Mais de 80 itens do acervo do Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm/UFJF), entre obras de arte e livros raros, participam da exposição “Murilo Mendes, poeta crítico: o infinito íntimo”, em cartaz no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM São Paulo) a partir de amanhã, dia 5. A mostra tem como enfoque a atuação desse juiz-forano como crítico de arte, colecionador e organizador de exposições, além de poeta.
“A exposição reúne um representativo conjunto de exemplares do acervo bibliográfico, arquivístico e de artes plásticas de Murilo Mendes, compondo a proposta curatorial da exposição. Isso confirma, portanto, as potencialidades do acervo de nosso museu como repositório privilegiado de pesquisa do modernismo nacional e internacional”, afirma o superintendente do Mamm/UFJF, Aloisio Castro.
Além das obras que pertenceram ao poeta, a mostra apresenta trabalhos do acervo do Museu Nacional de Belas Artes e de colecionadores particulares. “Com esta exposição espera-se que o espaço reservado a Murilo Mendes como crítico de arte e colecionador, tanto na sua biografia como na história da crítica brasileira, se afirme e se expanda”, destacam os pesquisadores e curadores da mostra, Lorenzo Mammi, Maria Betânia Amoroso e Taisa Palhares.
Infinito íntimo
Dividida em três blocos, a exposição tem como ponto de partida o círculo de amizades de Murilo Mendes e Ismael Nery no Rio de Janeiro nas décadas de 1920 e 1930. “Nessa fase, Murilo apoia um conjunto de artistas como o próprio Nery, Cícero Dias, Alberto da Veiga Guignard e Jorge de Lima, que cultivam uma relação estreita entre artes plásticas e poesia, próximos das poéticas surrealistas e metafísicas, mas com divergências. Por outro lado, opõe-se às tendências dominantes na época, realistas e defensoras de uma volta ao métier, a serviço do nacionalismo e do engajamento social. É a fase ‘rebelde’ de Murilo”, afirmam os curadores no texto de apresentação da mostra.
Em um segundo momento, que compreende o período entre meados da década de 1930 e o ano de 1957, quando Murilo Mendes se muda para a Itália, estão evidenciados artistas como Lasar Segall, Maria Martins, Milton Dacosta e Vieira da Silva. Nessa fase, segundo os curadores, ele já era um poeta famoso e um crítico influente, e montava sua coleção a partir de obras adquiridas em viagens à Europa.
Já o terceiro bloco engloba a fase em que viveu em Roma. Nesse período, aproximou-se do crítico de arte Giulio Carlo Argan, colaborou com artistas como Alberto Magnelli e Lucio Fontana, em mostras e publicações, e organizou exposições na Embaixada do Brasil em Roma. “O ápice dessa última fase talvez seja a curadoria da representação brasileira na Bienal de Veneza de 1964, a primeira em que o Brasil conta com seu próprio pavilhão”, ressaltam os curadores.
A exposição conta com obras de 58 artistas, dos quais 38 estão representados por pelo menos um trabalho emprestado pelo Mamm/UFJF, número que reflete o protagonismo da coleção muriliana na curadoria. Segundo Mammi, a mostra foi pensada a partir do acervo do poeta e complementada com outros artistas que marcaram sua trajetória.
Contatos e expansões
O diálogo entre as instituições teve início ainda em 2022. “A primeira conversa do MAM São Paulo conosco se deu em novembro do ano passado. Na ocasião, o curador-chefe Cauê Alves nos apresentou a proposta da exposição. Segundo ele, o projeto partiu do contato de Maria Betânia Amoroso e Lorenzo Mammi com nosso Museu no início da década de 2010”, conta o superintendente do Mamm/UFJF.
Meses mais tarde, os curadores da mostra visitaram o museu juiz-forano para conhecer melhor as obras do acervo. “Devido à rica pesquisa desenvolvida pelos curadores, o MAM São Paulo optou por ampliar o tamanho e a duração da exposição, passando a ocupar a Sala Milú Vilela, a maior galeria da instituição”, explica Castro.
Meses de trabalho
Desde abril, a equipe do Mamm/UFJF vinha se preparando para o envio das obras. Inicialmente, o Museu colaborou com a elaboração do catálogo da exposição, enviando imagens de documentos do acervo arquivístico e das obras de arte selecionadas. A publicação apresenta textos dos curadores da mostra, do curador-chefe do MAM São Paulo e da presidente do Museu, Elizabeth Machado. Além disso, o superintendente do Mamm/UFJF assina um artigo sobre as marcas de proveniência na Coleção Murilo Mendes.
Em seguida, iniciou-se o processo de preparação do acervo museológico. As obras foram submetidas a processos de conservação-restauração. As molduras também receberam tratamento especial, com a adoção de materiais técnicos adequados. “Isso se justifica por salvaguardar a obra dos agentes de degradação extrínsecos, como, por exemplo, o excesso de umidade, além de amenizar o empenamento do chassi”, explica o conservador-restaurador do Mamm/UFJF, Valtencir Passos.
Antes de seguirem para São Paulo, ainda foram realizados os laudos técnicos de conservação dos livros e obras de arte. Trata-se de um procedimento padrão, realizado na presença de especialistas das duas instituições, que consiste na verificação do estado de conservação dos bens culturais no momento do empréstimo. “Os laudos foram conferidos novamente no momento da chegada no MAM São Paulo e voltam a ser realizados outras duas vezes, quando as obras retornarem a Juiz de Fora”, ressalta Passos.
Acesso e difusão
“Murilo Mendes, poeta crítico: o infinito íntimo” faz parte das comemorações dos 75 anos de atividades culturais e artísticas do MAM São Paulo. “A exposição conta com o inestimável apoio do Mamm/UFJF e, com sua realização, contribui para a pesquisa e difusão da arte moderna”, ressaltam Elizabeth Machado e Cauê Alves.
“No ano em que completa seus 18 anos, o Mamm/UFJF reafirma, por meio desse intercâmbio com o MAM/SP, o compromisso de interlocução da UFJF com a sociedade, fomentando o acesso e a reflexão crítica em torno do acervo museológico relacionado com a vida e a obra universal do poeta Murilo Mendes”, conclui Castro.
A exposição “Murilo Mendes, poeta crítico: o infinito íntimo” fica em cartaz na sala Milú Villela do MAM São Paulo até 28 de janeiro de 2024.