Versatilidade é a palavra que define o programa que o Octeto Feminino do Brasil apresenta no Teatro Paschoal Carlos Magno, nesta sexta-feira, 28, às 20h, com entrada gratuita, em mais uma atração do 34º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga. O grupo camerístico une trompistas brasileiras de diferentes partes do país e traz para o público alguns clássicos da música brasileira de grandes compositores nacionais, como Waldir Azevedo, Camargo Guarnieri, Tom Jobim e Villa-Lobos, além de obras dedicadas ao próprio grupo, que tem conquistado o apoio e a admiração de autores nacionais por seu trabalho singular no país, e uma coletânea de hits de pagode em arranjo para trompas.
O octeto surgiu em plena pandemia de Covid-19, em maio de 2020, por iniciativa da trompista Paula Graziele Guimarães, que já planejava criar um grupo feminino para se apresentar no Encontro da Associação de Trompistas do Brasil, previsto para acontecer em setembro daquele ano. No entanto, devido ao cancelamento do evento, a estreia aconteceu de forma remota, com a produção de um vídeo. Apesar desse início atribulado, o Octeto Feminino do Brasil conquistou rapidamente um espaço no cenário musical brasileiro, investindo na produção audiovisual com uma equipe própria de edição, tendo no YouTube e Instagram como principais meios de divulgação.
Ainda durante a pandemia, o grupo fez parte da organização e produção do I Festival Internacional Online de Música Sopra Metais 2020 e hoje é uma formação emergente que já se tornou importante referência para mulheres trompistas no meio acadêmico e profissional do país. “Estamos muito felizes por essa participação”, afirma Waleska Beltrami, uma de suas integrantes.
“Nossa história começa na pandemia e desde então trabalhamos bastante para que o grupo tenha a visibilidade que merece pela sua importância musical e social. De certa forma, temos tido pequenos ganhos por meio de parcerias e editais. Recentemente lançamos nosso primeiro single com uma das obras do programa. Participar do festival nos mostra que estamos no caminho certo e nos permite fortalecer nosso trabalho e ampliar contato com público.”
Desejo
Sobre a diversidade do programa escolhido para a apresentação no festival juiz-forano, Waleska explica que o Octeto sempre procura alinhar seus gostos e desejos musicais com a intenção de aproximar o público do instrumento. “A trompa ainda é um instrumento muito pouco conhecido, e, por essa razão, um programa formado por obras que permitam essa familiaridade tem mais chance de sucesso.”
A apresentação começa em alto astral com “Brasileirinho”, composição de Waldir Azevedo com arranjos de Fernando Morais. Composto em 1947 e lançado em 1949, tornou-se uma das obras mais conhecidas da música brasileira, praticamente um hino nacional popular, incontáveis vezes tocado em ocasiões especiais, como a cerimônia de abertura dos Jogos Pan-americanos de 2007, no Rio de Janeiro. Waldir Azevedo, um dos maiores nomes do choro, foi um grande mestre do cavaquinho e por essa razão ousou dar destaque ao instrumento, utilizando-o solo pela primeira vez em uma música. “Essa adaptação para octeto de trompas, feita pelo trompista Fernando Morais, exibe seu profundo conhecimento da trompa, assim como confere ao arranjo grande idiomatismo, apesar da exigência técnica.”
Na sequência, o grupo apresenta “Octeto#1”, composta por Gilson Santos, trompetista, compositor e arranjador dedicado sobretudo à escrita para trompete e instrumentos de metal. Composta em 2021, Octeto #1 foi dedicada ao trompista Philip Doyle, em homenagem aos professores Antonio Augusto e Daniel Havens. “Dividida em três movimentos, a obra propõe ao ouvinte timbres, texturas e cenários musicais bastante diferentes entre si, através da exploração de diferentes técnicas do instrumento, revelando-se um grande desafio tanto para cada trompista quanto para o conjunto”, descreve Waleska.
De Heitor Villa-Lobos, o grupo apresenta o “Prelúdio das Bachianas Brasileiras nº 4”, de sua série de obras em homenagem ao compositor alemão Johann Sebastian Bach. Originalmente escrita para piano em quatro movimentos, Prelúdio, Coral, Ária e Dança, a obra ganhou arranjo para octeto de trompas escrito pelo trompista, maestro e arranjador Sergio Gomes. “Nessa versão, o arranjador utiliza de todo o registro da trompa, revelando a densidade da música e uma bela condução melódica.”
