientação da professora Elita Scio. Co-fundadoras do projeto junto à docente, Renata Mendes e Jéssica Leiras, dedicaram-se por 15 anos à pesquisa de insumos bioativos, desde a Iniciação Científica até a pós-graduação. O fruto desse trabalho resultou na fundação da startup, com foco na otimização da descoberta de soluções inovadoras para saúde e bem-estar, a partir da biodiversidade brasileira.

Professora Elita Scio, do Departamento de Bioquímica, é conselheira da NAtiva (Foto: Arquivo Pessoal)

O reconhecimento veio em 2021, quando as pesquisadoras participaram do Emerge Amazônia, iniciativa promovida com o objetivo de identificar tecnologias brasileiras capazes de gerar impacto socioeconômico sustentável a partir da biodiversidade amazônica. A chamada foi promovida pela Emerge Brasil (organização voltada ao desenvolvimento da ciência e inovação) e contou com o apoio de empresas renomadas nos setores de medicamentos, cosméticos e alimentos, como Aché, Nintx, Natura, BRF e Bemol. Após a seleção, o projeto iniciou suas operações como empresa.

Durante sua participação no “Bootcamp”, uma etapa crucial do processo seletivo do Emerge Amazônia, a equipe teve a oportunidade de aprimorar seu plano de negócios e estabelecer conexões no setor de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) farmacêutico. Essa imersão estratégica permitiu que as pesquisadoras refinassem suas estratégias e alinhassem seus objetivos comerciais com as demandas do mercado.

A tecnologia submetida pelas pesquisadoras – NTV01 – foi selecionada entre 149 projetos, o que não apenas validou a qualidade e o potencial inovador da proposta da NAtiva, mas também proporcionou os recursos necessários para a estruturação da empresa. Dessa forma, em 2022, a NAtiva deu seus primeiros passos em sua jornada como uma startup empreendedora, pronta para transformar pesquisa científica em soluções tangíveis para a sociedade.

Tratamento de doenças inflamatórias a base de ativos naturais

O NTV01 é um produto farmacêutico desenvolvido para tratar doenças inflamatórias da pele. Atualmente, de acordo com as pesquisadoras, esta tecnologia está passando por um processo de desenvolvimento em colaboração com uma renomada indústria farmacêutica nacional, conhecida por sua excelência em inovação. De acordo com Renata Mendes, que também é diretora científica da NAtiva, os fitoterápicos com produção prevista pela startup se destacam pela ausência de efeitos adversos comuns em outras opções terapêuticas disponíveis, além de apresentarem uma ação eficaz e de múltiplos alvos, o que ajuda na redução de danos e complicações.

“O fitomedicamento é o resultado de mais de uma década de pesquisa, que teve início durante minha Iniciação Científica. Desde então, sempre nos preocupamos em fazer com que nossas descobertas beneficiassem a comunidade de alguma maneira. Em 2009, ao pesquisar as plantas nativas de nossa região, identificamos um potencial terapêutico significativo em uma espécie encontrada na Mata Atlântica. Decidimos então investigar o interesse do mercado e as necessidades dos pacientes, a fim de desenvolver uma tecnologia que pudesse se tornar um fitoterápico avançado e atender às demandas”, comenta. 

Ainda segundo Renata, a produção do fitoterápico também visa o impulsionamento das cadeias produtivas de espécies das quais o NTV01 é derivado, incentivando o reflorestamento e gerando benefícios sociais, ambientais e econômicos para comunidades da Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga. 

O objetivo é plantar florestas para garantir a produção sustentável desse medicamento em larga escala, seguindo rigorosos padrões de qualidade, desde o cultivo da matéria-prima até o consumidor final. Assim, além de melhorar a qualidade de vida dos pacientes, o projeto impacta positivamente toda a cadeia produtiva do fitoterápico.

Premiações recentes 

Jéssica Leira e Renata Mendes (no alto, ao centro) entre os premiados pelo programa InoVAtiva de Impacto Socioambiental (Foto: Arquivo Pessoal)

Em 2023, a NAtiva alcançou dois marcos significativos. A startup foi uma das seis selecionadas na região Sudeste para o Programa Mulheres Inovadoras, uma parceria entre a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Esse programa visa impulsionar startups lideradas por mulheres, promovendo a diversidade no cenário empreendedor nacional por meio de capacitação e reconhecimento.

Além disso, a startup recebeu reconhecimento no programa InoVAtiva de Impacto Socioambiental, o maior projeto de aceleração gratuito para empresas inovadoras da América Latina.

Na avaliação de Renata Mendes, este reconhecimento do trabalho feminino também se deve à presença contínua de mulheres ao longo da jornada da startup. Ela ressalta a influência de figuras femininas fortes nas trajetórias das fundadoras Renta e Jéssica, como as mães de ambas e a professora Elita Scio. 

“Hoje, eu acredito e digo para as mulheres que estão na pós-graduação, as pesquisadoras e aquelas que, porventura, não tiveram oportunidade de estudar, mas reconhecem a importância de serem corajosas e avançarem na construção de suas carreiras, a abraçarem a coragem. Sigam em frente mesmo sentindo medo. Em nenhum momento nós deixamos de temer. No entanto, sempre tivemos a certeza de que, diante de qualquer desafio, podíamos contar com o apoio de outras mulheres ao nosso redor, assim como de pessoas que nos suportam hoje”, reflete a pesquisadora. 

Renata enfatiza que essas conquistas estão atreladas às tecnologias e equipamentos avançados disponíveis no laboratório da empresa. O desenvolvimento dos produtos abre perspectivas para a promoção da bioeconomia e o fortalecimento das cadeias produtivas. As métricas de impacto da NAtiva estão alinhadas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). 

Expansão do projeto 

Atualmente, a empresa também desenvolve a Plataforma NAtiva, um banco de dados e insumos vegetais projetado para aprimorar a descoberta de novos bioativos, com ênfase especial no ecossistema da Mata Atlântica. De acordo com as pesquisadoras, elas estão estabelecendo parcerias na Zona da Mata Mineira para avançar na identificação de potenciais cadeias produtivas e na criação de modelos agroecológicos, por meio do plantio de florestas com espécies nativas. A expectativa é que a partir desses insumos, medicamentos, cosméticos e outros fitoprodutos sejam lançados no mercado. 

“Com todo o aprendizado que a gente teve dentro da UFJF, em escala laboratorial e com o aprendizado que a gente tem tido nos últimos anos com o setor farmacêutico, na parte de escalonamento dessas tecnologias, conseguimos buscar esses ativos de forma mais otimizada, numa análise multicritério, com foco no interesse do mercado, e também com o olhar pensando em novos produtos, em novas tecnologias que possam vir a gerar fonte de renda para toda a comunidade”, finaliza a diretora Renata Mendes. 

Outras informações:

www.nativabiotech.com

nativa@nativabiotech.com