Os participantes são oriundos de 12 municípios, duas macrorregiões de Minas Gerais e duas unidades federadas, incluindo a saúde indígena. (Foto: Sebastião Jr.)

Um curso oferecido pelo campus Governador Valadares da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF-GV) tem ajudado a aperfeiçoar a atuação dos profissionais de saúde da região leste no enfrentamento a epidemias. As aulas da segunda turma do Programa de Treinamento em Epidemiologia de Campo começaram na última semana e vão até o mês de dezembro próximo, totalizando 200 horas de atividades, todas elas focadas na parte prática. Ao todo, 25 pessoas receberão a capacitação.

O treinamento se concentra em temas ligados ao raciocínio epidemiológico e à detecção, investigação, análise de dados e comunicação em saúde, conhecimentos que de acordo com a professora do campus e coordenadora do programa Waneska Alexandra Alves se convertem, por exemplo, em “informes e boletins epidemiológicos mais qualificados, técnicos, com maior rigor científico e em ações mais precisas, para que as gestões municipal, estadual e federal, possam atuar de maneira mais direcionada aos problemas de saúde locais.”

Aliás, foi essa necessidade de articulação entre os diversos segmentos da saúde (municipal, estadual e federal) que, aliado ao contexto epidemiológico da região, alavancou a implementação do curso. “A motivação maior foi a intersetorialidade que ele oferece para a UFJF, uma vez que a gente se articula com várias instituições, e o nosso papel fundamental no fortalecimento da vigilância – tanto focada na saúde indígena quanto na dos municípios da macrorregião leste –, uma vez que aqui é uma região com índices e indicadores de vulnerabilidade social e de adoecimento de morte bastante importante. Por isso, precisamos fortalecer esses profissionais e essa vigilância”, explica Alves.

Coordenadora do curso, Waneska Alves, fala na abertura do treinamento, ao lado de parte da equipe. (Foto: Sebastião Jr.)

E esses profissionais que serão fortalecidos nesta segunda edição do treinamento são oriundos de 12 municípios, duas macrorregiões de Minas Gerais e duas unidades federadas, incluindo a saúde indígena. Para conduzir as atividades foram recrutados 14 pesquisadores e técnicos, que atuarão voluntariamente na tutoria e mentoria. Até o final do curso devem sair desse grupo mais de 100 relatórios sobre análises técnicas de saúde.

A analista técnica de políticas sociais do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) de Minas Gerais e Espírito Santo elogia a proposta. Segundo Aline Gomes, “o treinamento agrega nas habilidades e competências dos profissionais da saúde indígena, ao passo que tem como foco as ações de investigação, análise e interpretação das situações de saúde do território”. Ainda de acordo com ela, isso “ampliará a visão dos profissionais da saúde indígena para o manejo mais adequado aos eventos de saúde, visto que a formação propiciará subsídios para uma tomada de decisão mais assertiva a cada desafio – que são muitos – da atenção primária.”

Colhendo os frutos

Os resultados obtidos na primeira edição, realizada em 2022, demonstram a pertinência e sucesso do treinamento. Mais de 40 trabalhos técnicos aplicados à vigilância e assistência à saúde no SUS foram produzidos pelos dez profissionais formados naquele ano e encaminhados às secretarias municipais e estadual de Saúde.

Além disso, os conhecimentos adquiridos na formação foram decisivos na atuação desses trabalhadores em surtos recentes na região, como o de raiva humana, no início deste ano, Monkeypox e a tuberculose, que tem acometido bastante a população indígena atualmente.

Maria-Luiza Martins, da Superintendência Regional de Saúde de Governador Valadares, integrou a primeira turma, e conta como o curso contribuiu para a seu trabalho. “Fortaleceu minha prática diária nas ações de assistência e vigilância, possibilitando o conhecimento de ferramentas que permitem traçar o perfil epidemiológico da região e aprimorar a análise de situação de saúde. A formação contribuiu ainda para o reconhecimento de problemas de saúde pública e a proposições de soluções efetivas e oportunas”, destaca.

Quem também lista os ganhos proporcionados pela primeira edição do treinamento é Aline Gomes, do DSEI. “Os profissionais da primeira turma foram um psicólogo e uma odontóloga, categorias profissionais que apesar de serem parte integrante da equipe multidisciplinar de saúde, por vezes podem apresentar dificuldades no âmbito da vigilância epidemiológica, por deficiências da própria formação acadêmica. Com o curso, eles se tornaram grandes incentivadores para os demais profissionais do distrito, motivo pelo qual tivemos um grande número de inscritos interessados em compor a segunda turma do curso. Além disso é perceptível a contribuição dos egressos nas discussões de casos e planejamento das ações de saúde, pois conseguem fazer conexões com a interdisciplinaridade, a integralidade do cuidado e a vigilância”, explica.

São parceiros da UFJF no treinamento o DSEI, a Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais e a Secretaria Municipal de Saúde de Governador Valadares. Integrantes dessas instituições participaram da mesa de abertura, realizada na última segunda-feira, 18.