Em 1946, durante uma visita à Bahia, o compositor Mozart Camargo Guarnieri assistiu a uma cerimônia de candomblé que o inspirou a compor a “Dança Negra”, obra em que o compositor reproduz efeitos sonoros e rítmicos que remetem a sua experiência durante o ritual. Também originalmente escrita para piano, a composição foi transcrita e dedicada ao Octeto Feminino do Brasil por Marcos Klein.
Homenagens
O programa apresenta ainda a composição “Ligando as Trompas”, dedicada ao Octeto pela baixista e compositora Gê Côrtes. “Nesse baião, a compositora inclui efeitos percussivos utilizando o corpo do instrumento e lança mão de um recurso musical muito comum na esfera da música popular, um improviso aberto para duas vozes diferentes no meio da obra, mostrando mais uma vez a versatilidade da trompa”, explica Waleska. Na sequência, outra homenagem ao grupo é “New Age is Coming”, de autoria do trompista e compositor Alessandro Jeremias, que se viu inspirado pela criação do grupo durante a pandemia. O título carrega uma mensagem de esperança pela chegada de novos tempos, “além de remeter à estética do movimento “New Age”, das décadas de 1970 e 1980”.
Música brasileira que se mantém no posto de a mais gravada de todos os tempos, “Garota de Ipanema”, composição de Tom Jobim com letra de Vinicius de Moraes, ganhou uma versão para oito trompas em arranjo de Fernando Morais. “O arranjo desafiador exibe todo o conhecimento de Morais sobre o instrumento e revela seu bom gosto musical através de uma escrita leve e característica do movimento da Bossa Nova.”
O programa se encerra com “Pagode das Oito”. A pedido do Octeto Feminino, o clarinetista e arranjador César Bonan escreveu uma coletânea de pagodes formada pelas músicas “Coração Radiante” e “Tá escrito” (ambas do Grupo Revelação), “Essa tal Liberdade” (Só pra Contrariar) e “Cheia de Manias” (Raça Negra). “Favorável ao momento, esse arranjo finaliza o concerto buscando maior interação com o público através de sua escrita criativa e irreverente”, conclui a instrumentista.
Entrada franca
O Teatro Paschoal Carlos Magno fica localizado à Rua Gilberto de Alencar, s/n – Centro – Juiz de Fora, MG. A entrada é franca e não há distribuição de ingressos. Todos os concertos noturnos do Festival são precedidos de palestras ministradas pelo professor do Departamento de Música da UFJF, Rodolfo Valverde, com início às 19h, nos mesmos locais das apresentações. Com exceção do dia 30 de julho, em que a palestra ocorre às 18h.
Programa
Brasileirinho (1947) – Waldir Azevedo (1923-1980)/arr. Fernando Morais (1966)
Octeto #1 (2021) – Gilson Santos (1977)
Mov. – Allegro
Mov. – Adagio
Mov. – Danza
Bachianas Brasileiras n.4 (1930/1942) – Heitor Villa-Lobos (1887-1959)/Arr. Sérgio Gomes (1960)
Preludio
Dança Negra (1946) – Mozart Camargo Guarnieri (1907-1993)/Transcrição Marcos Klein (2000)
Ligando as Trompas (2021) – Gê Côrtes (1959)
New Age is Coming(2021) – Alessandro Jeremias (1986)
Garota de Ipanema (1962) – T. Jobim (1927-1994)/Vinícius de Moraes (1913-1980)/Arr. Fernando Morais (1966)
Pagode das Oito (2023) – Seleção – Autores variados/Arr. César Bonan (1988)
Coração radiante
Tá escrito
Essa tal liberdade
Cheia de Manias
Integrantes -Trompas
Jessica Vicente, Josely Saldanha, Paula de Campos, Priscila Viana, Tayanne Sepúlveda, Waleska Beltrami, Gabriela Sá e Jaqueline Louzada.
Outras informações
Pró-Reitoria de Cultura – (32) 2102 – 3964