“Os dados do Censo demográfico revelam as características e os segmentos da população brasileira, que precisam ser interpretados, uma vez que desempenham um papel fundamental e fornecem subsídios essenciais para as políticas públicas existentes e, sobretudo, para as futuras”, afirmou o presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Márcio Pochmann, durante a abertura do 3º Seminário Nacional do Comitê de Projeções de Estimativas Demográficas (CPED). O evento teve início na segunda-feira, 30, no Instituto de Ciências Humanas (ICH) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
A programação deste ano tem como tema “Censo 2022 e os desafios para a produção de estimativas e projeções demográficas”. O objetivo é analisar os dados recentemente divulgados, contando com a contribuição de pesquisadores do IBGE, da UFJF e de outras instituições nacionais. O evento segue até quarta-feira, 1º, com palestras, mesas-redondas, apresentações em sessões temáticas, além de workshops para alunos de graduação e pós-graduação. Confira a programação completa.
O reitor da UFJF, Marcus David, enfatizou a importância das instituições de ensino na coleta de dados cruciais para a sociedade, especialmente após a pandemia e os ataques à educação e à ciência. “Os desafios que devemos enfrentar, tanto em nossa sociedade local, nacional quanto global, está intrinsecamente ligado à qualidade dos dados que temos à nossa disposição. Esses dados desempenham um papel crucial ao contribuir de forma eficaz para a formulação e concepção de políticas públicas, auxiliando-nos a superar os inúmeros desafios que temos pela frente.”
Os desafios
O seminário acontece após a divulgação de novos dados do Censo 2022, revelando que Juiz de Fora ocupa o 13º lugar no ranking dos grandes municípios (mais de 100 mil habitantes) com maior percentual de idosos. O levantamento ainda mostra que 93 habitantes de Juiz de Fora têm cem anos ou mais. A maioria das pessoas nessa faixa etária é do sexo feminino, sendo 73 mulheres e 20 homens. Ainda de acordo com os dados, as mulheres representam 53% da população do município, o que corresponde a 286.596 pessoas, enquanto o número total de homens é de 254.160.
Em conversa com a Diretoria de Imagem, o presidente do IBGE explica que estes resultados, assim como em 2010, apontam que a população brasileira não está crescendo na mesma proporção que anteriormente. “Nós temos tido uma queda na taxa de fecundidade, as mulheres vêm tendo cada vez menos filhos e isso vai alterando a composição etária da população, porque se nasce menos crianças e a população ao mesmo tempo tem uma maior expectativa média de vida. Há um processo natural de envelhecimento.”
Pochmann ainda destaca uma das implicações significativas com relação à queda na taxa de natalidade diz respeito à formação de estudantes. Segundo ele, “o Brasil é um dos países que mais tem fechado escolas, porque há uma redução no número de alunos. Cabe aqui perguntar: será que é a melhor decisão? Será que haveria espaço para melhorar a qualidade do ensino? São questões que o próprio Censo vai trazer e nos exigem uma reflexão”.
O economista ainda lembra que o levantamento, realizado após 12 anos, foi marcado por diversas dificuldades, incluindo cortes de recursos, propagação de fake news e recusa por parte da população em participar da pesquisa. “Dos 13 Censos que o Brasil realizou desde 1872, este foi o primeiro por intervenção do Supremo Tribunal Federal, o que demonstra uma dificuldade. Além disso, o levantamento de dados foi realizado com recursos que equivalem a 60% do que foi comprometido no Censo de 2010.”
Apesar dos desafios, Pochmann ainda ressalta que a apresentação das informações estão sendo satisfatórios e realizados com qualidade, resultado que pode estar atribuído às implementações tecnológicas. Os mais de 120 mil recenseadores receberam dispositivos móveis que permitiram que as informações apuradas fossem enviadas, em tempo real, para o instituto, contribuindo com a rapidez na divulgação dos resultados.
Número de recusa mantém semelhante ao Censo de 2010
Ainda na segunda-feira, a mesa de debates “Censo 2022 em perspectiva: avanços e desafios à luz dos primeiros resultados e análises, produzidos pelo IBGE” contou com a presença do professor do Departamento de Estatísticas da UFJF, Marcel Vieira, que falou sobre a taxa de não participantes no Censo. Sua apresentação mostrou que a recusa à participação permaneceu semelhante à edição de 2010, com exceção de São Paulo – o estado registrou um aumento notável, com 8,60% das pessoas optando por não responder à pesquisa, um incremento de 6,81% em relação ao último Censo.
Apesar dos resultados terem sido satisfatórios, segundo o professor, ainda é preciso o aprimoramento de estudos que visam avaliar métodos alternativos para a coleta de informações, bem como a exploração do uso da tecnologia para a obtenção de futuros dados.
O Comitê
O Comitê de Projeções de Estimativas Demográficas (CPED integra a Associação Brasileira de Estudos Populacionais (Abep) – órgão criado com o intuito de fortalecer o intercâmbio científico na área de demografia. Esta edição do seminário tem o apoio do Departamento de Geociências e do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGeo) da UFJF.
O coordenador do evento, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Járvis Campos comentou que a escolha de Juiz de Fora como sede do evento foi motivada pela relevância da Universidade e pela colaboração de renomados professores da instituição. Além disso, a cidade está estrategicamente posicionada próxima a diversas instituições de relevância, incluindo o IBGE, localizado no Rio de Janeiro, o que possibilita um maior enriquecimento das discussões.
O evento contou ainda com a presença da vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, Luciana Lima.