Considerado o maior nome do cravo no Brasil atualmente, o juiz-forano Bruno Procópio é a atração do 34º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga na noite desta quinta-feira, 27, às 20h, na Capela da Academia do Comércio de Juiz de Fora, com entrada gratuita. Radicado na França há décadas, onde desenvolve uma aclamada carreira internacional como solista e diretor de orquestra, o cravista apresenta o concerto “Le Clavecin des Lumières”, com obras de Jean-Henri d’Anglebert, Jean-Philippe Rameau, Jean-Baptiste Forqueray e François Couperin.

Considerado o maior nome do cravo no Brasil, o juiz-forano Bruno Procópio, radicado na França, apresenta o concerto “Le Clavecin des Lumières” (Foto: Divulgação)

Os quatro são expoentes da chamada escola francesa de cravo, que identificaria um estilo próprio bem estabelecido, caracterizado por um tipo de escrita e uma ornamentação particular. Jacques Champion de Chambonnières (cerca de 1601-1672) é considerado o fundador dessa escola, pois foi o primeiro a deixar para a posteridade um conjunto de peças para o instrumento – a produção de cravistas na França data do final da Idade Média, mas sua produção musical não chegou ao conhecimento atual.

As primeiras composições específicas para cravo na França surgem por volta de 1660, mas é apenas no início do século seguinte que despontam as duas grandes figuras do instrumento, Couperin e Rameau, que irão impor a toda a Europa o estilo francês pelos 30 anos seguintes. Os quatro volumes de ”Peças para Cravo”, de Couperin, eram admirados por Bach. Um dos compositores franceses mais importantes do século XVIII, Rameau também influenciou a teoria musical, escrevendo um tratado sobre harmonia. Publicou suas Pièces de Clavecin, em 1724, e destacou-se também como autor de várias óperas. Os compositores são as principais referências de uma escola que, entretanto, foi rica e contou com ao menos três dezenas de compositores, cujo trabalho vem sendo redescoberto e reabilitado. 

O declínio acontece sob a emergência das Luzes, tempo de mudanças culturais e sociais, em que a sutileza do instrumento e o ambiente intimista das apresentações de cravo não atendem mais às demandas da época. O fim dessa escola é simbolicamente delimitado pela Revolução Francesa (1789), época em que muitos cravos foram queimados por terem sido considerados emblemas da cultura sob o Antigo Regime. A partir de 1760, o instrumento já sofre a concorrência do pianoforte, valorizado pela burguesia ascendente, e sai de cena na Revolução. As ideias iluministas provocaram uma evolução estética, acompanhada também por transformações técnicas dos instrumentos de teclado que conduziram ao pianoforte. 

Além dos dois nomes mais conhecidos da época, François Couperin e Jean-Philippe Rameau, que produziram suas obras em um contexto riquíssimo e de excelentes músicos, o recital de Bruno Procópio inclui composições de Jean-Henri d’Anglebert (1629-1691), que sucedeu Chambonnières como Ordinaire de la Musique de la Chambre du Roy para o cravo e passou três décadas servindo ao Rei Sol. Outro compositor no programa é Jean-Baptiste Forqueray, músico de extraordinária habilidade que se destacou na corte francesa e foi nomeado para o invejável cargo de músico de Câmara do Rei (Luís XV). 

Vida musical
“Com imenso prazer, recebi o honroso convite da Universidade, por intermédio da soprano Rosana Orsini, para participar desta edição do prestigioso Festival de Música Colonial e Música Antiga de Juiz de Fora. Como juiz-forano, nutro um carinho especial por esse evento desde a infância, acompanhando atentamente a efervescência cultural e, em particular, a vida musical da cidade”, relata o cravista. 

“Parte desde interesse que tenho veio pelo olhar crítico e entusiasmado de minha avó Helena Bittencourt, que, além de radialista e vereadora, foi secretária de Cultura, deixando um legado inestimável, pelo menos em mim”, acrescenta. Ele também atribui ao maestro Domício Procópio, seu tio, “significativa influência” em sua paixão pela música, graças a seu trabalho à frente de eventos de apresentações de coros e festivais. 

Ao avaliar o papel do Festival de Música Colonial Brasileira e Música Antiga em sua formação, o cravista observa que o evento lhe proporcionou a “oportunidade ímpar” de conhecer e aprender com os maiores mestres da música barroca, entre eles, Jacques Ogg, Edmundo Hora e Cristiano Holtz. “Além disso, é notável a formação e o impulso dado a toda uma geração de músicos talentosos, como Pedro Couri Neto, João Guilherme Figueiredo e Luís Otavio Santos” – este último, um de seus criadores em 1990 e seu diretor por muitos anos.

Artista conjuga uma aclamada carreira internacional com um raro domínio no ramo da produção cultural (Foto: Divulgação)

“Minha experiência acadêmica na França, que se iniciou na década de 90, revelou que Juiz de Fora era reconhecida internacionalmente graças à grandiosidade desse Festival”, ressalta o cravista, que considera o evento um patrimônio cultural internacional. “Ao fazer um paralelo com a França, percebo que um evento com tamanha tradição, como o Festival de Música Colonial e Música Antiga de Juiz de Fora, pode e deve ser um dos principais motores de promoção da cidade e da região”, afirma, lembrando que a presença de teatros de qualidade e uma expressiva população, além da proximidade com duas das maiores capitais do país, proporcionam à cidade o perfil ideal para abrigar eventos desse porte. “Cidades como Toulouse, na França, investem em seus teatros e orquestras, atraindo um público significativo e enriquecendo a oferta cultural para seus habitantes”, exemplifica.

