Conscientizar a população sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama. Esse é o objetivo do Outubro Rosa, movimento internacional criado no início da década de 1990 e que tem como símbolo um laço cor-de-rosa. Durante todo o mês, o Brasil e diversos outros países compartilham informações para contribuir com a redução da incidência e da mortalidade pela doença. Este ano, a campanha nacional tem como lema “Juntos somos mais fortes” e a ideia é fortalecer as recomendações do Ministério da Saúde relacionadas à prevenção, diagnóstico precoce e rastreamento do câncer de mama.
O Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF, sob gestão da Ebserh) acompanha diversas mulheres e realiza exames, como ultrassonografia mamária e mamografia, além de biopsias nos casos suspeitos. Quando o câncer de mama é diagnosticado, a paciente é encaminhada para tratamento em uma unidade de saúde que é referência no atendimento.
Durante o Outubro Rosa, os hospitais universitários federais da Rede Ebserh têm uma programação diversa, que leva educação e serviços de saúde aos usuários SUS. No HU-UFJF, a programação envolveu palestras, salas de espera com os usuários, mamografias de rastreio, decoração dos ambientes e divulgação dos serviços de atendimento aos meios de comunicação. As ações contaram com o trabalho de uma equipe multiprofissional, formada a partir de um grupo de trabalho interno.
Houve capacitação com a médica mastologista Estela Laporte sobre câncer de mama e como sensibilizar e orientar a população. Durante todo o mês, foi feito um trabalho de educação em saúde com pacientes em salas de espera e também com trabalhadoras em seus setores de trabalho. O estímulo visual é outra marca da campanha, e as equipes capricharam na ornamentação do Hospital, confeccionaram camisas e distribuíram lacinhos rosa símbolo da campanha. Também foram produzidos materiais impressos, audiovisuais e mobilização nas redes sociais em um dia D da campanha.
Cirurgias de reconstrução
Outra ação importante foi a colocação de próteses mamárias em pacientes que aguardavam cirurgias de reconstrução. Duas pacientes deram seus depoimentos e externaram a alegria que estão sentindo. Cleuza Coelho, de 71 anos, passou pela cirurgia de reconstrução da mama no HU no dia 20 de outubro. Estava aguardando a prótese há um ano, depois de ter descoberto o câncer em 2019, realizado a mastectomia e 24 sessões de radioterapia. Quando acabou o tratamento, foi encaminhada para o HU. “Está tudo ótimo agora. A cirurgia foi tranquila, saí no dia seguinte, a equipe é maravilhosa, nem dá para falar. Estou bem e feliz com a cirurgia de reconstrução. Na minha cabeça, não me incomodava, mas eu pensava: se eu posso fazer, por que não? Eu me olhava, era estranho, então pensei: “vou procura meus direitos, e isso eu vou passar para muita gente”, salienta.
Ela descobriu a doença devido a uma coceira na ponta do mamilo, foi ao médico e ele pediu uma consulta especializada o mais rápido possível. “Eu fazia os exames, mas com aquela mania de colocar o trabalho na frente de tudo, nem levava o resultado para a médica, eu guardava. A mensagem que deixo é não fazer como eu, realizar os exames de rotina e levar para o médico ver, não deixar passar, e não tenha medo. Para algumas pessoas o mundo acaba quando descobrem a doença, e não é isso. Quanto mais a gente tem vontade de viver, mais a gente tem saúde”, aconselha.
No caso de Lenira Rodrigues, 53 anos, a cirurgia de reconstrução demorou. Ela descobriu o câncer de mama em 2013, em função de um caroço no mamilo. No entanto, as mamografias não acusaram o tumor, isso foi possível por meio de uma biópsia e de uma primeira cirurgia. Após duas operações, fez quimioterapia e radioterapia até 2015, tendo alta médica no ano seguinte. “Entrei na fila para a reconstrução, só que não conseguia. A pandemia também atrapalhou. Agora fui chamada porque o hospital recebeu as próteses. A cirurgia correu bem, saí no dia seguinte. Estou sentindo um pouco de dor, porque minha pele está muito fina, mas é por uma boa causa. Estou muito satisfeita”. Perguntada sobre como foi viver todo esse tempo sem uma das mamas, ela disse que não se frustrava por isso, ia para praia e tinha uma vida normal, mas queria fazer a reconstrução. “Estou felizona que saiu’, comemora.
A cirurgiã plástica Larissa Daroda, que realizou os procedimentos, explica que todo ano, no mês de outubro, há uma doação de próteses por parte de um fornecedor, possibilitando a cirurgia de reconstrução em pacientes que aguardam na fila. “Elas estão ficando satisfeitas, a reconstrução é a parte mais gratificante do nosso trabalho, sou apaixonada, e a gente conversa muito com a paciente antes para elas adequarem a expectativa ao resultado que é possível obter. Uma paciente dormiu na anestesia chorando de alegria, porque disse que jamais teria condição de fazer esse tipo de cirurgia que o HU está oferecendo no estado de origem dela”, conta.
A médica explica que o melhor momento para fazer a reconstrução é logo após a retirada da mama, quando normalmente se consegue preservar a pele e colocar a prótese por baixo. Já nos casos tardios, às vezes é preciso trazer pele de algum outro lugar, porque a pele já aderiu. “Esses dias, fizemos uma cirurgia que trouxemos a pele e os músculos das costas para proteger essa prótese, isso depende da situação do local pela retirada do tumor. O tempo de recuperação é em torno de 30 dias sem fazer esforço, pegar peso, depois volta a vida normal. Muitas vezes, depois precisamos de uma mamoplastia que chamamos de simetrização, para as duas mamas ficarem com aspecto parecido, o que o HU já oferece de rotina”, complementa.
Para finalizar, Larissa ressalta que é importante a paciente saber que tem condição de obter a cirurgia de reconstrução e deve buscar com o poder público o fornecimento regular das próteses.
Dados
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de mama é o tipo de câncer que mais atinge mulheres no mundo. No Brasil, são estimados cerca de 74 mil novos casos da doença em 2023. No nosso país, ele também é o tipo de câncer que mais mata a população feminina. Por isso, é importante estar atenta aos sinais da doença. Os mais comuns são caroço na mama, que pode ser identificado no autoexame, pele da mama avermelhada ou com textura diferente, alterações no bico do peito, saída de líquido do mamilo e pequenos nódulos no pescoço ou na região das axilas.
O câncer de mama não tem uma causa definida, mas existem alguns fatores que podem favorecer o surgimento da doença. Entre eles: obesidade, sedentarismo, consumo de bebida alcoólica, não ter filhos, uso de contraceptivos hormonais, reposição hormonal por mais de cinco anos e histórico familiar de câncer de mama ou de ovário. A prevenção pode ser feita combatendo esses fatores com a adoção de hábitos saudáveis e mantendo um acompanhamento médico regular.
O diagnóstico precoce, capaz de aumentar as chances de cura e as possibilidades de tratamento, também depende de cada mulher. Conhecer o próprio corpo e fazer o autoexame é uma das maneiras de chegar a ele. Realizar os exames indicados pelo ginecologista e a mamografia anual a partir dos 40 anos de idade também são formas de garantir um diagnóstico precoce. O tratamento depende do estágio da doença, mas costuma ser feito com quimioterapia, radioterapia, cirurgia para retirada do tumor ou mastectomia e medicamentos orais.
Sobre a Ebserh
O HU-UFJF faz parte da Rede Ebserh desde 2014. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.