“O Brasil, por meio de suas leis de incentivo, tem o poder de alcançar uma parcela da população que ainda não teve o privilégio de apreciar bons concertos, óperas e espetáculos. Não podemos esquecer do Museu Mariano Procópio, que abriga uma parte relevante do acervo colonial brasileiro, proporcionando uma bela história de tradição e cultura que pode ser contada através de eventos como o Festival”, ressalta. 

“Ao longo de minha carreira sólida como cravista, maestro e agente cultural, como proprietário de selo discográfico e de mídia, diretor da Jovem Orquestra Rameau e organizador de festivais, almejo fervorosamente ter a oportunidade de, no futuro, levar toda essa experiência de volta à minha cidade natal. É gratificante pensar que contribuir para o crescimento cultural de Juiz de Fora será o cumprimento de um ciclo importante em minha trajetória artística e pessoal”, conclui Bruno Procópio.

A Capela da Academia do Comércio de Juiz de Fora fica à Rua Halfeld, 1179 – Centro – Juiz de Fora, MG. A entrada franca e não há distribuição de ingressos. Todos os concertos noturnos do Festival são precedidos de palestras ministradas pelo professor do Departamento de Música da UFJF, Rodolfo Valverde, com início às 19h, nos mesmos locais das apresentações. Com exceção dos dias 30 de julho e 26 de agosto, em que a palestra ocorre às 18h.

Programa
Jean-Henri d’Anglebert, extraits de la Première Suite, Sol Majeur
. Prélude
. Allemande
. Courante
. Double de la Courante
. 2° Courante
. Sarabande
. Gigue
. Chaconne Rondeau

Rameau, extraits de pièces de clavecin en concerts et des Nouvelles Suites de Pièce de clavecin (1726/27)
. La Coulicam
. La Livri
. La Laborde
. La Boucon
. Les Tricotets
. L’Indifférente
. Menuet & 2° Menuet
. La Lapoplinière 

Jean-Baptiste Forqueray, extraits des suites transcrites
. La Forqueray
. La Portugaise
. La Régente

François Couperin, extraits variés 
. Les Sylvains
. Troisième Prélude
. Les Grâces Incomparables ou La Conti
. L’Himen-Amour
. La Manon
. La Garnier
. Cinquième Prélude 

Bruno Procópio (BRA/FRA) – cravo
Cravista e maestro, detentor de uma sólida formação junto do Conservatoire National Supérieur de Musique et Danse de Paris, o artista conjuga uma aclamada carreira internacional com um raro domínio no ramo da produção cultural. Bruno Procópio foi aluno do Pierre Hantaï, Christophe Rousset, Kenneth Weiss et Blandine Rannou. Fundou o selo discográfico Paraty, hoje com 500 discos no catálogo e com distribuição mundial pela PIAS-Universal, bem como a Jovem Orquestra Rameau, que recebeu já em sua primeira gravação o prêmio de melhor disco do ano na Espanha pela revista especializada Scherzo. Também criou o Festival Ventoux-Terre des Arts no sul da França. 

Bruno Procópio é sócio da classiquenews.com, mídia francesa especializada em música clássica. Atuou como regente e diretor de projetos para o CMBV – Centro de Música Barroca de Versalhes, junto das mais emblemáticas orquestras e instituições no Brasil. Como maestro ao cravo, regeu em importantes teatros e festivais como o “Edinburgh International Festival”, Cheltenham Festival (UK), Semana de Música Religiosa de Cuenca (Espanha), Bozar (Bruxelas), “Les Folles Journées” (Nantes, França), “La Chaise-Dieu” (France), Simón Bolívar Hall (Caracas e Mexico), “Théâtre des Champs-Élysées”, Catedral dos Invalides (Paris), Grande Auditório da Fundação Gulbenkian (Lisboa), Grande Auditório do Centro Cultural de Belém (Lisboa). 

Realizou turnês de concertos na China, Índia, Irã, Chile, Espanha, México, Indonésia, dentre outros países.  Bruno Procópio regeu grandes formações sinfônicas nos últimos dez anos: El Sistema da Venezuela (Orquesta Sinfónica Simón Bolívar e Orquestra Barroca Simón Bolívar que ajudou a criar junto ao Sistema), Orquestra Sinfônica Brasileira, Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP), Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, Orquestra da Ópera de Manaus, Orquesta Nacional de Costa Rica, Orchestre National des Pays de Loire, Orchestre National d’Auvergne, Orchestre Lamoureux, Chœur et Orchestre Les Siècles, Orchestre Philharmonique Royal de Liège, Orchestre des Pays de Savoie, Orquestas de la UNAM (México), dentre outras formações sinfônicas e vocais. 

Gravou para a Paraty as Variações Goldberg, a integral das Partitas de Bach, a integral da sonatas para viola da gamba e cravo de Bach, um disco dedicado a François Couperin, a integral das Sonatas Württemberg do CPE Bach, dois discos dedicados a Rameau, um dos quais com a Orquesta Sinfónica Simón Bolívar, intitulado “Rameau in Caracas”, merecedor de inúmeros prêmios internacionais como CHOC da revista francesa Classica, e dois discos dedicados ao compositor luso-brasileiro Marcos Portugal. Gravou recentemente o disco “Guerra e Paz” com a Jovem Orquestra Rameau. Seus projetos discográficos receberam inúmeros prêmios e críticas internacionais como CHOC de Classica, 5 Diapason, melhor disco do ano pela revista Fanfare nos USA, melhor disco da semana pela Radio Classic FM em Londres, melhor disco do ano pela revista Scherzo na Espanha, entre outros prêmios. Como produtor ganhou as Victoire de la Musique Classique na França em 2010, com o melhor disco do ano. www.brunoprocopio.com 

Outras informações
Pró-Reitoria de Cultura – (32) 2102 – 3964